Estilo & Cultura

Artesanato se fortalece no fim do ano; conheça histórias das mãos que fazem o Natal de Curitiba

Aléxia Saraiva
24/12/2018 09:52
Thumbnail

As irmãs Suely e Sirlei Duim, da barraca Caminhos da Arte, pintam presépios feitos em gesso marmorizado e participam da Feirinha da Praça Osório há 10 anos. Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo

O mês é junho. Enquanto nas ruas dominam as bandeirinhas e balões de São João, as irmãs Rosângela e Rosana Cavichiolo já pensam em guirlandas, renas e trenós. O calendário adiantado é prática entre os artesãos que concentram no Natal o foco de sua produção — e que, por isso, faz a data extrapolar o mês de dezembro e durar o ano todo.
Rosângela e Rosana são sócias da Rosarte Produtos Artesanais, e desde 2005 fazem a mão uma variedade de itens de decoração, tais como bonecos de tecido, pingentes, e outros tipos de enfeites natalinos. Um passeio pela Feira Especial de Natal da Praça Osório é suficiente para conhecê-las — afinal, marcam presença no evento há seis anos —, mas elas também expandem o trabalho como fornecedoras para lojistas.
Feira Especial de Natal da Osório em 2018 tem 61 barracas, das quais metade são destinadas à decoração natalina. Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Feira Especial de Natal da Osório em 2018 tem 61 barracas, das quais metade são destinadas à decoração natalina. Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
“No meio do ano a gente começa a criar os modelos. A compra de tecidos e materiais começa bem antes — ainda no verão, quando é mais barato”, explica Rosângela. No segundo semestre é quando a produção acontece, costurando Papais Noéis de muitos tamanhos e para diferentes cantos da casa.
Irmãs Cavichiolo trabalham com técnicas de costura e produzem principalmente anjos, bonecos de neve e papai noéis. Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Irmãs Cavichiolo trabalham com técnicas de costura e produzem principalmente anjos, bonecos de neve e papai noéis. Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Rosângela é formada em administração e saiu do emprego de gerente de uma rede de postos de gasolina para apostar no plano B e se dedicar aos trabalhos manuais. “Queria fazer voo solo”, conta. À época, quando começaram, a produção do Natal segurava as finanças do ano todo. Hoje, dependem também da venda paralela de produtos atemporais.

Na Osório

A edição de Natal da “feirinha da Osório” em 2018 concentrou 61 barracas e 120 expositores. Uma pequena amostra da produção da cidade, mas longe de ser uma versão miniatura da Feira do Largo da Ordem. Apesar ter alguns expositores em comum com a prima maior, a Osório concentra muitos artesãos que, como as irmãs Cavichiolo, preferem trabalhar em menor escala.
As feiras, que acontecem quatro vezes ao ano — uma por estação, cada uma guiada por um tema, como Páscoa e primavera —, são organizadas pelo Instituto Municipal de Turismo (IMT), órgão da prefeitura de Curitiba, através de um processo seletivo que avalia e dá nota a todos os candidatos. Marily Pires Lessnau, coordenadora das feiras de arte e artesanato do IMT, explica que o processo tem como norte a pluralidade. “Alguns dos critérios que são levados em consideração são a sua característica artesanal, a qualidade do produto, a criatividade e as cores”.
Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
A comissão montada para avaliação também integra diferentes instituições. “Geralmente tem gente da Fundação Cultural de Curitiba, da Feira do Largo, do IMT e de associações de artesãos”, explica Marily.
O edital é lançado dois meses antes do início do evento. Após aprovados, o trabalho pesado continua. “A feira acontece 12 horas por dia durante 30 dias. Dificilmente os artesãos entram com a produção do mês inteiro, então eles se revezam para poder também produzir nesse período”. Ela estima que, no total, 200 pessoas trabalham diariamente na feira.

Guinada ao design

Apesar de Curitiba ter um braço do turismo apoiado nas feiras de artesanato — a Feira do Largo da Ordem chega a receber 25 mil pessoas em um único domingo, por exemplo —, ainda há muito espaço para a arte ser aprimorada. Segundo Loire Nissen, presidente da Cooperativa dos Artesãos Empreendedores do Paraná, Curitiba é uma cidade fértil para área, mas falta identidade para fazer o artesanato crescer. Isso vem de uma ideia errônea de que artesanato e “feito a mão” são sinônimos. “O artesanato representa cultura ou material locais, O trabalho manual não necessariamente”, esclarece. “Falta uma refinação e uma repaginação do que é ofertado, saindo do tradicional”.
Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo
Para ela, a valorização deste tipo de trabalho já acontece quando as técnicas manuais são emprestadas à grifes de luxo. Para ela, é fundamental deixar de lado o pensamento de que o artesanato não é um produto de qualidade. “Curitiba é uma cidade inovadora, com uma indústria criativa muito expressiva. Culturalmente falando, é muito poderosa. Por isso, fazer uma reflexão sobre o seu produto tem tudo a ver com o contexto”.

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!