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Quando Chávez chegou ao poder, os venezuelanos diziam que seu país não era Cuba. Da mesma forma, colombianos hoje dizem que a Colômbia não é a Venezuela.
Quando Chávez chegou ao poder, os venezuelanos diziam que seu país não era Cuba. Da mesma forma, colombianos hoje dizem que a Colômbia não é a Venezuela.| Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda

No dia 19 de junho, os colombianos elegeram como presidente o ex-guerrilheiro marxista Gustavo Petro. Aliado do regime venezuelano, Petro prometeu confiscar e redistribuir a riqueza do país. A vitória dele — assim como a onda de vitórias de candidatos de extrema-esquerda em toda a América Latina — mostra que os Estados Unidos precisam voltar a se envolver com seus vizinhos ao Sul. Do contrário, corremos o risco de vê-los caindo nas mãos de governantes socialistas por décadas.

Na virada do século, a Colômbia era um país pobre e perigoso, onde as guerrilhas e facções criminosas matavam dezenas de milhares de pessoas ao ano. Desde então, a taxa de homicídios caiu pela metade, a renda média aumentou 50% e agora o acesso dos colombianos à energia elétrica é praticamente universal.

No mesmo período, a Venezuela sucumbiu a um regime socialista liderado, primeiro, por Hugo Chávez, e hoje por Nicolás Maduro. O regime transformou o país, antes um dos mais ricos da América Latina, no mais pobre da região. A Venezuela antes abrigava milhões de migrantes colombianos; agora é a Colômbia que recebe milhões de venezuelanos.

A pauta do novo presidente colombiano põe em risco todas as conquistas das últimas duas décadas. Petro propõe as mesmas medidas e usa a mesma retórica de Chávez. Ele promete nacionalizar o sistema de saúde, garantir a gratuidade do ensino superior, criar um banco estatal, confiscar e redistribuir as terras e diminuir consideravelmente a capacidade da Colômbia de comercializar com outros países.

Algumas dessas promessas parecem as de um candidato esquerdista como outro qualquer, mas não se engane. Petro é um marxista que, se puder, vai transformar a Colômbia num país socialista. Petro e Chávez eram amigos de longa data. Em 1994, ele se encontrou com Chávez pouco depois de o venezuelano ser libertado da prisão por tentar derrubar o governo democrático da Venezuela, num golpe de Estado. Na época, Petro era membro da M-19, guerrilha marxista que virou partido político. Em 2016, durante uma viagem de Petro à Venezuela, em meio às dificuldades do país com a hiperinflação e a escassez de produtos básicos, ele tuitou uma foto de um mercadinho com as prateleiras cheias, sugerindo que as histórias de escassez eram propaganda antigoverno. Esse tipo de negativa é um insulto aos venezuelanos que, de acordo com um estudo, em 2016 perderam, em média, oito quilos por falta de comida.

Se Petro conseguirá transformar a Colômbia num país socialista é algo que depende da capacidade do Estado colombiano de resistir às investidas dele e da capacidade da oposição fragmentada de se unir e limitar a presidência dele a apenas um mandato.

A ascensão do socialismo não é um problema só da Colômbia. Peru e Chile elegeram presidentes socialistas neste ano, e o Brasil provavelmente se juntará a eles em breve. Os Estados Unidos também sentirão logo os efeitos dessas eleições. À medida que as condições econômicas desses países piorarem, a emigração aumentará, o comércio sofrerá e os preços de commodities essenciais subirão, já que se trata de países produtores de petróleo, cobre, pescados e café, entre outros produtos.

Os Estados Unidos precisam voltar a dar atenção à região, ajudando a garantir a properidade da América Latina e também que os cidadãos não se sintam marginalizados por suas economias. Mas infelizmente os EUA têm feito o contrário disso. Nas últimas duas décadas, a China tomou o lugar dos EUA como principal parceiro comercial dos países sul-americanos e hoje os EUA mantêm poucos acordos de livre comércio com um punhado de países das Américas Central e do Sul. Nosso objetivo deveria ser criar uma grande área de livre comércio em todo o Hemisfério Ocidental, algo parecido com o que existe hoje entre EUA, Canadá e México. (O ex-presidente George W. Bush não conseguiu alcançar esse objetivo, graças à oposição ferrenha de Chávez). Nossa estratégia deveria ser o de firmar acordos com os países que estão dispostos a isso agora, criando, assim, uma estrutura para que os demais países se juntem ao bloco posteriormente. Essa área de livre comércio geraria uma incrível riqueza para todos os países, permitindo que os Estados Unidos substituíssem os produtos importados da China por produtos importados da América Latina e ajudando que os bens produzidos nos EUA chegassem aos mercados aos sul.

Os Estados Unidos também deveriam cogitar mudar suas políticas de imigração a fim de facilitar a entrada no país de latino-americanos que fazem oposição ao socialismo. Quando os socialistas chegam ao poder, as primeiras pessoas a deixarem esses lugares são as mais escolarizadas, de classe média e média alta. Por isso é que os venezuelanos estão entre os grupos hispânicos mais escolarizados dos Estados Unidos. Apesar das vitórias da extrema-esquerda em seus países de origem, colombianos, peruanos e chilenos que residem nos Estados Unidos votam majoritariamente em candidatos de direita.

Uma objeção possível à permissão de entrada de latino-americanos escolarizados nos Estados Unidos é o fato de isso causar uma “fuga de cérebros” nos países que se pretende ajudar. Isso diminuiria também a pressão para uma mudança de regime. Mas essa preocupação é exagerada. O Muro de Berlim limitou a saída de cidadãos de países da Europa socialista durante décadas e ainda hoje é praticamente impossível fugir da Coreia do Norte. Ainda assim, não há sinais de que essa falta de emigração tenha ajudado esses países a mudarem o regime e prosperarem. Por outro lado, receber imigrantes conservadores e escolarizados permitira que eles gerassem nos Estados Unidos inovações que não poderiam gerar em seus países de origem, exportando essas inovações e nos ajudando a desenvolver laços internacionais mais fortes com esses países graças à diáspora.

“A Venezuela não é Cuba” é o que os venezuelanos diziam uns para os outros antes de Chávez chegar ao poder. Agora os entusiastas de Petro estão dizendo que “a Colômbia não é a Venezuela”. Isso deveria servir de alerta para a direita latino-americana – e para os Estados Unidos, que deveriam dar prioridade a seus vizinhos ao sul.

Daniel Di Martino é imigrante venezuelano e doutorando na Universidade de Columbia, além de fundador do Dissident Project, que dá voz a imigrantes de países socialistas.

©2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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