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Coragem: a arma imbatível que os tiranos mais temem

William H. McRaven parte de um episódio envolvendo Saddam Hussein para mostrar como a coragem é uma das mais forças mais poderosas contra a tirania — seja na política, no trabalho ou na vida pessoal
William H. McRaven parte de um episódio envolvendo Saddam Hussein para mostrar como a coragem é uma das mais forças mais poderosas contra a tirania — seja na política, no trabalho ou na vida pessoal (Foto: Imagem criada utilizando ChatGPT/Gazeta do Povo)

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Em 2014, o almirante William H. McRaven, um dos mais respeitados oficiais da Marinha americana, foi convidado a discursar para formandos da Universidade do Texas. Inspirado no lema da instituição — “Mudar o mundo começa aqui” —, ele compartilhou algumas lições que aprendeu como integrante dos SEALs, a força de elite das Operações Especiais dos EUA.

Seu discurso viralizou, com mais de 20 milhões de visualizações, e acabou dando origem ao livro “Arrume a Sua Cama” (editora Intrínseca), best-seller mundial que acaba de ganhar uma nova edição no Brasil. Ao longo de dez capítulos, McRaven conta como a vida na Marinha moldou sua visão sobre disciplina, resiliência e determinação — valores que, segundo ele, são essenciais não apenas no campo de batalha, mas também na vida cotidiana.

No trecho a seguir, o autor narra um episódio marcante envolvendo Saddam Hussein, após sua captura. Além de constituir um registro histórico, a passagem serve como uma reflexão poderosa: tiranos podem prosperar pelo medo e a intimidação, porém a verdadeira arma contra eles — seja na política, no trabalho ou na vida pessoal — é a coragem.

Saddam Hussein, o agora ex-presidente do Iraque, estava sentado à beirada de uma cama de campanha, usando um macacão laranja. Capturado 24 horas antes pelas forças norte-americanas, ele se tornara um prisioneiro dos Estados Unidos.

Quando abri a porta para deixar os novos líderes do governo iraquiano adentrarem o cômodo, Saddam continuou sentado. Deu um sorriso irônico, e não havia sinal de remorso ou submissão em sua atitude.

De imediato, os quatro líderes iraquianos começaram a gritar com ele, porém de uma distância segura. Com olhar de desprezo, Saddam sorriu de um jeito macabro para eles e fez um gesto para que se sentassem.

Ainda temerosos do antigo ditador, cada um tomou lugar em uma cadeira dobrável. Os gritos e dedos em riste continuaram, mas foram diminuindo assim que o ex-ditador começou a falar.

Sob Saddam Hussein, o partido Baath foi responsável pela morte de milhares de xiitas iraquianos e dezenas de milhares de curdos. O próprio Saddam havia executado pessoalmente alguns de seus generais, que na opinião dele tinham sido desleais.

Embora eu tivesse a certeza de que Saddam nunca mais seria uma ameaça para os outros homens naquela sala, os líderes iraquianos não compartilhavam do mesmo sentimento. O medo nos olhos deles era inegável.

O Carniceiro de Bagdá aterrorizou durante décadas toda uma nação. O culto à personalidade atraiu para ele seguidores do pior tipo.

Seus capangas assassinos brutalizaram inocentes e forçaram milhares a deixar o país. Ninguém no Iraque fora corajoso o suficiente para desafiar o tirano.

Em minha cabeça, não havia dúvida de que aqueles novos líderes ainda morriam de medo do que Saddam poderia ser capaz de fazer… mesmo atrás das grades.

Se o objetivo do encontro era mostrar a Saddam que ele não estava mais no poder, tinha sido um fracasso. Naqueles breves instantes, ele conseguiu intimidar e amedrontar os líderes do novo regime. Parecia mais confiante que nunca.

Quando os líderes iraquianos foram embora, orientei meus guardas a isolarem o ex-presidente em uma sala pequena. Proibi visitantes, e os guardas designados tinham ordens para não falar com Saddam.

Ele não era mais importante

Ao longo do mês seguinte, fiz visitas à salinha todos os dias. Todos os dias Saddam se levantava para me cumprimentar, e todos os dias, sem falar nada, eu fazia um movimento para que se sentasse de novo na cama.

A mensagem era explícita. Ele não era mais importante. Ele não podia mais intimidar aqueles à sua volta. Ele não podia mais incutir medo em seus súditos. O palácio reluzente não existia mais.

As camareiras, os serviçais e os generais não existiam mais. O poder não existia mais. A arrogância e a opressão que definiram seu regime tinham acabado

 Jovens e corajosos soldados norte-americanos tinham lutado contra sua tirania, e, como consequência, ele não representava mais uma ameaça a ninguém. Trinta dias depois, transferi Saddam Hussein para uma unidade policial militar apropriada, e no ano seguinte os iraquianos o enforcaram por seus crimes contra a nação.

Os valentões são todos iguais, quer estejam no pátio da escola, quer estejam no local de trabalho ou comandando um país na base do terror.

Prosperam pelo medo e pela intimidação; obtêm a própria força graças aos tímidos e aos fracos de espírito; são como tubarões que sentem o medo dos outros debaixo da água; fazem círculos para conferir se a presa está em dificuldade; testam para ver se a vítima é fraca.

Se você não encontrar coragem para aguentar firme, eles atacam.

Na vida, para atingir suas metas, para completar a travessia noturna, você precisa ser uma pessoa de grande coragem. Essa coragem está dentro de todos nós. Busque bem fundo, e você a encontrará em abundância.

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Conteúdo editado por: Omar Godoy

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