Gilberto Elkis fala com a Haus sobre paisagismo sensorial

Luan Galani
17/12/2015 00:00
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Renato Elkis/Divulgação.

Você teve várias profissões até chegar ao paisagismo. Como foi essa guinada?
Meu pai era médico imunologista e eu sempre estive próximo ao laboratório. Por isso sempre fui mais ligado às experiências. Enquanto na sala de aula cada um plantava o seu feijãozinho no algodão, eu plantei 50 em casa e fiz vários testes. Foi o primeiro contato com a mãe natureza. Mas me esqueci disso por um tempo. No terceiro ano da faculdade de administração, vi que não era isso que eu queria. Fui me aventurar. Fui modelo, tive restaurante de comida natural, fábrica de relógios promocionais, mas nada me encantava. Então fui para os Estados Unidos. Tive contato com o paisagismo, fiz estágio na empresa Evergreen e descobri o que eu queria.
Qual o segredo para passar esse prazer para os projetos?
Misturando tudo. Gosto da experiência de misturar materiais, plantas, colocar palmeiras tropicais em jardins clássicos, por exemplo. E tirar partido dos cinco sentidos com tudo que a mãe natureza nos proporciona. Você pega a planta, come o fruto, escuta o barulho da água, ouve o vento. É a interação e a degustação dos sentidos dentro de uma paisagem. Isso é latente em mim.
Você ainda enxerga uma escola genuinamente brasileira no paisagismo atual?
Burle Marx é uma escola de paisagismo. Do mesmo modo que existe a zen, a inglesa e a francesa, existe a escola tropical burlemarxiana. A nossa escola trabalha com formas orgânicas. Não foi ele quem inventou, mas foi ele que tirou as formas da natureza para o conteúdo de sua linguagem. E é bastante expressiva. Uma linguagem ainda reconhecida no mundo inteiro.
O brasileiro entende esse conceito de paisagismo? Em muitos casos, o desejo dos clientes por espaços com manutenção mínima engessa a criatividade e resume o projeto à grama e alguns arbustos.
O elo entre o homem e o macaco não se perdeu até hoje. É a natureza. E o brasileiro tá aprendendo a valorizar o verde da casa. E uma residência com paisagismo tem valor agregado muito maior. Além de ser um conforto psicológico importante, ainda mais hoje, em que existe trânsito em todo lugar. O inferno é geral. Então, chegar em casa e ter verde é relaxante, é confortável. Um antídoto contra o estresse. Mas se acontece isso que você descreveu, digo para a pessoa morar em prédio. Até a grama precisa de manutenção. O paisagismo é constituído de seres vivos. E seres vivos requerem manutenção. Da mesma forma que nós. Enfim, é uma cultura, uma mentalidade que tá evoluindo.
Você é um viajante inveterado. De que forma as suas idas e vindas influenciam na criação dos seus projetos?
Tudo está na observação. Eu observo muito. E amo viajar. Conheço quase o mundo inteiro. E tiro referências de texturas, cheiros, povos, culturas, comidas, objetos. Em Bali, na Indonésia, por exemplo, local pelo qual sou apaixonado, uma pedra me despertou a curiosidade. E foi a mesma pedra que o Ricardo Waquil, da Palimanan, trouxe e transformou o conceito de piscinas no Brasil.
Perfil
Em uma viagem de família para o litoral norte de São Paulo, o carro da mãe quebrou e o menino de 8 anos não teve dúvida: em vez de gastar horas vendo os adultos tentarem consertar o automóvel, decidiu entrar na mata. Minutos depois voltou transformado. A Mata Atlântica havia mostrado a Gilberto Elkis, hoje com 56 anos, que sua verdadeira vocação era trabalhar com plantas. Depois de diversas idas e vindas por diferentes áreas, decidiu abraçar o paisagismo. Afinal, como ele mesmo diz, “só o paisagismo me deu um prazer verdadeiro”. Há 27 anos, Elkis encanta com os projetos paisagísticos ousados que cria pelo mundo todo.

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