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Governador do RJ

Gago e sem carisma, Cláudio Castro enfrenta o crime e pode se tornar herói improvável

O governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro está ganhando protagonismo com o combate ao crime organizado (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

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Até pouco tempo o nome do governador do Rio de Janeiro era praticamente desconhecido. Depois da maior operação policial da história recente do estado, Cláudio Castro (PL) virou assunto nacional. E não apenas nos jornais. Nas redes sociais, o “governador cantor católico” viralizou em vídeos em que aparece cantando, sendo até aplaudido de pé em uma igreja.

De uma hora para outra, ele tornou-se o rosto do combate ao crime organizado. É cedo, muito cedo, para dizer como ele será lembrado. Por causa do histórico recente, é melhor ter cautela antes de elogiar qualquer governador do Rio de Janeiro. Mas a ofensiva contra o Comando Vermelho parece ter resgatado a esperança dos bons cidadãos cariocas.  

Não por coincidência, a aprovação do governo do Rio subiu e a sua articulação política para que os Estados Unidos classifiquem o Comando Vermelho como organização terrorista começou a surtir efeitos

O que surpreende é o governador cantar tão bem se durante os seus discursos é visível que ele supera seus desafios vocais com a gagueira. De forma mais direta: como um gago (assumido) praticamente desconhecido e com carisma diminuto tornou-se governador do Rio de Janeiro e, ainda, teve a iniciativa de enfrentar, ao mesmo tempo, a maior facção criminosa do Estado e o aparato de ongs que atuam para dificultar o trabalho da polícia? 

Carreira pessoal e ascensão política 

Casado, pai de dois filhos, Cláudio Bomfim de Castro e Silva nasceu em Santos (SP), mas mudou-se para o Rio ainda criança. Formou-se em Direito, virou advogado e, antes de pensar em governar o Rio, destacou-se com seu talento que ainda hoje o acompanha: evangelizar através da música. 

Sua trajetória política começa, inclusive, dentro da Renovação Carismática Católica (RCC). Foi ali que ele iniciou sua articulação social e comunitária, que posteriormente se desdobraria em atuação política. Em 2004, ingressou formalmente na política ao assumir o cargo de chefe de gabinete do então vereador Márcio Pacheco (PSC-RJ), também músico e seu parceiro de composição. 

Após uma tentativa frustrada de se eleger vereador em 2012, Castro passou a trabalhar em Brasília assessorando o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), onde participou da redação do projeto que endureceu a Lei Seca. Em 2016, foi eleito vereador pelo PSC, e logo em seu primeiro mandato assumiu a mesa diretora da Câmara Municipal do Rio de Janeiro — feito inédito após 40 anos sem que um vereador de primeiro mandato ocupasse o posto. 

Sua primeira vitória eleitoral aconteceu graças a Carlos Bolsonaro (PL-SC), o mais votado da eleição, que levou Castro na rabeira da coligação pelo coeficiente eleitoral. Na época, o futuro governador teve apenas 10.262 votos, um décimo do que obteve o filho de Jair Bolsonaro. 

De vereador de primeiro mandato a vice-governador em menos de três anos 

Em 2018, o juiz Wilson Witzel (PSC) decidiu disputar o governo do Rio de Janeiro. À época, a candidatura era vista com descrença, cotada com apenas 1% nas pesquisas, em um cenário dominado por nomes competitivos como Eduardo Paes (PSD) e Romário (PL). O PSC precisava encontrar um nome para compor a chapa como vice, mas havia um impasse: o escolhido não poderia estar concorrendo a outros cargos, como deputado estadual ou federal, para não atrapalhar as alianças políticas. 

Castro foi convidado para a vaga por não ter intenção de seguir outro caminho eleitoral — estava no “auge” de sua atuação como vereador e não queria disputar novas eleições naquele ciclo. Se perdesse a disputa para vice-governador, o que era o resultado mais provável, ele continuaria na Câmara de Vereadores. Segundo Castro, ele “emprestou o nome apenas para completar a chapa.  

Como diz a música que ele viralizou cantando, “aquilo que parecia impossível”, aconteceu. Como um “milagre”, veio a vitória no segundo turno — em que desbancaram a candidatura de Eduardo Paes com 59% dos votos. Castro saiu da Câmara de Vereadores direto para o Palácio da Guanabara.  

Transição e assunção do governo do estado 

Eleito vice-governador, Castro afirmava não ter ambição de ocupar o Executivo. Chegou a dizer a Witzel, durante o período de transição, que pretendia se candidatar a deputado federal no futuro e que não representaria riscos ou disputas internas. Na prática, sua função foi próxima à de um chefe de gabinete político, já que o governador eleito não possuía experiência prévia em cargos eletivos. 

Em seu período como vice, Castro comandou o Detran e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ), onde coordenou mutirões de abastecimento durante a pandemia e distribuiu cestas básicas em dezenas de municípios fluminenses. Essa experiência o aproximou de gestores municipais e o ajudou a construir uma base eleitoral que seria essencial nas urnas de 2022. 

O governo do Rio de Janeiro “cai no seu colo” 

O cenário mudou no início da pandemia. Em 28 de agosto de 2020, Cláudio Castro assumiu o governo do estado após o afastamento de Wilson Witzel, determinado pelo Superior Tribunal de Justiça. A oficialização ocorreu em 1º de maio de 2021, quando a ampla maioria aprovou o impeachment de Witzel.

Castro se tornou governador de direito e, pouco antes disso, ingressou no PL, em evento ao lado do então presidente Jair Bolsonaro (PL) — que na época ainda nem era do partido, mas já fazia dele seu principal eixo político no Congresso.  

Ao assumir, encontrou um cenário crítico. Faltavam R$ 6,2 bilhões para fechar o ano, o que colocava em risco o pagamento de salários de novembro, dezembro e do 13º. Além disso, o Regime de Recuperação Fiscal estava prestes a expirar, o que exigiu uma série de iniciativas emergenciais para garantir a solvência financeira do estado. Foi a partir daí que intensificou contatos e articulações com o governo federal, dando início a uma nova fase de sua gestão.  

Pulso firme na segurança pública 

Já empossado como governador, Cláudio Castro colocou a segurança pública como prioridade número um. Durante entrevista para o Podcast “Fala Guerreiro” no início de julho, o governador explicou sua prioridade em modernizar as polícias e em investimentos estruturais inéditos no estado. Segundo Castro, o governo destinou mais de R$ 4,5 bilhões à área, valor muito acima do que foi aplicado durante a intervenção federal que ocorreu durante o governo de Michel Temer (MDB-SP). 

Entre as ações, ele citou a reforma de quase todos os batalhões, a compra recorrente de viaturas semi-blindadas, o fornecimento de armamentos modernos escolhidos diretamente pelas forças de segurança, além da implementação de tecnologia de ponta, como drones e a atualização do Centro de Comando e Controle, antes defasado desde 2014. Ele também destacou a criação do maior centro de treinamento policial da América Latina como parte da estratégia para uma política de segurança mais robusta. 

Castro também destacou medidas voltadas à valorização salarial e funcional dos servidores da área. Segundo ele, a Polícia Militar passou de um dos piores salários do país para figurar entre os três melhores, assim como a Polícia Civil.  

Em 2022, Cláudio Castro foi reeleito governador no primeiro turno com 58,61% dos votos contra Marcelo Freixo (PSB) que obteve 27,43%.

A amizade com Flávio Bolsonaro 

No mesmo podcast, Cláudio Castro disse que a parceria com o primogênito de Jair Bolsonaro é de longa data. Segundo ele, a amizade entre ambos começou na infância, quando moravam na mesma região. Castro vivia na rua Campos Sales, enquanto Flávio Bolsonaro (PL-RJ) residia na rua Ibituruna, distantes cerca de dois km. Em tom bem-humorado, o governador relembrou episódios da época, contando que costumava dar “cascudos” no futuro senador. Ele mesmo reconhece que Flávio negaria a história, mas garante a veracidade do relato “enquanto está com o microfone na mão”. 

A cumplicidade entre os dois avançou para a vida pública. Em 2016, foram colegas de chapa eleitoral: Castro foi eleito vereador no Rio de Janeiro, enquanto Flávio concorria ao cargo de prefeito. Na época, ambos estavam no PSC. Pouco depois, Flávio Bolsonaro migrou para o PSL, enquanto Castro aceitou o convite para formar chapa como vice de Wilson Witzel, então candidato ao governo do estado. 

Quando Witzel foi afastado do cargo em 2020, Castro assumiu interinamente o governo e, logo em seguida, buscou apoio no âmbito federal. Segundo relato do próprio governador, ele telefonou para o senador, a quem chamou de “grande amigo”, e afirmou que eventuais disputas políticas no Rio (que ocorreram entre Witzel e Jair Bolsonaro) estavam superadas. Na ocasião, disse ao senador que o presidente “teria que ajudar o Rio de Janeiro”. 

A partir dessa articulação, o governo estadual conseguiu prorrogar o Regime de Recuperação Fiscal e assegurar auxílio federal para a recuperação de ativos. 

Popularidade

O político-cantor já gravou dois álbuns: "Em Nome do Pai" em 2011, e, em 2015, "Dia de Celebração". Ambos nasceram dentro de um ministério jovem, formado por ele e amigos da paróquia São Francisco de Paula, na Barra da Tijuca.  

No aplicativo Spotify, ele possui apenas 670 ouvintes mensais. Mas se sua audiência musical é baixa, sua popularidade política triplicou após a Operação. De 460 mil, agora ele tem mais de 2,1 milhões de seguidores só no Instagram. 

Se sobreviver às armadilhas da política e mantiver a ofensiva contra o crime, o político Cláudio Castro pode se tornar um herói improvável e conseguir aquilo que, como cantor, não chegou perto de alcançar: um lugar na história.  

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