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Força argentina

De “irmão” latino rejeitado a “escolhido” de Trump: A reviravolta de Milei

Milei recebe do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, o Prêmio Cidadão Global de 2025, do think tank americano Atlantic Council (Foto: Ángel Colmenares/EFE)

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O governo do presidente argentino Javier Milei é cheio de altos e baixos. Na mais recente montanha-russa, o “libertário” saiu de uma semana difícil, marcada por derrotas políticas nas eleições em Buenos Aires, viajou aos Estados Unidos e retornou mais fortalecido com o apoio político e financeiro da direita americana.

Depois da resistência inicial e críticas aos cortes que promoveu no governo para enxugar os gastos no início do seu mandato, Milei teve um período de trégua. A austeridade e as reformas econômicas deram resultados significativos na queda da pobreza e no ajuste fiscal.

Fase de bons resultados

O governo Milei promoveu um forte ajuste fiscal, que representou cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa política resultou no equilíbrio do orçamento e no controle da inflação, que, embora ainda alta, apresentou uma queda significativa em comparação com os picos anteriores.

No primeiro semestre de 2025, a pobreza na Argentina recuou para 31,6% da população urbana, segundo o Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos). Este é o menor índice desde o primeiro semestre de 2018, quando o índice havia sido de 27,3%.

O presidente defende que a principal medida para a redução da pobreza é a queda da inflação. Nos últimos três meses, ela ficou abaixo de 2%, algo que não acontecia desde novembro de 2017, de acordo com os dados divulgados pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) argentino.

O IPC também registrou um aumento no índice de salários, com alta de 3% em julho em relação ao mês anterior. O reajuste salarial é um dado de destaque no país, especialmente porque as políticas “agressivas” de Milei tinham, inicialmente, representado uma alta nos preços ao consumidor.

Problemas políticos

Nas últimas semanas, no entanto, houve um novo revés político. O grupo de oposição peronista Fuerza Ampla venceu Milei nas eleições de Buenos Aires para renovar o Congresso argentino. O resultado é crucial para a governabilidade do presidente, pois determina seu apoio na Câmara e no Senado. Em outubro, os argentinos escolherão os ocupantes de 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados federal e de 24 dos 72 assentos do Senado.

Na Argentina, além das eleições presidenciais, a cada dois anos acontece a eleição legislativa nacional, um sistema de renovação do Congresso que coincide com o meio período de governo. É um termômetro da gestão do presidente em exercício e da força política para o fim do seu mandato.

Essas eleições legislativas acontecerão no dia 26 de outubro, mas em setembro ocorreram as eleições legislativas “provinciais” de Buenos Aires, também chamadas de “bonaerense”, as quais são consideradas uma prévia da nacional. Isso porque, apesar de ser regional, a capital argentina concentra 37% do eleitorado total do país e um terço do PIB do país.

O resultado das urnas das eleições de Buenos Aires refletiu ainda a escalada de críticas à direita argentina e a ascensão do adversário de Milei para a eleição presidencial de 2027: o governador da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof.

Um fator que pesou nessa contagem eleitoral foi uma denúncia envolvendo a irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, Karina Milei. As acusações são de que ela seria supostamente beneficiária de um esquema de cobrança de propinas na compra de medicamentos. A oposição, capitaneada por Cristina Kirchner, explorou o assunto para minar a popularidade de Milei.

O chefe do gabinete de Milei, Guillermo Francos, por sua vez, disse que as acusações são uma “operação política” com o objetivo de desestabilizar a Argentina.

Diante da impopularidade e pressão sobre o caso, antes de os argentinos irem às urnas, o presidente precisou ser retirado de uma caravana pública que fazia na capital após manifestantes atirarem garrafas e pedras contra o carro em que estava.

No mês passado, também houve tumultos na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA) e em Corrientes, onde eleições provinciais foram realizadas em 31 de agosto.

A reviravolta

A viagem oficial aos Estados Unidos, entretanto, mudou o tom da narrativa. O “irmão” latino rejeitado ganhou apoio político, econômico e em sua imagem internacional, dando um sinal claro a especuladores e aos mercados financeiros de que a direita argentina volta fortalecida.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniu-se em Nova York com Milei durante a Assembleia Geral da ONU, chamando-o de “excelente líder”. O chefe da Casa Branca declarou apoio total ao seu governo e à sua reeleição.

“Nós o apoiamos 100%. Ele fez um trabalho fantástico”, disse Trump.

Mais do que o apoio político, Trump prometeu ajuda econômica à Argentina: “Vamos ajudá-los. Não acho que precisem de um pacote de socorro. Scott (Bessent, secretário do Tesouro) está trabalhando com o país para que consiga financiamento adequado e tudo o que é necessário para fazer a Argentina voltar a ser grande”, declarou.

A imagem de Milei também ganhou força externa ao ser homenageado pelo think tank americano Atlantic Council com o Prêmio Cidadão Global de 2025 em sua visita a Nova York.

Além disso, o Banco Mundial anunciou que aceleraria a liberação de até US$ 4 bilhões (R$ 21,2 bilhões) em investimentos e financiamentos público-privados na Argentina, voltados a setores como mineração, energia e pequenas e médias empresas, em apoio às reformas do governo Milei.

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