Com certeza, você já ouviu falar de uma planta chamada Dama da Noite. Porém, se você pedir para as pessoas descreverem essa planta ou fizer uma pesquisa na internet, encontrará muitas variedades diferentes com esse nome popular.

Acontece que o nome “dama da noite” se refere ao hábito de uma planta de abrir suas flores no período noturno, o que se relaciona a uma grande gama de espécies com essa característica. Para reconhecer as mais comuns e identificar os diferentes tipos de Dama da Noite, nós pedimos a ajuda do doutor em Botânica Samuel Gonçalves.

Segundo o especialista, existem várias "damas da noite", sendo algumas delas encontradas com mais facilidade em jardins residenciais. A Dama da Noite mais conhecida no Brasil é um cacto com flores brancas "gigantescas". Essa é uma planta trepadeira, que forma lindas cascatas de ramos sobre os muros.

Pelo tamanho e beleza de suas flores, algumas pessoas também conhecem este tipo de Dama da Noite como cacto-orquídea. Sua espécie é Epiphyllum oxypetalum, tem ramos achatados, afilados nas pontas, e dá flores que se abrem ao final da noite, por volta de 23 horas. Geralmente, essas flores se fecham muito rapidamente. Ou seja, para ver essas belezas da natureza, é preciso atenção e prontidão assim que os botões começam a surgir.

A segunda Dama da Noite mais popular é a da família do tomate e da batata inglesa, chamada Solanaceae, da espécie Cestrum nocturnum. Essa planta produz uma infinidade de flores em cachos superperfumados, exalando um cheiro característico - e muito apreciado.

“Em alguns locais, como no interior de Minas Gerais, na cidade de Carmo do Cajuru, minha terra natal, conheci esta Dama da Noite como Chulé-de-São-José. No caso dessa planta em especial, o cheiro contém substâncias alucinógenas. Portanto, não é recomendado ter essa Dama da Noite plantada próxima a uma janela, a não ser que você não se incomode com sonhos um tanto quanto bizarros”, brinca o doutor em Botânica Samuel Gonçalves.

A terceira Dama da Noite mais popular no Brasil é a Murta de Cheiro (Murraya paniculata), da família Rutaceae, a mesma do limão, laranja e mexerica (bergamota ou tangerina). Ela produz flores muito semelhantes às das outras espécies, que também se abrem à noite, liberando um cheiro adocicado bastante inebriante.

“Há uma curiosidade sobre essa espécie. Ela foi proibida de ser cultivada no Estado de São Paulo por causa de um inseto parasita que a afeta e que pode também atacar as culturas de laranja. Mas é uma planta muito comum em Belo Horizonte, sendo bastante utilizada na arborização urbana, em calçadas”, comenta Gonçalves.

“A flor da Dama da Noite sofre de um fenômeno conhecido como nastismo. São movimentos não orientados das plantas, ou seja, que não dependem do sentido do estímulo. Para a Dama da Noite, especificamente, é a ausência de luz que atua na abertura das flores. Esse tipo de nastismo pode ser chamado de nictinastismo (nictis se refere à noite)”, explica o doutor em Botânica.

Mas o que a planta ganha com este hábito bastante peculiar? “Há vantagens em abrir flores à noite? Sim, pois existem os polinizadores noturnos, como mariposas e morcegos que se alimentam de néctar (nectarívoros). Estes animais visitam essas flores, gerando a polinização e, consequentemente, a formação de frutos e sementes, garantindo o sucesso reprodutivo dessas espécies de plantas”, ensina o especialista.

E como você deve ter observado, as flores da Dama da Noite são sempre brancas. Como os animais polinizadores têm baixa visão, esta é uma adaptação da planta para atraí-los, uma vez que a cor branca reflete mais a luz. Portanto, o mínimo de claridade já favorece a visão dos animais polinizadores, somando-se ao odor, que também é bastante atrativo.

Se você tem Dama da Noite em casa, a recomendação é fazer a poda especialmente após a floração. Isso pode ser feito no verão ou mesmo na primavera. Deste modo, a planta não irá crescer além da conta e as possibilidades de uma segunda floração ficam bem maiores.

Quanto à rega, a Dama da Noite gosta de água em abundância. Assim, a frequência de regas é de, no mínimo, três vezes por semana e, no máximo, cinco vezes por semana. Porém, não é necessário encharcar a terra. Seja em vaso ou em canteiros, o ideal é que o solo apresente grande vazão de água, justamente para a Dama da Noite não ficar "afogada". Além disso, é importante que a planta tenha contato com a luz do sol.