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O aumento muito discutido nas taxas de homicídios entre 2014 e 2016 deve-se quase totalmente a homicídios por armas de fogo, revela uma análise de dados federais sobre homicídios. 

O aumento foi tão drástico que em 2016 os homicídios por armas de fogo representaram uma parcela maior do total de homicídios do que em qualquer outro momento nos registros federais, que contém mais de 80 anos de dados completos para os Estados Unidos. 

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Os números destacam como o nosso problema de crimes violentos é, agora mais do que nunca, um problema de violência por armas. Após anos de recordes de vendas, as armas de fogo agora são mais predominantes na sociedade do que em qualquer outro momento da história recente. O alto número de armas civis em circulação representa mais oportunidades para as armas serem desviadas para as mãos de pessoas com risco de ferirem os outros, potencialmente alterando o cenário da criminalidade americana. 

Para chegar aos números acima, o Washington Post compilou mais de 100 anos de estatísticas federais de homicídios, estendendo até o ano de 1910. Esses números foram coletados pelo CDC como parte do National Vital Statistics System (NVSS), que compila dados de mortalidade – incluindo dados sobre homicídios – a cada ano por meio de atestados de óbito. Observe que nos anos antes de 1933, o NVSS não coletava dados de certificados de óbito de todos os estados. A parcela do total da população coberta nos dados pré-1933 varia entre 51% em 1910 e 95% em 1932. 

Historicamente, homicídios por armas de fogo representam pouco mais de 60% do total de homicídios. Mas essa taxa não foi sempre constante. Levantando os números absolutos de homicídios cometidos por armas de fogo ou outras formas desde 1910, os números não foram ajustados para a população, pois estávamos interessados principalmente em observar a relação entre os dois, ao invés da sua relação com a população geral. 

Aumento de 30%

Os dados mostram que os homicídios por armas de fogo sempre ultrapassaram em números os homicídios por outros meios – esfaqueamento, estrangulamento, etc. Em alguns anos, como nas décadas de 1940 e 1950, esse intervalo é relativamente pequeno (observe também o ápice de homicídios não cometidos por armas de fogo em 2001, o ano dos ataques terroristas de 11 de setembro). Mas em outros períodos, como nos anos 1920, 1930 e na última metade do século 20, o número de homicídios aumenta em relação ao número de outros homicídios. 

É particularmente interessante o que está acontecendo nos dias de hoje. Desde 2014, o número de homicídios não cometidos por armas de fogo aumentou em menos de 2%, passando de 4.864 em 2014 para 4.947 em 2016. Mas durante esses mesmos dois anos, o número de homicídios por armas de fogo aumentou em mais de 30%, de 11 mil para mais de 14 mil. 

Olhando por outro ângulo, as armas representaram sozinhas mais de 98% do aumento da taxa de homicídios observada entre 2014 e 2016. Considerando isso, em 2016 os homicídios por armas de fogo representaram 74,5% de todos os homicídios nos Estados Unidos – a taxa mais alta em mais de 80 anos de dados federais completos. 

A parcela dos homicídios por armas de fogo ultrapassou 70% apenas duas outras vezes no século passado – no início dos anos 1920, no começo da Proibição (quando os dados federais cobrem cerca de 80% da população) e no começo dos anos 1990, no ápice da onda de criminalidade naquela década. Durante essas duas épocas, a taxa de homicídios total foi próxima de 10 mortes para cada 100 mil habitantes ou mais. O aumento atual nos homicídios por armas de fogo em relação a outros homicídios é único, pois está acontecendo durante um período de taxas de homicídio gerais relativamente baixas (6 em 100 mil). 

Mais armas

É difícil aferir o que, exatamente, o aumento na parcela de homicídios por armas de fogo diz sobre o nosso momento atual. Em nível doméstico, pesquisas mostram que as taxas de posse de armas ou permaneceram relativamente estáveis nos últimos anos, ou diminuíram sensivelmente, dependendo da fonte de dados. 

Entretanto, há um consenso geral de que o número total de armas de fogo de civis em circulação aumentou recentemente, principalmente durante o governo Obama. A grande proliferação de armas de fogo significa que mais armas estão sendo desviadas de usos legais para o mercado negro, onde elas acabam nas mãos de indivíduos que poderiam ter sido proibidos de tê-las. 

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Apesar disso, os dados acima mostram que desde o começo dos anos 1990, homicídios não cometidos por armas de fogo têm passado por um declínio constante em termos tanto de taxas quanto de números absolutos, exceto pelos ataques de 11 de setembro. Homicídios por armas de fogo, entretanto, tem sido muito mais volúveis, com diversos períodos de aumento e diminuição. 

O aumento nos homicídios por armas de fogo nos últimos dois anos pode ser apenas um caso extremo dessa volubilidade. Ou pode ser um ponto de inflexão, indicando que as armas de fogo se tornaram tão numerosas na sociedade que elas agora estão mais facilmente disponíveis do que nunca para indivíduos que desejam fazer o mal com elas. Se esse é o caso, podemos esperar ver os homicídios por armas de fogo continuarem a aumentar mesmo enquanto outras formas de homicídio se tornam mais raras.

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