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Jimmy Kimmel, um dos apresentadores mais populares da TV americana e comandante de um talk show na rede ABC, voltou ao ar nesta segunda-feira (22), menos de uma semana depois de ter sido suspenso pela emissora por uma piada envolvendo a morte de Charlie Kirk. Mas, apesar do retorno, o apresentador tem muito com o que se preocupar: os programas de entrevistas comandados por comediantes (também chamados de late night shows, porque vão ao ar no horário noturno) vivem uma crise de audiência.
Na era dos podcasts, os talk shows tradicionais atraem cada vez menos espectadores. Uma pesquisa feita pela agência de notícias Associated Press em parceria com o Centro NORC de Pesquisas em Assuntos Públicos, revelou que apenas um em cada quatro americanos adultos assistiu a um late show, qualquer um deles, na TV no último mês. O percentual se refere às pessoas que assistiram a mais da metade de um episódio.
A taxa de audiência desses programas de variedades é maior entre os telespectadores democratas. Entre esse público, uma a cada três pessoas se disse público fiel dos late night shows. O percentual é ainda menor entre os telespectadores que se declaram independentes, com 21% de audiência. Apenas 18% dos republicanos mostraram interesse em assistir aos programas na íntegra.
A situação muda ligeiramente entre aqueles que disseram acompanhar os programas de variedades por meio de cortes publicados nas redes sociais. No geral, 32% dos americanos adultos mostraram preferência por esse meio. Focar apenas nos recortes é o modo preferido de assistir aos late night shows para 45% dos democratas. Independentes e republicanos partilham a mesma taxa de audiência, 25%.
Segundo os organizadores do levantamento, 1.182 adultos americanos foram ouvidos entre os dias 21 e 25 de agosto de 2025. A margem de erro da pesquisa é de 3,8 pontos percentuais, para mais ou para menos. Pela data do levantamento, os pesquisados deram sua opinião antes de qualquer polêmica envolvendo Kimmel e a sua retirada e posterior recondução ao ar.
Por que o programa de Jimmy Kimmel foi suspenso
O programa de Jimmy Kimmel, um dos mais famosos da TV dos Estados Unidos, foi suspenso devido a comentários que o apresentador fez a respeito de Tyler Robinson, preso pela acusação de ter matado o influencer conservador Charlie Kirk. Os comentários de Kimmel foram feitos no seu programa de 15 de setembro.
“Chegamos a novos pontos baixos no fim de semana, com a gangue MAGA [sigla em inglês para Faça a América Grande de Novo, bordão dos apoiadores do presidente Donald Trump] tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles e fazendo tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso”, disse o apresentador.
O presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr, disse em entrevista ao podcaster Benny Johnson que o comentário de Kimmel representava “a conduta mais doentia possível” e sugeriu que as licenças das afiliadas da ABC poderiam ser revogadas se a Disney não punisse o apresentador. A comissão é responsável pelas concessões de TV naquele país.
Ato contínuo, um porta-voz da ABC, sem dar mais detalhes segundo informações da agência Reuters, disse que “[o programa] ‘Jimmy Kimmel Live’ será suspenso por tempo indeterminado” da grade da emissora.
Trump nega censura e artistas pedem boicote contra Disney
Questionado se a decisão da ABC de tirar o programa do ar seria uma resposta à possível ameaça de censura por parte de Washington, o presidente Donald Trump afastou essa possibilidade. “Você pode chamar de liberdade de expressão ou não. Ele foi demitido por falta de talento”, disse.
Trump seguiu, afirmando que “demitiram Jimmy Kimmel principalmente por sua baixa audiência, mais do que por qualquer outra coisa. Ele disse algo horrível sobre um grande cavalheiro conhecido como Charlie Kirk. E Jimmy Kimmel não é uma pessoa talentosa. Ele tinha uma audiência muito ruim e deveria ter sido demitido há muito tempo”.
Efetivada a suspensão, artistas ligados a produções exibidas na ABC e no ambiente Disney sugeriram a seus seguidores que cancelassem as assinaturas de produtos relacionados à gigante do entretenimento. Ainda criticaram a direita dos EUA por promover a “cultura do cancelamento” contra Kimmel.
Em resposta, vozes da direita, como sintetizado pelo comentarista político republicano Benny Johnson, apontaram que o que houve com Kimmel foi consequência de uma “cultura das consequências”.
“Ele cruzou a linha, mentiu sobre o assassinato de Charlie Kirk, culpou-o pela própria morte e zombou dele no ar. Obrigado à FCC pela pressão de tirá-lo de dentro de milhões de casas. Ele [Kimmel] está acabado, nunca vai se recuperar. E não é cultura do cancelamento, é a cultura das consequências, por Charlie Kirk”
Retransmissoras decidem não exibir volta de Kimmel à TV
Em seu retorno à TV, Kimmel fez um monólogo no qual afirmou nunca ter tido a intenção de “fazer pouco caso sobre a morte de um jovem”. Com a voz embargada, o apresentador reforçou que “não há nada de engraçado sobre isso”.
“Também não era minha intenção culpar qualquer grupo específico pelas ações de indivíduo obviamente e profundamente perturbado. Isso era realmente o oposto do ponto que eu estava tentando fazer. Mas eu entendo que para alguns isso parecia inoportuno ou pouco claro, ou talvez ambos”, completou.
A mensagem de Kimmel, porém, não chegou a todas as TVs sintonizadas na ABC na noite da última terça-feira (23), quando o programa dele voltou ao ar. A Sinclair, que opera e controla mais de 30 emissoras afiliadas à ABC nos Estados Unidos, antecipou a decisão da matriz e suspendeu, por conta própria, a exibição do programa em sua grade.
Ainda no dia 17 de setembro, o vice-presidente da Sinclair, Jason Smith, classificou os comentários de Kimmel como “inapropriados e profundamente insensíveis em um momento crítico para o nosso país”. Para ele, “as emissoras têm a responsabilidade de educar e elevar o diálogo respeitoso e construtivo em nossas comunidades, e este incidente destaca a necessidade crítica de a FCC tomar medidas regulatórias imediatas para lidar com o controle mantido sobre as emissoras locais pelas grandes redes nacionais”.
A Nexstar, outra controladora das emissoras que retransmitem o sinal da ABC nos EUA, disse, em comunicado oficial, que vai substituir o late-night de Jimmy Kimmel por programas jornalísticos enquanto segue “monitorando o programa”.
“Manteremos essa decisão enquanto aguardamos a garantia de que todas as partes estão comprometidas em promover um ambiente de diálogo respeitoso e construtivo nos mercados que atendemos. ‘Jimmy Kimmel Live!’ segue disponível em produtos de streaming da Disney, enquanto nossas estações se concentrarão em continuar a produzir notícias locais e outras programações relevantes para seus respectivos mercados”, afirma o comunicado.




