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Equipes de combate a incêndio tentam conter o fogo na  plataforma de petróleo Deepwater Horizon, na costa da Louisiana, nesta foto de arquivo, de 21 de abril de 2010. | SAV/rob/DLHO
Equipes de combate a incêndio tentam conter o fogo na  plataforma de petróleo Deepwater Horizon, na costa da Louisiana, nesta foto de arquivo, de 21 de abril de 2010.| Foto: SAV/rob/DLHO

Em geral, o rigor para lidar com incidentes de grande porte é um bom parâmetro para avaliar o quanto um país é desenvolvido.

Leia mais: O que aconteceu com os responsáveis pelas piores tragédias do Brasil?

Essa é a conclusão a que se chega quando se avalia a maneira como diferentes nações lidaram com grandes tragédias, naturais ou industriais.

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Conheça dez casos que aconteceram nas últimas décadas e saiba como ficaram as vítimas e os responsáveis.

1. Mercúrio na água 

Quando: 1932 a 1968 

Onde: Minamata (Japão) 

Mortos: 1.780 

Vítimas: 3.000 

O que aconteceu: Durante três décadas, a empresa eletroquímica Chisso jogou mercúrio nas águas da região. A comunidade médica só começou a fazer a relação entre a atividade da indústria e a saúde dos moradores a partir de 1956. Na época, a empresa escondeu relatórios incriminadores, produzidos internamente — técnicos da empresa mergulhavam gatos na água contaminada e registravam as doenças que eles passavam a desenvolver. Enquanto isso, as pessoas da região seguiam nascendo deformadas e tanto humanos quanto animais sofriam convulsões e paralisação dos membros. E a empresa prosseguiu lançado mercúrio na água. 

Responsáveis: A área só começou a ser descontaminada a partir de 1969, quando o governo reconheceu que havia sido omisso no caso. Até hoje, a empresa continua lidando com processos e pagando indenizações. Mas nenhum envolvido foi preso. 

2. Nuvem radioativa 

Quando: 29/09/1957 

Onde: Kyshtym (Rússia) 

Mortos: 8.000 

Vítimas: 18.000 

O que aconteceu: A União Soviética acumulou uma longa história de tragédias nucleares. Um dos menos conhecidos, ainda que o terceiro mais devastador da história depois de Chernobyl e Fukushima, aconteceu quando o sistema de resfriamento de um reator de usina de Mayak entrou em colapso e ninguém percebeu. Um tanque com 70 toneladas de líquido radioativo aqueceu, explodiu e dispersou componentes radioativos na atmosfera, por uma área de 30 mil quilômetros quadrados. Na época, os russos esconderam o incidente e retiraram, ao longo de dois anos, 10 mil pessoas que viviam em 22 vilarejos da região. 

Responsáveis: Ninguém foi punido. A usina parou de processar plutônio em 1987, mas continua ativa. E o solo da região ainda hoje está contaminado.  

3. Barragem rompida 

Quando: 27/02/1972 

Onde: Condado de Logan (Estados Unidos) 

Mortos: 125 

Vítimas: 4.000 

O que aconteceu: Quatro dias depois de um inspetor federal vistoriar a mina construída na Virgina Ocidental, a barragem construída para conter resíduos de carvão desmoronou. Mais de 500 mil metros cúbicos de pasta de carvão foram lançados, na forma de ondas negras de até 9 metros de altura. Casas, empresas, minas e áreas de plantio e pastoreio foram arrasados

Responsáveis: A Companhia Pittston de Carvão foi processada pelo governo local em US$ 100 milhões, mas chegou a um acordo e pagou apenas US$ 1 milhão. As vítimas se uniram e conseguiram US$ 13,5 milhões para serem divididos entre 625 sobreviventes. Em um segundo processo, a empresa acabou pagando US$ 4,8 milhões, distribuídos entre as famílias de cada uma das 348 crianças sobreviventes. 

4. Agente laranja no ar 

Quando: 10/07/1976 

Onde: Seveso (Itália) 

Mortos: 80 

Vítimas: 30.000 

O que aconteceu: Existe um motivo para o composto 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (o TCDD) ser conhecido pelo apelido “dioxina de Seveso”. O componente, que também está na base da arma química agente laranja, é um sólido cristalino que, em contato com o sangue, provoca câncer. Causa tonturas, dores de cabeça, lesões na pele e diarreia. Ele se espalhou pelo céu da cidade italiana, que fica a 20 quilômetros de Milão, quando uma válvula defeituosa liberou no ar triclorofenol – a substância é usada para produzir produtos de limpeza, mas, aquecida, reage e se torna dioxina. De repente, pássaros começaram a cair mortos do céu e dezenas de crianças foram internadas às pressas. A cidade italiana precisou incinerar — ou abater — mais de 75 mil animais. 

Responsáveis: O julgamento levou dois diretores da Hoffman-La Roche para a cadeia por dois anos e meio. A empresa bancou a limpeza da região e pagou indenizações para as vítimas, no valor total de US$ 162 milhões. 

5. Cegueira coletiva 

Quando: 03/12/1984 

Onde: Bhopal (Índia) 

Mortos: 3.787 

Vítimas: 550.000 

O que aconteceu: A fábrica de pesticidas Union Carbide liberou por acidente 40 toneladas de gases tóxicos no ar. As mais de 500 mil pessoas que moravam nos arredores começaram a sentir ardência nos olhos e na garganta. Muitas estavam dormindo – era madrugada – e mal tiveram tempo de reagir antes de morrer sufocadas. Milhares de pessoas sobreviveram, mas ficaram cegas. 

Responsáveis: Primeiro a empresa demorou para avisar as autoridades e comunicar a população local. Depois dificultou as investigações. Por fim, se defendeu alegando que havia sido vítima de um ato de sabotagem. O governo local demorou décadas para punir os responsáveis pelo incidente: sete antigos funcionários da empresa foram condenados, apenas em 2010, a dois anos de cadeira e uma multa de apenas US$ 2 mil. 

6. Cidade fantasma 

Quando: 25/04/1986 

Onde: Pripyat (Ucrânia) 

Mortos: 31 

Vítimas: 350.000 

O que aconteceu: Técnicos realizavam testes que provocaram uma explosão na usina de energia elétrica de Chernobyl quando uma explosão provocou um incêndio que demorou nove dias para ser controlado. A nuvem radioativa que se formou atingiu a Europa Ocidental e forçou o governo russo a remanejar 350 mil pessoas, que tiveram que sair de casa às pressas sem saber o motivo – muitas depois ficariam doentes. 

Responsáveis: Seguindo o padrão soviético, ninguém foi punido e o governo tentou encobrir o incidente. Não conseguiu porque pesquisadores da Suécia perceberam que havia um aumento dos níveis de radiação no país, e a descoberta levou a investigações em massa por todo o continente, de forma que foi possível estimar o alcance real da nuvem radioativa e calcular a quantidade de vítimas diretas e indiretas. A usina de Chernobyl só foi fechada em 2000.  

Chernobyl, Ucrânia: o quarto reator da usina nuclear de Chernobyl é visto nesta foto de arquivo, de julho de 1986. Igor Kostin/Reuters

7. Óleo no mar 

Quando: 24/03/1989 

Onde: Enseada do Príncipe Guilherme (Estados Unidos) 

Mortos: 0 

Vítimas: 0 

O que aconteceu: O petroleiro Exxon Valdez ficou encalhado, o casco rompeu e 250 mil barris de óleo foram lançados na costa do Alasca. Era difícil manobrar na região, mas o capitão Joseph Hazelwood estava ausente porque havia bebido demais e passado mal. O impacto para a vida marinha foi enorme: 250 mil pássaros, 250 águias e 22 baleias orcas morreram. A economia local perdeu US$ 2,4 bilhões

Responsáveis: A empresa pagou uma multa de US$ 507 milhões ao governo do estado do Alasca, gastou US$ 3,8 bilhões para limpar a região e indenizou 11 mil pescadores que perderam o ganha-pão. O capitão foi condenado por negligência, pagou uma multa de US$ 50 mil e cumpriu mil horas de serviço comunitário. 

8. Punição rápida 

Quando: 20/02/2003 

Onde: West Warwick (Estados Unidos) 

Mortos: 100 

Vítimas: 230 

O que aconteceu: Um incidente muito parecido com o da boate Kiss, no Brasil: eram 23h quando a banda de rock Great White entrou no palco da boate The Station. O empresário então acendeu sinalizadores, que acertaram o teto, acertaram a espuma acústica e provocaram um incêndio. Boa parte dos corpos foi encontrada amontoada na entrada principal – morreram tentando sair

Responsáveis: Demorou apenas três anos e sete meses para que os responsáveis pelo incidente fossem punidos. Quanto aos donos do empreendimento, Jefrey Derderian foi condenado a três anos em liberdade condicional e 500 horas de serviços comunitários e seu irmão Michael foi punido com quatro anos em condicional. Já Daniel Biechel foi punido com quatro anos em regime fechado. As seguradoras da casa de shows e da banda pagaram um total de US$ 115 milhões em indenizações. 

9. Fogo no mar 

Quando: 20/04/2010 

Onde: Golfo do México (Estados Unidos) 

Mortos: 11 

Vítimas: 17 

O que aconteceu: A British Petroleum precisou de 87 dias para conter o vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, que explodiu depois que gás metano sob alta pressão vazou. Quando a situação foi finalmente controlada, mais de 780 mil metros cúbicos de óleo já estavam no mar

Responsáveis: A empresa foi alvo de dezenas de relatórios detalhados – incluindo um mea culpa parcial produzido por seus próprios técnicos. Acabou submetida a quatro anos de auditoria governamental interna de seus processos de segurança e foi temporariamente impedida de assinar novos contratos com o governo americano. A British Petroleum pagou US$ 4,25 bilhões em multas para o governo e mais de US$ 40 bilhões em indenizações. 

10. Fukushima 

Quando: 11/03/2011 

Onde: Okuma (Japão) 

Mortos: 1 

Vítimas: 18 

O que aconteceu: Um tsunami, seguido por um terremoto, provocou o derretimento de reatores da usina nuclear, além de explosões que liberaram material radioativo no ar ao longo de três dias. 

Responsáveis: Se essa lista começa com um caso de displicência da parte do governo japonês, esse episódio foi tratado de forma completamente diferente. Apesar de o incidente ter acontecido em decorrência de duas tragédias naturais consecutivas, o relatório formado por uma comissão independente concluiu que a explosão poderia ter sido evitada se algumas medidas obrigatórias de segurança tivessem sido tomadas. O caso, diz o texto, “não pode ser considerado um desastre natural. Foi um desastre provocado por mãos humanas, que poderia ser prevenido”. A empresa que projetou a usina, a americana General Eletric, responde a processo no Japão, assim como a prefeitura de Fukushima e a Companhia Elétrica de Tóquio.

Uma foto de divulgação mostra o reator da usina nuclear de FukushimaMJC/ro/ch/CKHO
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