Sustentabilidade

Evento em Curitiba debate o design como ferramenta de transformação social

Luciane Belin*
08/11/2018 20:06
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Evento Design for a better world aconteceu no auditório do Sebrae em Curitiba e debateu os caminhos do design na promoção do bem estar social e da sustentabilidade. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo. | Leticia Akemi

“É como no futebol, cada centímetro é importante. E, quando você tem um objetivo, um passo é melhor do que nenhum”. com esta premissa, o presidente eleito da World Design Organization (WDO), Srini Srinivasan, conduziu sua fala no evento Design for a Better World, promovido pelo Centro Brasil Design (CBD) em Curitiba na manhã desta quarta-feira (8).
Srini Srinivasan, presidente eleito do WDO, falou sobre design e desenvolvimento social em Curitiba. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Srini Srinivasan, presidente eleito do WDO, falou sobre design e desenvolvimento social em Curitiba. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Convidado para o evento “Design for a better world” e presenciou a assinatura da carta de compromisso do CDB como parceiro global para a promoção dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Durante sua palestra, Srinivasan provocou o público a refletir a respeito de quais são as ações que podem ser conduzidas mesmo nas realidades mais próximas, em iniciativas menores, mas que podem contribuir com o alcance das 17 metas propostas pela ONU para um mundo melhor.
Assinatura da da carta de compromisso do CDB como parceiro global para a promoção dos ODS. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Assinatura da da carta de compromisso do CDB como parceiro global para a promoção dos ODS. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
“Como designers, o que fazemos. Como empresa, o que fazemos? Como cidade, o que fazemos? Como país, o que fazemos?”, questionou, reforçando que o design pode contribuir com alguns objetivos mais do que outros, cristalizando soluções no dia a dia, apresentando os desafios e incentivando o pensamento crítico.
Para ele, dos 17 ODS propostos pelas Nações Unidas, sete podem ser diretamente afetados por ações multidisciplinares afetadas pelo design:
3) Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
4) Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
6) Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.
7) Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
9) Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
11) Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
12) Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

Design thinking e Thinking Design

Segundo o presidente da WDO, as companhias estão acostumadas a utilizar expressão “Design Thinking” para aplicar as metodologias típicas do design nas ações promovidas pela companhia voltadas ao crescimento e desenvolvimento da empresa. Ele defende, no entanto, que o inverso também seja aplicado: “Eu proponho o contrário, proponho pensar o design dentro do contexto dos desafios que se colocam”.
No que diz respeito às aplicações práticas dessa reflexão envolvendo o design no desenvolvimento e crescimento sustentável das cidades, Srinivasan sugere uma aproximação dos cidadãos, das empresas e dos governos, por meios de ações coletivas.
Srini Srinivasan em visita a Curitiba. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Srini Srinivasan em visita a Curitiba. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
“A cidade sozinha não pode garantir que as medidas continuem acontecendo, então a melhor maneira é integrar companhias líderes da cidades para manter os programas vivos o tempo todo, já que também são responsáveis por isso”.
Para encontrar padrinhos para os programas voltados para o bem social, as cidades devem atrair estas parcerias por meio de incentivos, mas também de conscientização. “Quando você faz uma propaganda social que impressiona as companhias, você consegue financiamentos para que o programa seja aplicável na realidade, no dia a dia da população. Na maioria dos cenários, não há um planejamento consistente e uma medição adequada da importância das ações que são feitas e do resultado que vem sendo apresentado. E se você não mede esses resultados, as pessoas não vão se interessar em participar. O objetivo e o andamento das ações precisa ser medido regularmente”.
Essa transparência e divulgação dos números e resultados de ações sustentáveis pode ajudar a engajar também a comunidade, não apenas empresas parceiras. “A cidade precisa educar seus cidadãos, e estes precisam saber e acompanhar o que as cidades estão fazendo. Muito do esforço que as cidades fazem acaba desperdiçado, não é aproveitado adequadamente, porque as pessoas não sabem que podem usar. Então, em minha opinião, o fundamental que eu recomendaria às cidades seria educar os cidadãos por programas de prefeituras, de encontros da comunidade, onde as pessoas poderiam vir e conversar com a cidade por meio de líderes comunitários”.
Este diálogo, de acordo com ele, precisa permanecer mesmo quando há mudanças de governo, algo que, segundo Srinivasan, prejudica a continuidade dos programas voltados ao bem social no mundo inteiro. “O Brasil vem fazendo um trabalho muito bom, o desafio é não parar, não desistir. Os ciclos políticos dificultam muito isso e bagunçam as plataformas de desenvolvimento social e econômico, e isso em todos os países, nós precisamos nos certificar que a camada política mantenha os bons programas sociais”. reforça.
Dos incentivos entre autoridades e empresas, Srinivasan destaca, por exemplo, a questão da redução da emissão de poluentes por meio da queima de combustível fóssil. Ele acredita que, em 20 anos, os veículos elétricos serão utilizados em massa, mas apenas se houver incentivo governamental e empresarial para que isso aconteça. “Tecnologia precisa de muito investimento, e para recuperar os primeiros anos de investimento, o custo vai ser proibitivamente alto. Mesmo em países mais avançados, como os Estados Unidos, você encontra esse obstáculo. A Tesla está lá. Mas um carro da Tesla custa entre 60 e 100 mil dólares, enquanto que um carro convencional custa 20 mil. Então é muito difícil de torná-los disponíveis, ainda mais por conta da questão da infraestrutura de abastecimento.”
No caso específico dos automóveis, ele resgata um exemplo da década de 50: “Se voltarmos no tempo, a Ford investiu seu próprio dinheiro para instalar postos de combustível no país inteiro, para que as pessoas pudessem comprar seus carros e ter onde abastecê-los. A Tesla está fazendo isso, mas ainda não de maneira suficiente”.

Outros cases e exemplos

Crédito: Furf Design Studio/Divulgação
Crédito: Furf Design Studio/Divulgação
O evento “Design for a better world” contou ainda com palestras de cases brasileiros onde o design aparece como ferramenta para o desenvolvimento social, cultural e para a melhora da qualidade de vida nas cidades. Por meio de um vídeo os designers curitibanos Rodrigo Brenner e Maurício Noronha, da Furf Design Studio falaram sobre o projeto Caravela, uma estrutura despoluidora de corpos de água que é sustentável, eficiente e democrática. O produto, ainda em fase de viabilização econômica, é o único no mundo que atende as 17 ODS.
Foto: Yvy/Reprodução
Foto: Yvy/Reprodução
Outro exemplo, bem prático e que gera impactos imediatos no meio ambiente, veio da startup Yvy — marca de uma linha de produtos de limpeza 100% naturais que aposta na venda direta ao consumidor final como forma de se diferenciar no mercado e de promover a sustentabilidade do setor. Mais do que oferecer produtos que não agridem a saúde nem dos usuários nem do planeta, a empresa inova na apresentação dos produtos, que são oferecidos de forma concentrada e em cápsulas, que lembram as de café, mas são retornáveis e reutilizáveis. O case coloca em evidência a eficiência da união do design com um modelo de negócio inovador.
Produtos desenvolvidos nas parcerias do Instituto Campana. Foto: Eduardo Macarios/Divulgação
Produtos desenvolvidos nas parcerias do Instituto Campana. Foto: Eduardo Macarios/Divulgação
Com uma história de cerca de nove anos e tendo desenvolvido produtos e projetos com comunidades das mais diversas Brasil afora, o Instituto Campana, fundado pelos maiores expoentes do design brasileiro, os irmãos Humberto e Fernando Campana, foi o case que fechou a manhã do evento. Waldick Jatobá, conselheiro do instituto, foi o responsável por traçar o histórico e panorama atual das ações. De acordo com ele, o trabalho desenvolvido tem a premissa de unir interesses e pessoas.
Alguns destaques do trabalho do Instituto Campana: o Projeto Arrastão, que desenvolveu uma coleção de objetos e móveis feitos de jeans reciclado; a ONG Orientativa, que busca a capacitação, profissionalização, inserção e permanência de mulheres em situação de vulnerabilidade no mercado de trabalho por meio do artesanato; e a Aliança Misericórdia, com um trabalho junto a homens em situação de risco e recuperação de dependência química. Eles criaram uma linha de esculturas, vasos e objetos a partir de tijolos que não passaram pelo processo de secagem.
*Especial para Haus

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