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O ex-deputado José Genoino é um dos petistas sem cargo ou mandato que atuam na Fundação Perseu Abramo.
O ex-deputado José Genoino é um dos petistas sem cargo ou mandato que atuam na Fundação Perseu Abramo.| Foto: Reprodução / YouTube - Fundação Perseu Abramo

Que tal fazer um curso de formação de lideranças ministrado pelo José Genoino? E aprender como a dança pode ser uma estratégia antigordofóbica e antirracista? Ou ler um e-book que contesta a narrativa golpista sobre a política econômica dos governos petistas?

O leitor da Gazeta certamente não deseja se envolver com esse tipo de material – mas, querendo ou não, está pagando por ele. É que os conteúdos citados acima, e mais centenas de outros semelhantes, estão disponíveis no site da Fundação Perseu Abramo, espécie de braço programático do PT mantido com recursos do fundo partidário (leia-se: dinheiro público).

Só em 2022, a entidade recebeu cerca de R$21 milhões, aplicados na produção de livros, cursos, lives no YouTube, pesquisas, eventos, artigos, documentários, exposições e projetos de memória. É o que se convencionou chamar de think tank, ou seja, uma organização dedicada a produzir e disseminar conhecimentos sobre política, economia, saúde, ciência e segurança, entre outros temas.

De acordo com a lei brasileira, todas as legendas devem criar sua fundação e destinar a ela no mínimo 20% do fundo partidário – para investir em educação, pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas. A realidade, no entanto, mostra que esse montante milionário muitas vezes é utilizado em benefício dos próprios políticos e seus aliados. Especialmente daqueles sem mandato ou cargo público.

No caso do PT, isso fica nítido logo na primeira passeada pelo site da Perseu Abramo (fundada há 27 anos, a organização foi batizada em homenagem ao jornalista, sociólogo, professor e militante sindical morto em 1996). José Dirceu, José Genoino, Guido Mantega, Luiz Eduardo Greenhalgh, Ideli Salvatti, Olívio Dutra, Jorge Bittar, Gilberto Carvalho... Estão todos lá. Ministrando cursos, assinando artigos, participando de debates ou dando depoimentos históricos.

Aloizio Mercadante, sumido desde o impeachment de Dilma Roussef, era o presidente da entidade até o começo deste ano, quando foi chamado para comandar o BNDES. Em seu lugar ficou um dos amigos mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Okamoto – que já foi tesoureiro de campanha, esteve à frente do Sebrae entre 2005 e 2010 e atuou na diretoria do Instituto Lula.

Aqui vale um parêntese: no último mês de fevereiro, o ministro do STF Ricardo Lewandowski determinou a suspensão de uma ação penal da Operação Lava Jato contra Okamoto. O processo tratava de doações, supostamente ilícitas, feitas pela Odebrecht ao instituto entre 2013 e 2014, no valor de R$ 4 milhões. As provas obtidas foram julgadas inválidas pelo Supremo.

A própria Dilma também ganhou sua boquinha na Fundação Perseu Abramo. Após ser afastada da presidência da República, ela passou a participar, com remuneração, de reuniões do Conselho Curador. Mais tarde, foi conduzida ao posto de superintendente de Relações Institucionais, com salário mensal de mais de R$ 18 mil.

E o auxílio à “companheirada” não se limita aos políticos profissionais. Lembra do Freud Godoy, quebra-galhos geral de Lula acusado de envolvimento no Mensalão? Em 2019, a fundação contratou os serviços de sua empresa de segurança privada por R$ 30 mil mensais.

“Entender para derrotar”

Mas voltemos aos conteúdos formativos oferecidos no site da Perseu Abramo e concebidos por professores universitários, jornalistas e “comunicadores populares” ligados à militância petista – sob a coordenação de Jorge Bittar, ex-vereador e ex-deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro. Nos parágrafos abaixo, elencamos alguns cursos gratuitos disponíveis na plataforma.

“Fascismo ontem e hoje: entender para derrotar”

Objetivo – “Apresentar as características do fascismo para refletir sobre o bolsonarismo como um tipo de movimento fascista.”

Destaque da ementa – “Trump, Bolsonaro, Viktor Orban. A nova fase do capitalismo internacional abre espaço em todo o mundo para governos que rompem com a lógica da democracia-liberal. Estamos diante de um movimento global neofascista?”

“Território e luta: o trabalho de base do movimento popular urbano”

Objetivo – “Articular a experiência acumulada pelos movimentos do período de redemocratização com as novas formas de organização que emergem nas comunidades.”

Destaque da ementa – “A esquerda deve voltar às bases? Como conter o crescimento das ideias de direita nas periferias? Como fazer o giro organizativo em direção da atuação no território?”

 “O mundo em que vivemos”

Objetivo – “Discutir diferentes aspectos da situação mundial, começando pela Nova Guerra Fria (e quente) entre EUA e China e a interferência política, econômica e militar do império estadunidense na América Latina e Caribe, ontem e hoje.”

Destaque da ementa – “Módulo 2: O império contra nuestra América, balanço e perspectiva da ofensiva imperial, desde o golpe de Honduras até os dias atuais.”

“Direitos humanos em tempos de barbárie”

Objetivo – “Apresentar a história do PT, de Lula e do Brasil em paralelo com a luta pelos direitos humanos e pela democracia. Dinamismo, empatia e fluidez estruturam cada uma das 15 aulas.”

Destaque da emenda – “Aula 12: ‘Não fizemos a regulação da mídia, mas é possível virar o jogo’, com Juca Kfouri.”

“História e política: formação de lideranças de esquerda”

Objetivo – “Fornecer vivências práticas, acadêmicas e institucionais que delineiam a história e desnudam o valor da política para a manutenção ou transformação da ordem. O desvendar das forças oponentes possibilita a superação do capitalismo e suas iniquidades.”

Destaque da ementa – “Alternando entre ditaduras e democracias liberais, diferentes modelos econômicos, diferentes frações da burguesia se sucederam nos blocos de poder impondo às trabalhadoras e aos trabalhadores processos cujo objetivo era a exploração do trabalho e das riquezas nacionais.”

Para terminar, selecionamos amostras do Reconexão Periferias, projeto “jovem” e urbano da Fundação Perseu Abramo. Conheça a seguir alguns temas discutidos com os convidados dos programas – todos pagos, sempre bom lembrar, com verba pública repassada ao partido:

“Comunicação popular e autoestima na comunidade Tururu”

 “Uma artista traduz o olhar pataxó”

“Participação política também é terapia“

Carandiru 30 anos depois e a democracia dos massacres”

Raça, sexualidade, ocupação drag e política”

“A dança como estratégia antigordofóbica e antirracista”

Uma vereadora trans e negra na terra de Getúlio e Jango”

“Veganismo popular e as periferias”

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