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Irmãos de Honra é um relato apreensivo dos problemas de Jesse Brown (Jonathan Majors) como o primeiro aviador negro da Marinha dos EUA em meio à Guerra da Coreia
Irmãos de Honra é um relato apreensivo dos problemas de Jesse Brown (Jonathan Majors) como o primeiro aviador negro da Marinha dos EUA em meio à Guerra da Coreia| Foto: Reprodução YouTube

Elizabeth Taylor (interpretada por Serinda Swan) faz uma aparição surpresa no filme militar Irmãos de Honra, que nos permite apreciar o contexto da narrativa. Retratada como uma jovem estrela de cabelos escuros, perfeitamente bronzeada e mundialmente famosa, curtindo a vida noturna no Festival de Cinema de Cannes de 1950, Taylor volta sua atenção a um grupo de pilotos navais norte-americanos de folga – especialmente ao aviador negro Jesse Brown (Jonathan Majors). Ela exibe seu sorriso de estrela de cinema e flerta: “Eu não sabia que eles permitiam que pessoas de cor pilotassem aviões. Que esclarecidos!” Noblesse oblige – os seus brilhantes olhos violeta e a sua voz encantadora são um sinal de mil watts de aprovação de Hollywood ao avanço moral e social da América.

Tudo o mais no filme é uma decepção peculiar. Não se trata de uma cinebiografia de Taylor, mas de um relato apreensivo dos problemas de Brown como o primeiro aviador negro da Marinha dos EUA em meio à Guerra da Coreia. O diretor J. D. Dillard e os roteiristas Jake Crane e Jonathan Stewart tratam a ascensão de Brown como se estivessem fazendo uma emenda constitucional para Top Gun: Maverick. Mas Irmãos de Honra – apesar do título – não oferece a elevação patriótica de Maverick. Fica entre explorar a vitimização de Brown e desinflar a valentia norte-americana.

Irmãos de Honra se contradiz constantemente. Contado da perspectiva do piloto branco Tom Hudner (Glen Powell), a ideia é educar o público sobre a luta dos negros. Hudner trabalhava em parceria com Brown, mas a camaradagem profissional dos dois é quase antagônica. Powell interpretou o superconfiante tenente Hangman de Top Gun: Maverick, mas ele não consegue sorrir mais do que um arquétipo de Elizabeth Taylor, e Hudner não dá conta de obter a amizade de Brown. A habilidade de Brown em um francês de nível escolar ajuda Hudner a conquistar algumas jeunes filles ao emprestar a ele a sua medalha.

Essa irmandade militar (“nós trazemos todos para casa”) oscila entre o ideal millenial expresso nos comerciais de cerveja e o espectro do racismo que assombra Brown. Hudner nunca percebe o sofrimento de Brown até que um mal-entendido provoca uma confissão angustiada: “Você sabe como estou cansado de pessoas tentando me ajudar enquanto me olham de forma sobranceira?”.

A grande revelação do filme ocorre quando Brown confidencia sua miséria particular a Hudner e a nós. Somos atingidos por uma injúria que Hudner já havia ouvido, mas não entendido. Olhando para um espelho em um close-up, Brown sorri, se desfaz em uma careta e depois em uma explosão de lágrimas: “Você não é merda nenhuma. Você nunca vai pousar aquele avião! Sua bunda de macaco nem deveria estar voando”.

A confissão de Brown tem a intenção de chocar, mas faz com que o filme imploda. É seguida por um monólogo que revela a autopiedade que os cineastas tentavam evitar. Brown recorda: “O teste de natação na escola de aviação, eles me obrigaram a fazer dez vezes. Eles não acreditavam que um negro sabia nadar. Eles colocaram gelo na água. Colocaram pesos no meu traje de voo. Me seguraram. Eles não teriam se importado se eu morresse naquela piscina, mas todas as vezes eu consegui sair”.

Em 1999, identifiquei um monólogo semelhante em Instinto, filme em que Cuba Gooding Jr. interpretou um psiquiatra negro designado para analisar um antropólogo branco (Anthony Hopkins) que surtou nas selvas da África. O personagem de Gooding descreveu entre lágrimas seus sacrifícios na carreira e sua abnegação – o oposto dos instintos de vingança representados pelo profissional branco de Hopkins. Esse thriller psicológico era a velha maneira de Hollywood de representar a autoestima negra. Já Irmãos de Honra mostra a condescendência atual, pós-George Floyd.

O Jesse Brown da vida real é imaginado como um desastre psicológico. “Cada palavra odiosa que alguém já me disse, eu anotei. Eu as repeti para mim mesmo. Faço isso desde menino. Isso ajuda.” Mas isso apenas ajuda a mídia e os políticos a apadrinhar a patologia negra norte-americana. O filme priva Brown do orgulho intelectual e patriótico que motiva os profissionais militares (aludido brevemente em flashbacks de Brown com sua bondosa esposa, habituada ao sofrimento).

É o infortúnio de Jonathan Majors que sua semelhança com George Floyd influencie a condescendência racista de Hollywood. O ódio e o abuso contra si mesmo que Brown internalizou vão de encontro a qualquer esforço de memória ou heroísmo. Majors parece arrojado em vestes brancas e faz o monólogo do espelho com desenvoltura emocional. Ele poderia ser a estrela de cinema que John Boyega falhou em ser e que Hollywood finge ter visto em Chadwick Boseman. Mas a vitimização patética e autodestrutiva atribuída a Jesse Brown não é digna do potencial de Majors.

Apesar da popularidade de Top Gun: Maverick, os criadores de Irmãos de Honra desdenham o serviço militar. O filme exige que acreditemos que Brown não tinha uma bússola espiritual que o guiasse – nem Booker T. Washington, Doris Miller (interpretado por Gooding Jr. em Pearl Harbor), Walter White, Jackie Robinson, Joe Louis e nem sequer Elizabeth Taylor.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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