MDW 2023 demonstra por que a Itália é o berço do design

Sharon Abdalla e Fernanda Massarotto, especial para HAUS

08/05/2023 21:45

Instalação da Preciosa Lighting no Salão do Móvel de Milão | Diego Ravier/Courtesy Salone del Mobile.Milano

Ano após ano a Semana de Design de Milão demonstra ao mundo o que faz da Itália o berço e a principal indústria do setor. A regra valeu para 2023. Uma semana - tomada pelo Salone del Mobile.Milano e o Fuorisalone - foi pouco para que se pudesse conhecer, contemplar e se deixar tocar pelos produtos, pesquisas e soluções apresentadas por marcas e designers independentes em centenas de mostras e outros milhares (talvez milhões) de produtos que vão do mobiliário à iluminação, do escritório ao setor automotivo.

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Voltada para ambientes corporativos e hoteleiros, a Aria Infinita é composta por módulos e tem design assinado por Zaha Hadid Design.

Só no Salão do Móvel, evento âncora da MDW e o mais tradicional do design mundial, realizado na Rho Fiera Milano, foram mais de duas mil marcas expositoras, sendo 34% delas estrangeiras, de 37 países distintos. Além delas, mais 550 jovens designers de 31 países e 28 escolas do setor, de 18 nacionalidades, apresentaram ao mundo o que se pode esperar do futuro do design no Salone Satellite, idealizado por Marva Griffin Wilshire, mais conhecida como “la mamma”.

Estes números não parecem suficientes para constatar a grandiosidade e importância do evento? O que dizer, então, dos 307.418 visitantes que circularam pelos pavilhões da Rho, 15% a mais do que em 2022?

Como ocorria em anos pré-pandemia, os chineses voltaram em peso a Milão, sendo o primeiro país em número de visitantes depois da própria Itália. Da América Latina, o Brasil lidera a lista e era possível constatar o calor da brasilidade nas ruas, no metrô e, principalmente, nos estandes, mostras e lançamentos apresentados nos eventos milaneses.

Design brasileiro: por Érico Gondim, a poltrona Surucucu tem estrutura em madeira louro canela, detalhes em metal e “cobra” em carnaúba.

Design brasileiro: inspirado no semiárido da Caatinga, o banco Sertão, por Patrick Afornali, tem estrutura em madeira e detalhe em tufting, por Yala Fezer.

Design sustentável

Ir à Semana de Design de Milão é beber na fonte. Mesmo quem não acompanha a área não passa ileso ao apelo e à atratividade que um bom desenho (que une forma, função e estética) proporciona ou aos sentimentos que uma instalação em praça pública é capaz de gerar.

Já para quem atua, consome ou é simpatizante da área, estar na MDW é um deleite. Afinal, ali é possível conhecer grandes nomes e designs do passado, encontrar e trocar ideias com os gênios da atualidade, saber o que estão produzindo e sobre o que estão pensando, além de vislumbrar para aonde caminha o futuro do setor.

A Zanotta apresentou a extensão da linha Quaderna, com design de 1972 pelo Superstudio, com rack, espelho e buffet.

A contar pelo exposto em 2023, pode-se certamente vislumbrar um rumo mais sustentável. Este não é um tema novo (já havia aparecido com força na edição 2022), mas de tendência tornou-se realidade e premissa das gigantes do design mundial e do trabalho dos novos talentos, que ganharam corpo, visibilidade e se apresentam sem dever nada ao que é produzido pelos nomes mais conhecidos e reconhecidos.

Cadeira Eleganza, por Philippe Starck para Kartell, é produzida a partir de cápsulas de café da Illy e revestida com tecidos Missoni

Sustentabilidade: assinada pela italiana Krill Design, a Ohmie é a primeira luminária do mundo produzida totalmente a partir de cascas de laranja.

Os resíduos da produção do pendente Illan, um dos ícones da Luceplan, com design por Zsuzsanna Hovarth, dão forma à arandela, novidade da linha.

Sustentabilidade: a Magis trouxe a reedição da Air-chair, assinada por Jasper Morrison, em material reciclado de embalagens de alimentos.

Novos materiais (produzidos a partir de reciclagem, reuso e novas tecnologias - especialmente as de origem biológica), reutilização e soluções para o descarte menos poluente dos mobiliários foram vistos em praticamente todos os estandes e mostras. Assim como o uso de menos matéria-prima, que impacta significativamente na redução do consumo, especialmente quando se fala em iluminação.

Flavia Thumshirn assina para Ingo Maurer a luminária de piso Nuunu, com estrutura minimalista e cúpula em papel metalizado na cor dourada.

A mostra Euroluce, tradicionalmente bianual, mas que não era realizada há quatro anos por conta da pandemia de Covid-19, vestiu-se de negro para receber os expositores e deixar que os lançamentos brilhassem.

Pelos corredores, nomes consagrados do design contemporâneo e mestres como Ingo Maurer, falecido em 2019, apresentaram projetos com design limpo, racional, que levaram ao extremo a funcionalidade e a interação com a peça, além de permitirem diversidade de composições, para que cada projeto, cada usuário possa ter a sua luminária, o seu sistema de iluminação da maneira que desejar ou necessitar.

Luminária Black flag, da Flos, é extensível e alcança um grande raio de abertura. Design por Konstantin Greice.

Com acabamento em porcelana e estrutura em metal, os pendentes Fregio, por Andrea Anastasio para Foscarini

Tom Dixon volta à Euroluce e lança o pendente Puff, com corpo em chapas de metal cortadas e curvadas para o efeito inflado e nas cores prata e dourado.

De volta ao mobiliário, um terceiro ponto se destacou na Semana de Design: o acabamento metalizado. Ele apareceu fosco, polido, espelhado, em assinaturas estreantes ou consagradas, como a dos Irmãos Campana para a Louis Vuitton (na primeira MDW após a partida de Fernando, em novembro passado), como um chamado à modernidade e à racionalidade.

Design Brasileiro: única marca brasileira no pavilhão principal do Salone del Mobile, A Lot of Brasil, sob o comando de Pedro Franco, apresentou a poltrona Ancestral, em aço inox.

Poltrona Silver Vendicari Lido, por Jangir Maddadi para Cappellini, em edição limitada.

Efeito metalizado transforma em ‘espelho’ o buffet de Inga Sempè para Glas Italia.

Design brasileiro: estante Shelf, por Furf Design Studio para Esmo Design, em aço inoxidável e madeira muiracatiara.

Mas aí você se pergunta: e o conforto, o aconchego que vivemos durante a pandemia? Não persistiu? A resposta é sim, especialmente quando o assunto são os estofados. Eles seguem volumosos, aconchegantes, com revestimentos que proporcionam conforto ao toque e que mantêm tendências da edição passada da MDW, como o bouclé.

Sofá Melody, por Simone Bonanni Studio, tem cor vibrante, linhas orgânicas e possibilidade de composição.

Outra tendência conhecida e bastante presente foram as cores. Vibrantes, alegres e energizantes, elas apareceram do mobiliário à iluminação, tornando-se o ponto focal ou surgindo em detalhes sutis, em peças que vão do living ao dormitório, do banheiro ao jardim.

O icônico Puppy, da Magis, ganhou revestimento em veludo e duo de cores.

Mancebo Sciangai 50, por De Pas, D’Urbino e Lomazzi, foi reeditado em celebração ao aniversário de 50 anos do projeto, vencedor do Compasso d’Oro, em 1979.

Para a mesa Rainbow, a artista Vasa Mihich recuperou uma base em mármore desenhada por Maurizio Cattelan nos anos 1980 e a compôs com a resina em acrílico em faixas coloridas no tampo. O design foi desenvolvido para a Draga & Aurel.

Com o auxílio de Elisa e Fulvia, filhas de Alessandro Mendini, a Porro lançou três peças com desenhos inéditos do mestre do design italiano, em uma série limitada de 100 unidades.

Projeto conceitual da Natuzzi, a Green Rabbit tem forma ousada em projeto assinado pela tríade Giuliano Sangiorgi, Fabio Novembre e PJ Natuzzi.

Detalhe das cores nas bordas dos vidros que compõem a mesa-armário Mandarin, por Piero Lissoni para Glas Italia.

Venus atravessa a estante que leva seu nome com assinatura de Fábio Novembre para a Driade

Estes parágrafos são poucos para traduzir tudo o que foi - e tudo o que é - a Semana de Design de Milão. Mas resumem os principais temas e lançamentos que veremos ganhar os projetos de arquitetura e design de interiores no próximo ano.

Se você ficou com vontade de vivenciar a Milan Design Week, saiba que a próxima edição do Salone del Mobile.Milano já tem data marcada: de 16 a 21 de abril de 2024. Até lá!