Iniciativas que transformam as cidades: de delivery de minhocas a aplicativo para catadores

Monique Portela
24/06/2019 13:30
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Fotos: Divulgação

Em tempos de consumo consciente e sustentabilidade, a arquitetura se esforça para integrar casa e meio-ambiente. Nos projetos, isso se reflete no aproveitamento da luz solar, ventilação natural, uso de materiais renováveis e outras soluções. Na decoração, os jardins vieram para dentro de casa como forma de reforçar nossa necessidade de conexão com a natureza.
Mas pensar a arquitetura de uma perspectiva sustentável inclui criar alternativas ecológicas não apenas para os projetos, mas também para a execução e seus resíduos. Assim surgiu o Caçamba do Bem, iniciativa de quatro amigas curitibanas — as arquitetas Camila Picoli, Carolina Beckert, Fernanda Heller e a designer Marília Bender Almeida — que fazem a curadoria de descartes de obras e os transformam em verba para revitalizar instituições carentes.
Criado em agosto do ano passado, o projeto atualmente conta com 15 escritórios parceiros de arquitetura e construção em Curitiba e região, que sinalizam para o grupo quando há descarte de materiais em bom estado. A equipe então avalia o material por meio de fotos, faz uma seleção, recolhe e depois vende com descontos de até 70%. “Nosso intuito é, além de promover o consumo consciente, levar arquitetura e design para pessoas e locais que não teriam acesso, como creches e escolas”, explica a designer Marília Almeida.
A venda é feita pelo Instagram @cacambadobem, uma vitrine virtual para os produtos disponíveis, e também por meio de bazares. O primeiro bazar, realizado em fevereiro deste ano, conseguiu arrecadar mais de sete mil reais, que já estão destinados à reforma do refeitório de uma instituição carente que faz apoio de contraturno para crianças de 3 a 16 anos em Colombo. “Este projeto nós mesmas vamos desenvolver, mas a ideia é que nos próximos a gente selecione um dos arquitetos parceiros”, comenta Marília, abrindo o convite para que mais arquitetos façam parte desta rede de solidariedade.

Descarte consciente no dia a dia

Para além das obras, pensar o descarte daquilo que é consumido e produzido diariamente dentro de casa também é um desafio que gerou iniciativas internacionalmente reconhecidas, como o Cataki. Operando há dois anos, o aplicativo de celular foi idealizado por Mundano, artista paulistano que já havia fundado outro projeto no qual ele personalizava as carroças dos catadores de materiais recicláveis de forma a valorizá-los. “Com essa proximidade, ele viu que de um lado existia uma pessoa mal atendida em relação à coleta seletiva e, do outro, um catador que já estava nas ruas pescando esse resíduo das lixeiras. Assim surgiu o Cataki”, explica Henrique Ruiz, coordenador do projeto.
O aplicativo permite que pessoas que desejam descartar materiais diversos de forma responsável, incluindo móveis e eletrodomésticos, possam fazer contato direto com catadores interessados. Este intermédio não tem custo e só demanda que os usuários baixem o aplicativo e que os catadores tenham um número de celular. “O Paraná tem uma coisa bacana, 90% dos catadores cadastrados já têm smartphone”, aponta Henrique, que também traz outros números: ao todo, são 90 catadores cadastrados no Paraná, dos quais 35 operam em Curitiba.
Fotos: Divulgação
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Em maio, o Cataki venceu a categoria voto popular do Chivas Venture, um prêmio internacional de inovação e impacto social. Com 45.688 mil votos, a iniciativa faturou 50 mil dólares que serão integralmente investidos na plataforma. “Queremos lançar um programa de descontos para quem usar o app e também criar uma versão empresarial para bares, restaurantes e condomínios”, explica Henrique.

Compostagem coletiva

Nos últimos anos, alguns designers tentaram fazer da composteira um item esteticamente interessante para se ter em casa. As pequenas caixas com terra e minhocas que transformam lixo orgânico em adubo e húmus já superaram preconceitos e hoje figuram em casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais. Para atender a demanda de quem não tem espaço ou tempo para cuidar dos pequenos ecossistemas surge o Projeto Compostar Curitiba, comandado pelos engenheiros ambientais Theo Roccon Brando e Luiz Falcão.
O processo é simples: as casas recebem sacos biodegradáveis de amido de milho e um baldinho no qual devem jogar todo o lixo orgânico da casa. A empresa faz a coleta semanalmente, levando os resíduos para um terreno em Colombo, onde são compostados coletivamente e viram adubo, que retorna para os clientes em forma de mudinhas de hortaliças. “Até hoje o Projeto já coletou e compostou cerca de 36 toneladas de resíduos orgânicos”, comemora Theo Roccon, cujo empreendimento atende 112 casas cadastradas e 35 restaurantes na cidade. Os valores do serviço giram em torno de R$ 55 para uma casa com duas pessoas e R$ 65 para casas com até seis moradores.

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