Urbanismo

Uma cidade sem lixo é possível? Florianópolis quer provar que sim

Camila Machado*
11/02/2019 10:00
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Avenida Beira Mar, em Florianópolis (SC): cidade pretende receber o primeiro selo Lixo Zero do Brasil até 2030. Foto: Bigstock

Um contador, em tempo real, que mede a quantidade de lixo que despejamos no planeta. Já imaginou? Ele existe. Até o fechamento desta reportagem, mais de 170 milhões de toneladas de resíduos foram despachados, globalmente, desde o início de 2019. A informação é do The World Counts, que mostra também que, por ano, produzimos impressionantes 2,12 bilhões de toneladas de lixo no mundo.
Na contramão disso tudo, há quem esteja preocupado e fazendo diferente. A filosofia Lixo Zero já é realidade em diversas localidades. Na Itália, 270 cidades já alcançaram a meta. São Francisco, nos Estados Unidos, está com 87% do objetivo em dia e espera conquistar 100% até 2020. Já Camicado Tzu,
cidade do Japão, sequer tem coleta. Todos separam o seu lixo, em mais de 50 tipos, e são responsáveis pela entrega.
No Brasil, Florianópolis tem a intenção de ser pioneira. É que a administração municipal decidiu tornar sua estrutura (direta e fundacional) Lixo Zero até 2020. A meta para 2030 é que toda a cidade adote essa postura, o que significa reduzir custos financeiros e ambientais. Mas é possível?
Rodrigo Sabatini, presidente do Instituto Lixo Zero Brasil, instituição que difunde o conceito e a metodologia Lixo Zero pelo mundo, acredita que sim. Segundo ele, Florianópolis está fazendo um trabalho exemplar. “O desafio agora é trabalhar de forma transparente junto à população para que todos saibam os problemas e as metas.” A vocação turística também conta pontos positivos, já que é a chance de inspirar quem passa pela cidade.

Por onde começar

O decreto n° 18.646, assinado em junho do ano passado, exige mais responsabilidade da cidade com os resíduos. O documento evita que pelos menos 60% dos resíduos secos e 90% dos orgânicos acabem em aterros sanitários. Entre as metas para alcançar esse objetivo, estão o incentivo a não geração de resíduos urbanos, o reaproveitamento de resíduos sólidos com mais eficácia e uma melhor estruturação da coleta e separação. Também a criação de novos negócios, economias criativas, circulares, colaborativas e solidárias.
O propósito de tornar-se Lixo Zero é dividido com a sociedade civil. O Programa Capital Lixo Zero é composto por nove instituições, entre associações de moradores, sindicatos e representantes empresariais.

Engajamento

A articulação em Florianópolis é elemento fundamental das metas. Hélio Leite, gerente de articulação e negócios da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), diz que os empresários “compraram” a meta Lixo Zero. “Estamos mobilizando quase 5 mil lojistas para a causa. A ações vão desde incentivo às mudanças nos modelos de coleta de resíduos até a proposição de alterações na legislação”, explica.
Entre as sugestões já sugeridas está a alteração da tarifa de coleta de resíduos, prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, o que faz com que a taxa deixe de ser fixa e o valor varie conforme o volume da geração de resíduos.
Marius Bagnati, representante da instituição FloripaAmanhã, lembra que a cidade tem uma tradição em reciclagem de mais de 30 anos e que a mudança na taxação pode ajudar a mudar hábitos. “Quem produz mais ou separa menos vai pagar uma taxa diferenciada.”
LAGOA - FLORIANOPOLIS - 28/10/2010 - TURISMO - Lagoa da Conceição e Dunas da Joaquina vistas do mirante . Foto : Antonio Costa / Agência de Notícias Gazeta do Povo
LAGOA - FLORIANOPOLIS - 28/10/2010 - TURISMO - Lagoa da Conceição e Dunas da Joaquina vistas do mirante . Foto : Antonio Costa / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Acontecendo

Outro exemplo prático é a nova política de licitações para a compra de equipamentos para coleta. “Antes, o foco era o maquinário para a coleta convencional, que ficava com 90% dos esforços nas licitações. Hoje, nos pedidos em curso, observamos o oposto: 90% do que é licitado é para a coleta seletiva“, destaca Márcio Luiz Alves, presidente da Autarquia de Melhoramentos da Capital (Comcap).
Uma novidade é o início da coleta de orgânicos ponto a ponto, que tem previsão para começar já no primeiro semestre. Segundo o Comcap, também será implantada, em breve, a coleta exclusiva de verdes. “Foi uma surpresa perceber que 11% da coleta convencional são de resíduos verdes, como grama e poda.”
Na ponta do lápis Segundo a prefeitura, as mudanças de atitude trarão também redução de custos. Dados informados pela Comcap mostram que os números de coleta em Florianópolis chegam a 18
mil toneladas de resíduos urbanos (RSU) por mês. O que não é aproveitado, ou seja, não foi compostado, reciclado ou reutilizado e é rejeito, tem como fim o aterro sanitário. Em 2018, R$ 29 milhões foram gastos com esse trâmite.
A meta para o Floripa Lixo Zero é que 65,9 mil toneladas/ano de orgânicos passem pelo processo, o que representaria ganhos de R$ 11,7 milhões e R$ 9,9 milhões em economia com aterro. Para a
coleta seletiva, a meta é refinar os processos e aumentar em quase cinco vezes os números repassados às associações de coletores, gerando R$ 8 milhões em economia com aterro e R$ 19,4 milhões em receitas recuperadas para a sociedade com reciclagem.
*Especial para a Gazeta do Povo.

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