Uma loja que testemunhou a queda do Império no Brasil e que ajudou a escrever a história do comércio de rua de Curitiba. Esta é a Glaser Presentes, endereço tradicional do centro da capital para quem busca presentes finos e utensílios para a casa.

Localizada na esquina das ruas Comendador Araújo e Visconde do Rio Branco, a imponente edificação que abriga a loja deixa evidente o caráter centenário da empresa, que celebra 130 anos de funcionamento ininterrupto em 2017 e está sob a administração da quarta geração da família Glaser.

Toda essa longevidade, no entanto, não seria possível sem uma ajudinha do destino, que fez com que o ainda garoto Wenceslau Glaser, que mais tarde fundaria a empresa homônima, aportasse no Brasil em 1870, e não nos Estados Unidos, que eram o destino inicial de sua família.

“Meu avô veio com os pais da Áustria com destino a São Francisco, na Califórnia. Mas acabou chegando a São Francisco do Sul, em Santa Catarina”, conta Mario Fernando Glaser, diretor comercial da Glaser Presentes. “De lá, ele foi subindo e se instalou em Curitiba, onde, com 27 anos, fundou a loja”, acrescenta.

O comércio, localizado na então Rua Mato Grosso (atual Comendador Araújo, que era a principal saída de Curitiba para o interior do Paraná), era especializado no ramo de secos e molhados.

“Pela manhã, um funcionário passava nas casas dos clientes para saber do que cada um precisava naquele dia. Os pacotes, então, eram preparados e entregues durante a tarde. Era como o delivery de hoje em dia”, brinca Mario.

Ferragens, vidros para janelas e artigos para pintura também constavam na lista de produtos comercializados na loja, que no início do século 20 passou a oferecer também os cristais importados da Áustria pelo senhor Wenceslau.

Com a prosperidade do negócio, em 1914 o fundador da Glaser pôs abaixo a antiga construção que abrigava a loja e ergueu o atual edifício de dois pavimentos com ares neoclássicos.

“Todo o andar superior passou a ser a casa da família e a loja foi mantida na parte de baixo. Esses ferros [fixados nas laterais do prédio] são originais desta época e era neles que os clientes amarravam seus burros e cavalos”, conta Bianca Emanuelle Glaser Vidal Pinto, diretora-geral da Glaser Presentes e quarta geração à frente da loja.

O falecimento do senhor Wenceslau, em 1936, e a inclusão de seus filhos e netos no negócio fizeram com que o nome da loja fosse modificado por diversas vezes ao longo dos anos, mas sem que o comércio perdesse sua essência, caracterizada especialmente pela venda de peças de cristal.

A mudança mais significativa ocorreu em 2001, quando teve início a construção do Centro Empresarial e da Galeria Glaser. O complexo conta com 186 conjuntos comerciais, três pavimentos de estacionamento subterrâneo e 20 lojas, entre as quais está a Glaser Presentes.

Neste período, também houve a cisão da antiga Glaser Ferragens e Cristais Ltda., então administrada pelos irmãos Mario Fernando e José Haroldo Glaser, netos do senhor Wenceslau. O comércio de ferragens, então, foi fechado, sendo mantida somente a loja de presentes e utilidades para o lar.

A loja mantém clientes fiéis, que repassaram o hábito de comprar na Glaser para filhos e netos. Para conquistar os novos compradores e se destacar perante a crescente concorrência, ela vem investindo em tecnologia para o controle do estoque e no relacionamento digital com a clientela.

“Nós automatizamos o controle das mercadorias em estoque e criamos o e-commerce. Esse foi um movimento inevitável, pois a loja tinha que se modernizar”, explica Bianca.

Mesmo com todas as recentes mudanças, a Glaser Presentes não deixou de lado a tradição na oferta de produtos e utensílios finos para a casa. Nas prateleiras, é possível encontrar de porta-retratos e panelas a aparelhos de jantar, além dos delicados cristais. A loja ainda trabalha com listas de casamento, chá de panela e chá bar, e atende clientes corporativos.