Neste fim de semana (1 e 2 de julho), o Twitter limitou as visualizações de postagens, o que tem causado rebuliço na rede. Segundo o bilionário Elon Musk, que adquiriu a plataforma no ano passado, as restrições se devem à necessidade de “restringir níveis extremos de extração de dados e manipulação do sistema”.
Não faltaram tweets e matérias alarmando sobre a decadência da rede social, que estaria sendo arruinada por Musk. Mas a controvérsia não é novidade. Desde que assumiu a direção da plataforma, o bilionário tem encabeçado ou se envolvido em uma série de polêmicas.
Ainda que se reconheça como um moderado, Musk adota posturas em temas como liberdade de expressão e igualdade de gênero que agradam os conservadores. Por essa razão, além do apoio dessa ala, seus tweets costumam exaltar os ânimos das patrulhas do politicamente correto e o alcance e engajamento de suas postagens chegam à estratosfera.
Listamos algumas das polêmicas em que Musk e, consequentemente, o Twitter se envolveram.
1 - Limite de visualizações de tweets
Ao lidar com sua mais recente polêmica, Musk tem usado da ironia. No sábado (1º de julho), chegou a replicar um tweet do perfil @ElonMusk (Parody), conta que parodia a sua. A postagem dizia que “a razão pela qual defino um ‘limite de visualização’ é porque somos todos viciados no Twitter e precisamos ir lá fora. Estou fazendo uma boa ação pelo mundo aqui. Além disso, essa é outra visualização que você acabou de usar”.
Em um comentário, postado em 2 de julho, Musk afirmou que “em mais um exercício de ironia, este post atingiu um recorde de visualizações”.
Em resposta à nova regra, a cantora e ativista Lauren Jauregui tweetou que “Elon destruindo o Twitter antes das eleições não é uma coincidência. Especialmente considerando qual é sua posição política óbvia. Este local foi uma de nossas ferramentas de organização mais eficazes durante 2020 e é onde acontecem muitos discursos e responsabilidades. Por favor, entenda que nada que esses bilionários fazem é uma coincidência. Lento, mas seguramente é o jogo, então ficamos apáticos em vez de prestar atenção. Quando tudo parecer aleatório e confuso, saiba que é tudo menos isso. Basta ligar os pontos”.
A cantora esqueceu de se perguntar o que também irá acontecer com os candidatos republicanos, além de influenciadores, jornalistas e cientistas conservadores que têm a oportunidade de falar abertamente na plataforma.
Até o perfil do Telegram no Twitter se referiu à medida, dizendo aos usuários para não se preocuparem já que, em seu aplicativo, “as pessoas podem ler tantos posts quanto quiserem”.
2 - Comédias liberadas
No domingo, 2 de julho, Musk tweetou que a “comédia é legal nesta plataforma”. O post foi uma resposta à publicação do humorista norte-americano de stand up Theo Von, na qual dizia que seu podcast com Roseanne Barr havia sido banido de outra plataforma.
Rosseanne é um ícone do humor já que seu programa homônimo foi um dos mais assistidos da TV norte-americana nas décadas de 80 e 90. Por seu papel como a matriarca de uma família de classe média baixa, ela recebeu diversas premiações como o Emmy e o Golden Globe Awards.
Apoiadora assumida de Donald Trump, Roseanne teve o remake de seu show cancelado pela ABC, de propriedade da Disney, em 2020. A medida foi uma resposta da emissora a um tweet em a humorista relacionou a ex-assessora iraniana de Barack Obama, Valerie Jarret, à irmandade islâmica e à franquia Planeta dos Macacos. Acusada de racismo, a comediante se defendeu dizendo que o post era uma piada e que o “islã não é uma raça, mas incluiu todas as raças”.
Roseanne teve sua conta restabelecida no Twitter no dia 3 de julho, após ter sido suspendida em dezembro de 2020. Na primeira postagem, ela agradeceu ter seu perfil de volta e comentou que "62 milhões de visualizações não é nada mal para quem foi multicancelada".
Não é só nos EUA que humoristas têm sido condenados por piadas que fogem do politicamente correto. No Brasil, em maio deste ano, Leo Lins foi proibido pela justiça de São Paulo de fazer shows e vídeos de comédia, além de ter seu especial “Perturbador” retirado das plataformas. Saiba mais.
3 – Threads e luta com Zuckerberg
Em meados de março deste ano, começaram a circular rumores de que a Meta, detentora do Instagram, Facebook e Whatsapp, estaria preparando uma nova rede social para competir com o Twitter. A confirmação viria em junho, com o “vazamento” de informações sobre o, até então denominado, Projeto 92.
Na segunda-feira, 3 de julho, o aplicativo Threads já estava disponível nas lojas de apps da Apple. Segundo veiculado em seu anúncio, ele começará a funcionar na próxima quinta-feira, 6 de julho.
No dia 20 de junho, o usuário Mario Nawfal fez uma extensa publicação sobre a nova plataforma. No tweet, ele afirma que o diretor de produto da Meta, Chris Cox, teria dito que a empresa ouviu “de criadores e figuras públicas que estão interessados em ter uma plataforma que seja administrada de forma sensata". Dentre as primeiras celebridades a testar o aplicativo, está o Dalai Lama, que recentemente foi flagrado beijando um menino.
Em resposta, Musk se disse pronto para uma luta com Zuckerberg, caso ele topasse. O dono da Meta replicou apenas pedindo a localização para o confronto. Desde então, a brincadeira viralizou, com uma chuva de tweets e reportagens tanto no aplicativo como na mídia, incluindo memes, imagens e vídeos gerados por IA retratando o "combate".
No dia 30 de junho, Musk publicou um trecho do filme “A Vida de Brian”, do grupo humorístico inglês Monty Phyton, com uma briga no Coliseu. No tweet, ele disse que precisa trabalhar sua resistência.
Em relação ao lançamento da Threads, também em comentário a uma postagem de Mario Nawfal, Musk afirmou que “graças a Deus elas são tão sensatamente dirigidas", referindo-se às redes sociais.
4 - Estreia do Tucker Carlson Show
No dia 6 de junho, foi ao ar o primeiro episódio do programa de Tucker Carlson, ex-âncora da Fox News, no Twitter. No vídeo em que anuncia a iniciativa, ele afirma que nem tudo o que se vê na mídia é verdadeiro, devido à manipulação e ocultação intencional de informações.
O jornalista deixou a emissora em meados de abril de 2023, em um movimento que causou bastante controvérsia e comentários de todos os lados. Carlson era a principal voz conservadora da emissora, com uma audiência diária de cerca de 3 milhões de telespectadores.
Segundo Carlson, o Twitter é a única plataforma no mundo que mantém, no momento, o direito à liberdade de expressão. “Twitter não é um site partidário, todos são permitidos aqui e nós achamos que isso é bom”, comenta ele durante o vídeo.
Em sua resposta ao anúncio do apresentador, Musk afirmou que “nesta plataforma, ao contrário da via de mão única da transmissão [televisiva], as pessoas podem interagir, criticar e refutar o que quer que ele ou qualquer um diga”. O empresário ainda destacou que informações enganosas serão mediadas pelas Notas da Comunidade (um sistema que indexa correções feitas pela comunidade aos posts).
No dia 14 de junho, Musk replicou o terceiro episódio do show e comentou dizendo que, “mais uma vez, gostaria de oferecer esta plataforma a qualquer pessoa de esquerda. Você receberá tratamento igual”.
5 - Cis como ofensa e a ruína da identidade de gênero
No dia 20 de junho, o cofundador de uma rede de terapeutas com foco no impacto da ideologia de gênero na sociedade e no bem-estar de crianças, James Esses, publicou uma mensagem dizendo que havia sido hostilizado pela comunidade trans.
O episódio ocorreu quando Esses postou um Tweet no qual afirma não querer ser chamado de 'cis'. Ele recebeu várias mensagens de ativistas trans utilizando o termo "cissy" [uma alusão a sissy, similar a "maricas"] e dizendo que ele era 'cis' gostasse ou não. "Imagine se os papéis fossem invertidos”, completou Esses, referindo-se ao uso de pronomes por pessoas trans.
Elon Musk respondeu ao tweet afirmando que “o assédio repetido e direcionado contra qualquer conta fará com que as contas de assédio recebam, pelo menos, suspensões temporárias. As palavras “cis” ou “cisgênero” são consideradas calúnias nesta plataforma”. A postagem gerou uma avalanche de publicações, tanto de apoio quanto de repúdio ao posicionamento do empresário.
Ainda sobre a identidade de gênero, Musk compartilhou o link para uma matéria intitulada “O culto da identidade de gênero está finalmente se desintegrando”, do jornal inglês The Telegraph.
6 – Documentário liberado
No dia 1º de junho, Jeremy Boreing, co-fundador da empresa independente de mídia Daily Wire, questionou a decisão do Twitter de suspender a veiculação do documentário “O que é uma mulher”, lançado nos Estados Unidos em 2022. No filme, o comentarista político Matt Walsh entrevista diversas pessoas, incluindo psicólogos e psiquiatras, médicos que fazem cirurgias de mudança de sexo e pacientes que fizeram esse tipo de intervenção, entre outras.
Em resposta, Musk afirmou que o cancelamento tinha sido um "erro de muitas pessoas no Twitter" e que o conteúdo era permitido. Além disso, ressaltou que “quer você concorde ou não com o uso dos pronomes preferidos de alguém, não fazer uso deles é no mínimo rude e certamente não infringe nenhuma lei”.
Ele seguiu dizendo que, pelas boas maneiras, utiliza os nomes e pronomes preferidos das pessoas e que, portanto, se opõe a “comportamentos rudes, ostracismo ou ameaças de violência se o pronome ou nome errado for usado”.
A campanha de veiculação do filme no Twitter foi retomada e, segundo a Agência de Notícias Católica, o documentário obteve mais de 177 milhões de visualizações na semana em que foi lançado na plataforma.
7 - Campanha de Ron DeSantis
O governador da Flórida, Ron DeSantis, do Partido Republicano, lançou sua pré-candidatura à presidência dos EUA no dia 24 de maio pelo Twitter, em conversa com Elon Musk. O evento foi realizado pela ferramenta de streaming do aplicativo, chamada Spaces.
Marcado por diversas falhas técnicas que a mídia especializada não perdoou, sob o ponto de vista do dono da plataforma o evento foi um sucesso. Dois dias após o lançamento, ele tweetou que houve “muito barulho sobre a candidatura de DeSantis. “Mas o que não é barulho?”, perguntou na mesma publicação.
Questionado se iria fazer o mesmo por candidatos democratas, Musk respondeu que já havia feito o convite inúmeras vezes. No próprio dia do lançamento da campanha de DeSantis, Musk publicou em sua conta que “todos os candidatos presidenciais são muito bem-vindos nesta plataforma”.
8 – Reativação do perfil de Donald Trump
O ex-presidente dos EUA Donald Trump se consagrou como um dos mais controversos usuários do Twitter. No início de 2021, o perfil de Trump foi banido da rede social sob a acusação de que suas postagens haviam incitado a invasão da Casa Branca no dia 6 de janeiro. A participação de Trump no episódio ainda é alvo de investigações.
Após assumir o controle da rede, uma das primeiras campanhas de Musk foi abrir uma enquete na qual os usuários da plataforma puderam opinar sobre o restabelecimento do perfil de Trump. Com 51,8% dos votos, a conta do ex-presidente foi restabelecida. Atualmente, a pré-campanha à presidência dos EUA é feita por meio do perfil Team Trump (time do Trump, em livre tradução).
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