Urbanismo

Novos empreendimentos imobiliários de Curitiba buscam maior integração com a cidade

Vivian Faria*
22/03/2019 19:23
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Fotos: Divulgação

Muros de vidro, halls de entrada mais amplos e expostos aos olhares de fora, fachadas ativas abertas à circulação pública, interação com o entorno. Essas são algumas características que têm mudado a cara dos empreendimentos lançados em Curitiba, seguindo uma tendência mundial para torná-los mais integrados ao espaço urbano. “Isso começou há pouco tempo no Brasil, mas já é um movimento mais antigo em outros lugares do mundo. Demorou para chegar aqui, pois ainda estamos apegados ao modelo antigo”, afirma o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Observatório do Espaço Público, Alessandro Filla Rosaneli.
O modelo antigo a que ele se refere é o de empreendimentos completamente fechados ao mundo exterior, protegidos por altos muros e sistemas de seguranças ostensivos. De acordo com Rosaneli, ele é consequência da realidade social do Brasil. “O país é desigual e desigualdade gera insegurança, então quem tem bens vai tentar se proteger e os empreendimentos vão espelhar isso”, explica. Daí a maior facilidade para encontrar prédios comerciais e residenciais que conversam com o espaço público em países desenvolvidos – e, para o professor, a timidez dos projetos que se propõe a isso no Brasil.
“Há uma pretensão de abertura, mas há resquícios do pensamento antigo. É preciso dar um passo além. Não basta só colocar vidros no edifício ou oferecer lojas para a cidade, se você não fizer um trabalho que integre as pessoas ao empreendimento”, diz Rosaneli.
Para ele, são as mudanças nas características dos edifícios aliadas a essas ações de integração que vão permitir que a relação das pessoas com a cidade mude, fazendo com que elas passem a perceber o espaço urbano como uma construção coletiva.

Legislação e conselho

Apesar de instigar os empresários do setor, o professor acredita que também é preciso que haja envolvimento do poder público para os empreendimentos integrados ao espaço urbano se tornem mais comuns – e até a regra. Conforme ele, além de trabalhar a atual legislação que rege o planejamento do espaço público, que ainda não reflete a importância desse tema para a cidade, é preciso criar um conselho para oferecer e avaliar propostas de projetos.
“Entendo os interesses de empreendedores e da prefeitura, mas essas discussões precisam ser levadas para um conselho de especialistas, composto por arquitetos, urbanistas, historiadores, geógrafos. A cidade tem que tirar a discussão sobre projetos do funcionalismo público e trazer um pouco para a esfera técnica para que as transformações sejam mais sensíveis”, afirma.
Veja alguns empreendimentos que se propõem a conversar com seu entorno:

ALMAÁ Cabral, da Laguna

O ALMAÁ Cabral terá três torres de seis pavimentos e fachada de vidro para facilitar a visibilidade tanto de quem está do lado de dentro quanto de quem está do lado de fora. O objetivo é que o empreendimento não bloqueie a vista das áreas verdes ao ser redor e da Serra do Mar. Ele terá também acesso direto à ciclofaixa para incentivar o uso de bicicletas.

Arbo Cabral, da MGDP

O edifício em construção no Cabral, não terá muros ou grades, e contará com uma fachada de vidros refletivos e bastante vegetação. “Quis criar um bosque vertical”, diz o diretor da incorporadora, Marlus Doria. Ele contará também com uma praça em frente ao prédio, a qual será mantida pelo condomínio, mas poderá ser utilizada pela comunidade.

Dsenho, da Idee

No caso do Dsenho buscamos trocar os muros por gradis leves integrados à um paisagismo muito bonito e rico”, diz o empresário André Nacli. O empreendimento, no Bigorrilho, conta ainda com um hall de entrada envidraçado e aberto para a rua, no qual haverá uma galeria de mobiliário brasileiro criada pelo arquiteto Leandro Garcia.

LIV São Francisco, da Cubo

O projeto modernista do LIV foi, de acordo com a incorporadora, pensado para se misturar ao ar retrô do bairro São Francisco. A fachada conta com amplos vidros – material que compõe também os muros do empreendimento.
*Especial para HAUS.

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