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O vazamento da informação de que a seleção brasileira de futebol teria uma segunda camisa vermelha para a Copa de 2026 causou furor nas redes sociais e na imprensa. A CBF não chegou exatamente a desmentir os boatos, apenas se manifestou dizendo que o martelo ainda não está batido sobre o uniforme B. O estrago, contudo, já está feito.
"É um imenso desrespeito com o símbolo nacional. Com um símbolo nacional a gente não faz política nem marketing. Amanhã o que a CBF vai fazer com a bandeira do Brasil? O que a gente vai fazer com nosso hino? Vamos trocar a letra para ver se agrada e vende mais?", pergunta André Marsiglia. O jurista foi um dos participantes do programa Última Análise, no canal do YouTube da Gazeta do Povo, que explorou como o caso da cor da camisa da seleção se relaciona a conceitos como patriotismo, identidade e pertencimento.
Para o cronista da Gazeta do Povo Paulo Polzonoff Jr, muitos se exibem como patriotas, especialmente em redes sociais, mas não param para pensar no significado da palavra. Ele citou um editorial da Gazeta para explicar a diferença entre patriotismo e nacionalismo. Os nacionalistas costumam rejeitar a abertura ao exterior, seja no aspecto econômico, comercial, tecnológico ou cultural. Já o patriotismo é integracionista, e busca ligar a nação com o resto do mundo visando o desenvolvimento. "O patriotismo é essencialmente integracionista, jamais rejeicionista".
Camisa vermelha para causar cisão
Para a advogada Anne Dias, ser patriota pode ser resumido como ter "amor pelo Brasil" - por sua cultura, tradição, heróis, língua e símbolos nacionais, como o futebol, ainda que o conceito de patriotismo tenha sido distorcido ao longo do tempo. Para ela, o conceito de patriota deveria ser, essencialmente, apolítico.
O jurista André Marsiglia lembrou da ideia de "bem comum", que explicaria o patriotismo, e destacou uma particularidade do caso brasileiro: "Ser brasileiro não é encontrar o que há de igual, porque há muita coisa desigual. Mas é abrir mão daquilo que não é igual. E o caminho que nós temos trilhado é exatamente o oposto".
O ataque a um símbolo dos brasileiros
A famigerada "camisa vermelha" da seleção brasileira reavivou a discussão ideológica, contrapondo direita e esquerda, agora no futebol. Polzonoff relevou a questão política e viu apenas uma campanha de marketing. Mas Dias divergiu: "Pela camisa amarela ter se tornado símbolo de um lado específico, houve uma tentativa de vingança".
Marsiglia concorda que houve intenção política e viu oportunismo da CBF em meio à crise técnica da seleção brasileira: "Ela simplesmente pensou que a nossa seleção não joga bola há muito tempo e que não vão vender nenhuma camisa. E como que faz para vender? Como não tem futebol para oferecer, a gente entra no âmbito da política".
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.



