
Ouça este conteúdo
Sair do país em busca de ambientes mais favoráveis, com mais liberdade e qualidade de vida, tem sido uma decisão frequente entre empresas e pessoas no Brasil. Este movimento, que tem como principal reflexo a fuga de capital, está ligado às incertezas políticas e econômicas do país, mas também faz parte de uma tendência mais ampla: o do chamado capitalismo nômade.
Agora, um novo ranking listou os países mais atrativos para quem busca investir ou viver fora. É o Índice de Liberdade, produzido pela consultoria especializada Nomad Capitalism.
De acordo com o estudo, que leva em conta cinco critérios principais, o Brasil está no meio da tabela. Dos pouco mais de 200 locais avaliados – a consultoria também avaliou estados dos EUA – o país ficou na posição de número 101. Quando se leva em conta apenas os países, o Brasil aparece em 96º lugar.
A nota do Brasil é melhor que a maioria dos vizinhos sul-americanos – à exceção do Paraguai, Chile e Uruguai – mas ainda longe de Estados onde as liberdades pessoal e econômica são sólidas, como Mônaco, que lidera o ranking empatado com as Ilhas Maurício, e Suíça, que obteve a mesma nota de Portugal.
Ranking de Liberdade não tem relação com política, diz criador
De acordo com Andrew Henderson, fundador da consultoria, o Índice de Liberdade não tem relação com teoria política, e sim com a aplicação prática dos conceitos de liberdade. “Trata-se de onde você pode criar uma família sem o Estado interferir na educação de seus filhos. Onde é possível crescer financeiramente e proteger seu patrimônio sem ser penalizado pelo seu sucesso, onde há liberdade para viver bem sem comprometer seus valores”, detalhou, no estudo.
Para tanto, a Nomad estabeleceu alguns critérios de pontuação. A liberdade financeira corresponde a 30% da nota final de cada um dos avaliados, e busca medir a facilidade de ganhar, movimentar e proteger a riqueza. Pontuações altas indicam ambientes com impostos baixos ou até mesmo zero tributação, mobilidade total e regras favoráveis ao investidor, como no caso do Panamá.
A proteção aos ativos responde por 25% da nota final, e reflete a eficácia da jurisdição em proteger a riqueza, considerando confiabilidade legal, sigilo e proteção contra expropriação, entre outros. As maiores notas foram atribuídas a locais onde há uma Justiça forte, respeito à privacidade e estruturas confiáveis, como em Cingapura.
Os direitos humanos têm peso de 20% na pontuação, e são avaliados na medida em que o país avaliado salvaguarda as liberdades civis fundamentais e o respeito à dignidade humana, abrangendo liberdade de expressão, movimento, autonomia, agência econômica e consistência do estado de direito. Um bom exemplo citado pela Nomad neste quesito é a Noruega.
Para a nota em segurança, que corresponde a 15% da nota final, a consultoria levou em conta dados presentes em relatórios internacionais de crimes, índices de paz, estabilidade política e infraestrutura de emergência. Jurisdições consideradas de alta segurança, como a Irlanda, receberam destaque nesta avaliação.
Por fim, os últimos 10% da nota do índice dizem respeito à qualidade de vida. Este item busca medir o quão bom o país é em propiciar assistência em saúde, educação, lazer, entre outros pontos. Longe de ser uma surpresa, a Suíça é mostrada como um exemplo.
Como o Brasil aparece no Índice de Liberdade?
E onde o Brasil se encaixa nestes quesitos? Nossa melhor nota foi atribuída pela Nomad aos Direitos Humanos, o que nos coloca à frente de países como o Japão, Espanha e o Reino Unido, quando o foco é apenas neste pilar. Para a consultoria, no Brasil os direitos humanos são “plenamente respeitados, além de outras garantias asseguradas”.
Em relação à Liberdade Financeira, a Nomad situou o Brasil em uma posição intermediária. Para a consultoria, há no país uma alta tributação e burocracia, reforçando restrições consideráveis para o gerenciamento de riqueza. A nota neste quesito foi a mesma obtida pela Argentina, mas deixou o Brasil atrás do Paraguai – que aqui obteve nota máxima – e de países como a Namíbia e Belarus.
Também foi intermediária a avaliação da consultoria em relação à Qualidade de Vida no Brasil. Apesar de ter pontos fortes em áreas como alimentação ou clima, foram identificadas deficiências em serviços como saúde e educação. Aqui o Brasil empata com o Paraguai, mas perde para países como Turquia e Kuwait.
Uma das piores notas do Brasil no índice foi atribuída à proteção de ativos. Para a Nomad, isso é indício de que as ferramentas de proteção da riqueza no país são limitadas. Além disso, a aplicação das leis locais pode ser politizada, com pouca privacidade e um risco elevado de expropriação. Neste quesito o Brasil foi avaliado no mesmo nível de Bangladesh e Venezuela, nos deixando atrás de Ruanda e Uzbequistão, por exemplo.
A nota final, em Segurança, também foi abaixo da média. Com isso, a consultoria mostrou que há no Brasil o que a Nomad chamou de “inquietação moderada” simbolizada por um “policiamento pouco confiável”. A pontuação foi menor ou igual à de locais que passam ou passaram por guerras e cenários de conflito, como Ucrânia, Kosovo e Timor Leste.
Veja as notas dos cinco países mais bem colocados no índice em comparação com o Brasil:
| País | Liberdade Financeira | Proteção de Ativos | Direitos Humanos | Segurança | Qualidade de Vida | Nota Total | Posição |
| Mônaco | 50 | 40 | 50 | 50 | 50 | 47,5 | 1º |
| Ilhas Maurício | 50 | 50 | 50 | 40 | 40 | 47,5 | 1º |
| Suíça | 40 | 50 | 50 | 50 | 50 | 47 | 3º |
| Portugal | 40 | 50 | 50 | 50 | 50 | 47 | 3º |
| Irlanda | 50 | 40 | 50 | 50 | 40 | 46,5 | 5º |
| Brasil | 30 | 20 | 50 | 20 | 30 | 30 | 101º |










