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Fauci se tornou uma figura odiada na direita em parte por causa do que ele representou: a classe gerencial burocrática arrogante, corrupta e incompetente.
Fauci se tornou uma figura odiada na direita em parte por causa do que ele representou: a classe gerencial burocrática arrogante, corrupta e incompetente.| Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW

De todas as instituições que se radicalizaram nos últimos dois anos, o reino da medicina talvez seja o mais perturbador.

Como ficará a nossa sociedade, quando não se pode confiar no CDC, ou mesmo no próprio médico?

O Dr. Anthony Fauci anunciou, segunda-feira (22/08), que vai se aposentar em dezembro de sua função nos Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health - NIH), encerrando uma carreira na saúde pública que remonta à década de 1960.

É um momento notável. A longa obscuridade de Fauci — seguida pelo breve estrelato induzido pela mídia, e depois pela intensa polarização — ilustra tendências mais gerais na sociedade norte-americana.

Em editorial, o Wall Street Journal notou que outros especialistas de saúde pública usaram Fauci, 81, para "fazer lobby em defesa de amplos lockdowns econômicos que, como sabemos agora, foram muito mais destrutivos do que o necessário", e que Fauci defendeu "mandados de uso obrigatório de máscaras e vacinas que eram bem menos protetivos do que ele dizia ao público."

O jornal chamou atenção, corretamente, ao fato de que o nome de Fauci ser tão reconhecido é um mau sinal, e não um indício positivo de sua carreira. É como ser o long snapper no futebol americano: se o povo sabe quem é você, com quase toda a certeza é porque você fez besteira.

No caso de Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (National Institute of Allergy and Infectious Diseases - NIAID) desde 1984, ele se tornou uma figura notável e polarizadora por parecer tomar, com frequência, decisões dúbias ou, no mínimo, decisões políticas de amplo alcance, escondido atrás das credenciais.

Como explicou o Wall Street Journal, os comentários públicos e privados de Fauci sugerem que, segundo o seu ethos, o público "deve deixar uns poucos homens e mulheres poderosos definirem a ciência e então imporem ao país as políticas e mandados de sua preferência."

É uma filosofia contrária às ideias de 1776 e à fundação dos Estados Unidos da América, mas a turma burocrática e ideológica de Fauci parece ter poucos problemas com isso.

A questão importante a reconhecer aqui é como as instituições e os burocratas — como Fauci — claramente abandonaram a pretensão de objetividade em prol da ideologia, e, em muitos casos, da duplicidade.

Acreditar na ciência também é acreditar em nossa nova ideologia de Estado.

Se os fatos não estiverem de acordo com os resultados preferidos, então falsifiquem-se os fatos e silenciem-se aqueles que têm dúvidas.

De modo talvez paradoxal, a natureza dúplice das instituições ocidentais nos últimos anos (aquela alegação se ser guiado pela objetividade enquanto se torna explicitamente ideológico e partidário) está destruindo a autoridade das instituições nas mentes do público. Este decerto é o caso nos EUA, onde somos particularmente propensos a nos rebelarmos contra uma pseudoelite desqualificada que reivindica o direito a governar.

Durante os primeiros dias da pandemia de Covid-19, ouvimos de Fauci e de outros agentes públicos que nós tínhamos que entrar em confinamento e suspender as partes mais importantes de nossas vidas — inclusive idas à igreja, casamentos e funerais — para deter o espalhamento da doença causada pelo novo coronavírus.

No entanto, quando os protestos inspirados pelo Black Lives Matter estouraram no verão boreal de 2020, muitos desses mesmos agentes e organizações de repente disseram que era tranquilo se reunir em grupos massivos, porque deter o racismo tal como eles o definiam era muito importante.

O fato de esses "protestos majoritariamente pacíficos" logo se tornarem violentos, e causarem enorme dano e perda de vida em comunidades pelo país, só jogou sal na ferida.

Fauci se tornou uma figura odiada na direita em parte por causa do que ele representou: a classe gerencial burocrática arrogante, corrupta e amiúde incompetente que acredita ter o direito de governar e tomar decisões por nossa sociedade.

Qualquer figura ou política que ataque o poder da classe gerencial —seja Donald Trump, a reforma do serviço civil ou a escolha escolar — encontra hostilidade desproporcional. A resistência, feita pelos tipos errados, é uma ameaça à "democracia".

A queda simultânea de tantas instituições põe os conservadores numa posição inusual.

O instinto de um conservador é preservar e perpetuar a cultura e as instituições. Olhamos para o que deu certo no passado e tentamos fazer com que dê certo para nós e para a posteridade. É por isso que a Constituição dos Estados Unidos, conquanto revolucionária no desenho de uma forma escrita do governo, é fundamentalmente conservadora no melhor sentido.

O que acontece quando as instituições e a cultura que elas pretendem perpetuar são inerentemente revolucionárias?

Esta é a realidade em que os americanos, e muitos de nós no Ocidente, nos encontramos. Nossas instituições não perpetuam mais o bem-estar geral, nem as ideias sobre as quais se construiu a nossa sociedade. Tais instituições estão cada vez mais comprometidas com a transformação radical da sociedade, e pensam que podem fazer isso "gostemos ou não", como já disse um político californiano franco.

E nossas instituições fazem isso enquanto mantêm, de maneira odiosa, a fachada de expertise e objetividade. Devemos acreditar, por exemplo, que a Academia Americana de Pediatria promove "cuidado afirmativo de gênero" para crianças por causa de seu compromisso com a boa medicina e a boa ciência.

No entanto, é de uma obviedade ululante que a "ciência" dessa Academia trabalha sob a direção da ideologia; que promoveria a "transição" de gênero a despeito do que os fatos dissessem. Os estudos ou os médicos que dizem o oposto são ignorados, ou então censurados e banidos por meio dos aliados da academia nas Big Techs.

Para piorar, cada instituição importante da saúde, das organizações profissionais e instituições governamentais está seguindo a marcha. Quando apareceu uma série de vídeos perturbadores do Boston Children’s Hospital, na qual médicos defendiam "histerectomias afirmativas de gênero" entre outros "tratamentos", muitos ficaram horrorizados.

Mas não se tratava se uma exceção perturbadora. É a ponta do iceberg.

Tais ideias são, simplesmente, o que se empurra nas faculdades de medicina de elite dos EUA, nas quais o culto da diversidade, equidade e inclusão agora detém controle absoluto, com oposição inexpressiva.

Enquanto os membros das instituições se exibem e se escondem com o credencialismo, suas posições obviamente ideológicas esmigalham a fé pública em suas credenciais.

A ascensão e a queda de Anthony Fauci ilustram essa tendência.

Com certeza Fauci vai manter os seus acólitos e super fãs. Mas seus atos e sua atitude só atraíram atenção pública para o apodrecimento e a ilegitimidade das instituições dos EUA, instituições que desperdiçaram a própria reputação em nome da revolução. Esta é a verdadeira morte da expertise. Morte por suicídio.

©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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