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Lucena, no litoral da Paraíba, é uma cidade de contrastes. Possui praias de água azul-transparente e areia branca, belas palmeiras e boas opções de passeio. Ao mesmo tempo, para quem reside lá, o município pode não ser tão interessante — e é possível que nem as paisagens inspiradoras compensem. Os indicadores de violência, educação, saúde, infraestrutura e economia são tão ruins que a fizeram ficar em último lugar no Ranking das Cidades para morar no Brasil, elaborado pela Gazeta do Povo. A cidade compartilha a posição com São Francisco de Itabapoana (RJ). Ambas receberam uma 2,77 pontos em uma escala de 0 a 10.
De acordo com dados do Censo 2022, apenas 1% das residências de Lucena têm descarte de esgoto ligado à rede, somente 37% das vias são pavimentadas e a menor parte (40%) das ruas possui calçadas. Segundo o Ministério da Saúde, a cidade de 13 mil habitantes conta com apenas 6 médicos e não possui leitos para internação. No aspecto econômico, o município não se destaca: o salário médio mensal dos moradores é de R$ 1.976, muito abaixo da média nacional, e apenas 2.475 pessoas possuem empregos formais. Quase um em cada cinco (18,8%) dos moradores vive em favelas, um número próximo ao da cidade do Rio de Janeiro. Por fim, as finanças públicas vão mal. Lucena recebeu nota 0 no critério Capacidade de Pagamento.
Os indicadores educacionais tampouco pontuam bem. As notas das escolas de Lucena (PB) no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estão entre as 400 piores entre os 5.570 municípios do país. A taxa de alfabetização é de 86% e apenas 6% dos residentes possuem formação de nível superior.
A violência também chama a atenção. De acordo com o Atlas da Violência, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Lucena (PB) teve 21 homicídios registrados entre 2019 e 2023 (último ano do levantamento). Valinhos (SP), por exemplo, que tem 132 mil habitantes (ou seja, uma população 10 vezes maior que a de Lucena), teve 13 assassinatos registrados no mesmo período.
A situação é parecida com a de São Francisco de Itabapoana, que também é uma cidade litorânea, com belas paisagens e indicadores que desanimam quem pense em morar no local: taxa de homicídios elevada, alfabetização em 86% (abaixo da média nacional), apenas 3% de imóveis com acesso à rede de esgoto e menos da metade das ruas com pavimentação. A violência é assustadora: apenas em 2023, a cidade de 47,4 mil habitantes teve 38 homicídios. Naquele ano (os dados mais recentes disponíveis), o índice foi de 80 assassinatos por 100 mil habitantes.
Confira os 10 últimos colocados na classificação.
Quer saber em que posição ficou a sua cidade? Busque na tabela interativa ao fim desta reportagem.
As 10 piores notas do Ranking da sCidades
- Araçoiaba (PE) - 2,99<br>
- Amajari (RR) - 2,98<br>
- Lagoa de Pedras (RN) - 2,97<br>
- Envira (AM) - 2,96<br>
- Alto Alegre (RR) - 2,95<br>
- Maracaçumé (MA) - 2,94<br>
- Santa Bárbara do Pará (PA) - 2,87<br>
- Cruz do Espírito Santo (PB) - 2.82<br>
- Francisco de Itabapoana (RJ) 2,77<br>
- Lucena (PB) - 2,77
Regiões desfavorecidas
Apesar de São Francisco de Itabapoana (RJ) estar no último lugar no ranking, apenas outras quatro cidades do eixo Sul-Sudeste aparecem entre as 100 com piores notas: Claro dos Poções e Periquito, ambas em Minas Gerais; São Domingos do Norte, no Espírito Santo; e Almirante Tamandaré, no Paraná. Todas as outras 95 são do Norte ou Nordeste, distribuídas da seguinte forma:
- Bahia: 15
- Pará: 11
- Pernambuco: 10
- Alagoas: 9
- Amazonas: 9
- Maranhão: 9
- Paraíba: 7
- Sergipe: 6
- Amapá: 4
- Rio Grande do Norte: 4
- Tocantins: 4
- Ceará: 3
- Roraima: 2
- Acre: 1
- Piauí: 1
As capitais com as piores notas
Seguindo a lógica geral do ranking, as capitais com as piores notas foram justamente de Norte e Nordeste. Com pontuação final de 4,74, Teresina ficou na posição 3.770 da classificação geral e na mais baixa entre as capitais. Na cidade de quase um milhão de habitantes, cerca de 20% das residências estão em bairros considerados favelas e apenas 40% das casas estão conectadas à rede de esgoto, de acordo com dados do Censo 2022. O salário médio mensal na cidade é de R$ 3.330, e a taxa de homicídios é de mais de 132 mortes para cada 100 mil habitantes.
As 10 capitais com piores notas são:
- Boa Vista (RR) — 5,38
- Salvador (BA) — 5,38
- Maceió (AL) — 5,30
- Porto Velho (RO) — 5,29
- Rio Branco (AC) — 5,10
- Natal (RN) — 5,00
- Manaus (AM) — 4,96
- Fortaleza (CE) — 4,94
- Macapá (AP) — 4,85
- Teresina (PI) — 4,74
Piores cidades médias
Entre as cidades médias, aquelas que possuem entre 100 mil e 500 mil habitantes, a pior nota ficou com Almirante Tamandaré, no Paraná. Contribuíram para a nota final ruim um índice alto de homicídios — mais de 137 por ano para cada 100 mil habitantes — e o baixo número de empregos formais. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), só 12% dos 125 mil moradores da cidade têm trabalhos formais, carteira assinada. E o número de empresas registradas na cidade (que não passa de 30 para cada 100 mil moradores) não parece compensar esse baixo número de trabalhadores formais.
Além disso, o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) registrou mais de 140 moradores de rua no município, e o SUS teve mais de 199 internações por uso de drogas só em 2025. Os dados do Censo 2022 ainda apontam que 22% dos moradores da cidade residem em bairros considerados favelas.
As dez piores cidades médias para morar no Brasil são:
- Caucaia (CE) — 3,77
- Parintins (AM) — 3,77
- Maranguape (CE) — 3,72
- Timon (MA) — 3,71
- Marituba (PA) — 3,69
- Bragança (PA) — 3,62
- São Gonçalo do Amarante (RN) — 3,55
- Manacapuru (AM) — 3,40
- Santa Rita (PB) — 3,33
- Almirante Tamandaré (PR) — 2,99
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Na ferramenta abaixo, você pode buscar sua cidade pelo nome. Todos os 5.570 municípios brasileiros estão listados.
Cálculo da nota
O ranking da Gazeta do Povo considerou 27 indicadores nacionais, que são divididos em 10 categorias diferentes. Os mais relevantes ganharam peso maior no cálculo. Confira abaixo os indicadores contabilizados em suas categorias.
- Homicídios — peso 4
Taxa de Homicídios 2019-2023. Fonte: IPEA – Atlas da Violência / Estatísticas de Homicídios.
- Suicídio — peso 1
Suicídios (2024). Fonte: DATASUS/Tabnet.
- Moradores de rua, favela, dependentes químicos — peso 3
Famílias em situação de rua. Fonte: CADÚnico (CADUNC) (Outubro de 2025).
Percentual de moradores em favelas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
- Educação — peso 2
População com diploma superior. Fonte: IBGE – Censo 2022.
Taxa de alfabetização. Fonte: IBGE – Censo 2022.
Nota IDEB Anos Finais do Fundamental. Fonte: INEP – IDEB 2023.
Nota IDEB Ensino Médio. Fonte: INEP – IDEB 2023.
Vagas presenciais no ensino superior. Fonte: Censo da Educação Superior 2024.
- Economia — peso 3
Número de vagas de empregos formais. Fonte: CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Agosto 2025).
Salário mensal médio. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023.
Número de empresas atuantes. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023.
PIB per capita 2021. Fonte: IPEA.
- Saúde — peso 2
Internações por uso de drogas (jan/2024–set/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Número de médicos (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Total de leitos de internação (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Mortes evitáveis de 0 a 4 anos (2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
- Mortes no Trânsito — peso 1
Mortes no trânsito por 100 mil habitantes. Fonte: DATASUS (2024).
- Infraestrutura urbana — peso 3
Porcentagem de domicílios com esgotamento sanitário. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Porcentagem de domicílios com coleta de lixo. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Arborização urbana. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Vias pavimentadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Bueiros e bocas de lobo (%). Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Iluminação pública. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Porcentagem de calçadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
- Saúde financeira do município (Capacidade de Pagamento) — peso 2
Capacidade de Pagamento do município. Fonte: Tesouro Nacional – CAPAG.
- Salas de Cinema — peso 1
Número de salas de cinema. Fonte: ANCINE – 2025.



