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Feira de Milão 2023

Marca brasileira leva pixo a Milão e rediscute a arte na Semana de Design

Sharon Abdalla
17/04/2023 14:20
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A bailarina Naia Rosa apresenta o Pixocarpet, parceria da A Lot of Brasil com a Tapete São Carlos | Paulo Mancini

Quando você pensa em design brasileiro, qual a primeira palavra que vem à mente? Para muitos, a resposta é madeira, cores ou trabalho artesanal - todas corretas, vale destacar. Mas uma das marcas de maior renome no país, e também fora dele, trouxe outros Brasis para a Semana de Design de Milão - o maior e mais importante evento do setor a nível mundial. Um Brasil originário, do "tempo das cavernas", e outro contemporâneo, da vida urbana (e de todas as benesses e agruras que dela partem), representada pelo pixo, tema controverso e polêmico.
Com a coleção Ancestralidade, o designer Pedro Franco, à frente da A Lot of Brasil, apresenta a partir da próxima terça-feira (18), no Salone del Mobile, cadeiras, mesas e tapetes inspirados na junção das pinturas rupestres, especialmente dos localizados na Serra da Capivara (PI), e do pixo, tão comum às grandes cidades brasileiras.
"É preciso separar a qualidade estética do pixo do contexto vandalismo. No início da década de 1980, o pixo e o grafite andavam de mãos dadas. Formas de expressão urbanas, proibidas e, consequentemente, tendo seus registros em locais underground'. O que mudou com o contexto do grafite? Primeiramente o entendimento de que naquela expressão havia alguns grandes talentos com qualidade estética ímpar: Keith Harring, Os Gêmeos etc. Qual foi o passo seguinte? O convite para que tais registros fossem feitos em espaços nobres e, posteriormente, estivessem em exposições e galerias. O grafite não mudou, é o mesmo. O contexto que permite sua presença, sim, mudou. O pixo pode e deve passar por tal transição", avalia o designer.
Ao fazer essa análise, Franco destaca que pesquisadores e desenvolvedores de fontes [tipográficas] fazem pesquisas em solo brasileiro, referendando-se "em nossos 'rabiscos' originais e estéticos", mas frisa que não admira o pixo enquanto transgressão ou imposição em paredes alheias.
O artista do pixo Bruno "Loucuras" Rodrigues, que atuou em parceria com Pedro Franco no desenvolvimento da coleção.
O artista do pixo Bruno "Loucuras" Rodrigues, que atuou em parceria com Pedro Franco no desenvolvimento da coleção.
A junção do registro ancestral às formas contemporâneas, para o designer, se justifica por ambas representarem práticas adotadas por determinadas comunidades para marcarem sua existência enquanto sociedade - o que, no pixo, dá voz a uma camada da população cada vez mais "marginal e invisível".
"Tenho me incomodado muito com termos como “instagramável” e imersivo. A arte sendo vista como entretenimento, sabe? Basta ser “bonitinho” na tela do celular e ponto. Tal fenômeno está presente também no mundo da 'arte'. Obras e artistas replicando fórmulas de sucesso, de imagens bonitinhas, mas sem significado algum. [...] O papel da arte é levar à reflexão e não ao entretenimento", aponta.
"Sigo a premissa de minha trajetória, de que minhas peças de coleção, transcendam a função de uso e sejam uma plataforma de ativismo repleta de significado e que 'provoque' as pessoas de certa maneira", completa.
As cadeiras em aço da coleção Ancestralidade, por Pedro Franco para A Lot of Brasil.
As cadeiras em aço da coleção Ancestralidade, por Pedro Franco para A Lot of Brasil.

"Beleza é significado"

O mote que fundamenta a coleção Ancestralidade diz sobre essencialidade e apresenta formas oriundas de diversos campos de grafismos (indígena, cultura afro e dos índios). São peças executadas em aço com acabamento nas cores pretas ou inox.
Expostas no pavilhão 4 do Salone del Móbile, elas marcam a entrada da A Lot of Brasil na sua segunda década como expositora do evento, tendo sido a primeira empresa nacional a conseguir tal feito: expor ao lado de gigantes da indústria internacional.
Banco Origens, em parceria com a Granos, também integra a coleção
Banco Origens, em parceria com a Granos, também integra a coleção
"Apresentamos matérias-primas inéditas (como a injeção a partir de elementos orgânicos da cadeira esqueleto, que faz parte do museu de novos materiais do Vitra Schadeupot), levamos diversas micro regiões brasileiras a Milão (Cariri cearense, em 2017, e Jalapão, em 2018) e abrimos a porta para que outras indústrias brasileiras se encorajassem a estar presentes por lá. Meu compromisso é seguir firme na linha de pesquisa e criação de peças que transcendem a função de uso, provocativas e que tragam algo a mais para a sociedade", comenta Franco ao relembrar o passado e pensar sobre o futuro da A Lot of Brasil. "Enquanto houver espaço para um design experimental e conceitual, estaremos presentes", finaliza.

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