Nido Campolongo

Design

Artista cria luminária sofisticada a partir de materiais de demolição encontrados em caçambas

Luan Galani
06/10/2022 12:33
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Luminária Trio, por Nido Campolongo, para Ideally Iluminação

O artista do papel. Assim é conhecido o respeitado artista plástico, designer e cenógrafo Nido Campolongo. Mas esse apelido não faz mais jus ao paulistano de 63 anos. Ele por muito tempo utilizou como principal matéria-prima o papel e o papelão, mas não se prende mais a esse rótulo. O artista, reconhecido por sua produção sofisticada e ampla pesquisa de materiais que já dura mais de 40 anos, gosta de experimentar tudo que encontra pela frente e, de preferência, as coisas descartadas pelos outros. Onde alguns veem lixo, ele vê material de criação. Foi assim que ele conseguiu levar suas mesas, cadeiras e luminárias para todo o Brasil e a Europa.
Recentemente, a convite da produtora cultural Consuelo Cornelsen, para a Ideally Iluminação, Nido esteve em Curitiba para lançar sua mais nova criação. A luminária Trio, feita com papel parafinado combinado com materiais de demolição ou descarte. Com uma única base, feita a partir de janelas e gavetas de madeira encontradas em caçambas de São Paulo, a cúpula pode adquirir diferentes formas, à gosto do freguês, valorizando a interatividade e o lúdico. É uma peça com tiragem limitada e exclusiva.
HAUS aproveitou a oportunidade e fez uma entrevista com Nido sobre sua vida, obra e projetos futuros. Confira!

Como foi o convite para esseprojeto e quais foram as primeiras ideias que você teve para essa nova peça?

Eu conheci a Consuelo em uma instalação que fiz em São Paulo, que é uma
obra permanente que está instalada no Conjunto Nacional, um espaço de
arquitetura importante. A partir dessa visita, em que eu falo muito de
materiais, porque eu tenho relação forte com a matéria. Gosto de construir a
matéria. A partir da matéria faço design em que aproveito aquilo para trabalhar
as virtudes dela para outro produto e até arquitetura. Isso despertou nela o
interesse de me chamar para esse projeto. E é um trabalho que eu tenho com o
papel há muito tempo...

É como você é conhecido: artistado papel.

Isso. Exatamente. Tem a expectativa pelo papel. Mas eu quero mudar também. Eu tenho essa curiosidade de quando descubro algo novo. Descobri a palhinha indiana que é celulose, é papel. É celulose pura. Então a origem da celulose é a madeira, é uma tira do papel, que dobram e fazem bem fininho. Pronto achei o material que eu gosto. Expectativa da Consuelo está contemplada. E vendo minha irmã trabalhar, que também é artista e trabalha com a seda, eu não quis o papel puro porque não traria tanta longevidade. Fiquei encantado com a nova possibilidade. É uma peça que pedia esse novo material. Agregado à palha, tem uma resistência muito maior. Se eu fizer junção com a seda, vou chegar em um tom âmbar que eu amo. Deu certo!
Detalhe da luminária Trio
Detalhe da luminária Trio

Por que você preferiu esse tomde âmbar?

Porque é quente. Tenho aflição com tons frios. Se me falar para entrar
em uma farmácia à noite, eu não entro. Tenho um tipo de fotofobia, eu acho,
digamos. É mais acolhedor o tom âmbar. O que me encanta é ver as casas com a
luz amarela, quente, as janelas. Vejo, viajando, uma casinha mais bucólica com
esse tom. Isso me encanta!

E a questão da coautoria, depermitir a interação com o usuário da peça?

Gosto desse design interativo, de envolver a pessoa na construção. É uma tarefa difícil. As pessoas, em geral, preferem peças prontas. Mas é uma possibilidade. Tem um manual que te ensina a montar várias formas. Eu sugiro três maneiras, mas a pessoa pode montar como preferir. Por isso chamo de Trio. Mas também tem essa forma que chamo de Pouso, uma forma independente. Assim como as máscaras que faço: as turtle masks, formas que me lembram as tartarugas marinhas. Pouso nasceu assim, de uma ideia de assentar.
Nido e a luminário Trio no formato Pouso
Nido e a luminário Trio no formato Pouso

Uma provocação para você: um dos diretores do prêmio alemão iF certa vez escreveu para nós que o design brasileiro é maximalista. Qual a sua opinião?

No design de produto, existem várias linhas, vários tipos de construção.
Isso é de uma geração mais jovem, que vem com algo minimalista. Mas nós temos
uma relação diferente. É uma geração mais maximalista mesmo. Sérgio Rodrigues e
Zalszupin exploram bastante a madeira e tem isso. É diferente do metal, mais
puro, que leva para algo mais minimalista. Por outro lado, acho que a relação
entre sustentabilidade e design não tem como ignorar. A minha luminária é de
madeira residual imbuia, a base. Pela base ela é minimalista, mas depois é
artesanal com um corpo mais cheio. O nosso design não pode ser classificado. É
tudo misturado. E é tão brasileiro isso. É de diversidade. Classificar em um só
lugar é perigoso.

E a sua experimentação com osmateriais? O papel ainda é seu favorito?

Trago elementos do papel para a arquitetura. Faço cenografia com papel e papelão. Mas sou muito curioso e venho mudando. Agora estou concentrando em resíduos, como de plástico, celulose, terra, lâmpadas fluorescentes, tecidos, entre outros. Isso é importante para mim. O ideal seria ter menos resíduo. Mas sempre vai existir. Precisamos, então, valorizar o resíduo para evitar que isso seja descartado.
Instalação com papelão para SOS Mata Atlântica em 2009 por Nido Campolongo
Instalação com papelão para SOS Mata Atlântica em 2009 por Nido Campolongo

Agora olhando para aarquitetura. Muitos falam da taipa. E ela é isso também, um resíduo. O que vocêacha?

Desenvolvo um trabalho de taipa urbana. Já trabalhei com oficinas e pessoal de Itaquera, da periferia de São Paulo, mostrando a possibilidade de construir com terra e madeira residual, trazendo resíduo da indústria de papel. É algo urbano, com a terra, vernacular, para construção. Vou construir umas cabanas na minha chácara, no interior de São Paulo, e uma delas será de taipa. São três metros de diâmetro, inspirada na arquitetura xinguana depois que voltei da Amazônia. Gosto de misturar elementos vernaculares com características urbanas. Então a ideia é essa, incentivar, observar o que tem perto de você, trabalhar a cultura do local, aproveitar as pessoas do local.

E como você começou no design ena arte?

Vim de uma tipografia, que era do meu pai, tive contato com papel, artesanato, meu pai era tipógrafo e eu ficava com ele. Era operário de uma indústria gráfica e depois montou a própria oficina. Tive contato com o gráfico, com encadernação. Tinha muito papel e muito resíduo. Com quatro, cinco anos, eu e minha irmã ficávamos soltando papel para levar para reciclagem. Assim que comecei.
Mesa Cone por Nido Campolongo também com tiragem limitada
Mesa Cone por Nido Campolongo também com tiragem limitada

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