Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

Este grupo quer normalizar a pedofilia: o abjeto movimento para legitimar a atração sexual por crianças

Tentar normalizar ou afirmar a atração sexual por crianças pode comprometer a segurança pública e enfraquecer as barreiras que inibem o abuso
Tentar normalizar ou afirmar a atração sexual por crianças pode comprometer a segurança pública e enfraquecer as barreiras que inibem o abuso (Foto: Pixabay)

Ouça este conteúdo

Um movimento inquietante vem ganhando força ao sustentar que a atração sexual por menores não deve ser tratada como um transtorno psiquiátrico a ser controlado, mas sim como uma identidade a ser afirmada. À frente dessa iniciativa está o B4U-ACT, organização fundada em 2003 e sediada no estado de Maryland, nos Estados Unidos, que oferece apoio a pessoas com atração sexual por crianças — a quem o grupo se refere como “Pessoas Atraídas por Menores”, na sigla em inglês MAPs (Minor-Attracted Persons).

De 2 a 4 de maio de 2025, o B4U-ACT realizou uma conferência no estado de Ohio destinada a treinar profissionais de saúde mental em uma abordagem chamada “terapia afirmativa para MAPs”. O objetivo declarado dessa linha terapêutica é ajudar os pacientes a aceitar sua “idade de atração” como parte intrínseca e válida de sua identidade — uma mudança radical em relação ao enfoque tradicional, voltado ao controle de risco e à prevenção de abuso sexual. A proposta levanta sérias preocupações quanto à segurança pública.

Historicamente, a pedofilia tem sido classificada pelos profissionais de saúde mental como uma parafilia — termo que designa interesses sexuais atípicos ou prejudiciais, que envolvem objetos, situações ou pessoas não consentidas, como no caso de crianças.

Por décadas, o trabalho clínico buscou conter impulsos perigosos, prevenir abusos e proteger potenciais vítimas. Muitos especialistas dedicam-se a entender a pedofilia para desenvolver estratégias de prevenção eficazes.

Eles se veem, porém, diante de um dilema: para obter a confiança dos pacientes, precisam criar ambientes livres de julgamentos, o que pode gerar, fora do contexto terapêutico, a percepção de que estão normalizando a pedofilia.

O público muitas vezes acusa injustamente esses profissionais de conivência, quando na verdade seu trabalho visa impedir abusos. Muitos pesquisadores fazem distinção entre quem sente a atração e quem age de acordo com ela, e sustentam que esses impulsos podem ser controlados por meio de terapia cognitivo-comportamental, medicamentos que reduzem o desejo sexual e grupos de apoio estruturados.

É inadmissível que alguém com atração sexual por crianças exerça função com autoridade e proximidade sobre menores

O B4U-ACT, porém, defende um modelo distinto. A organização considera antiéticas e ineficazes as tentativas de modificar os desejos de pessoas com atração por crianças.

Critica os métodos de recondicionamento e o uso de fármacos para a redução do desejo sexual, comparando essas abordagens às terapias de conversão antes aplicadas à homossexualidade. Além disso, desencoraja o diagnóstico clínico de transtorno pedofílico, propondo, em vez disso, que a pedofilia seja considerada uma “orientação sexual etária”.

O grupo foi fundado pelo assistente social Russell Dick e por Michael Melsheimer, condenado por abuso sexual de menores. Seus integrantes incluem pessoas com atração por crianças e adotam o slogan ativista “nada sobre nós sem nós” — expressão comum em movimentos de defesa de minorias — para defender que os próprios pedófilos devem participar da construção de modelos terapêuticos.

Embora o B4U-ACT afirme, em seu site, que não endossa relações sexuais entre adultos e crianças, sua linguagem sobre consentimento tem gerado críticas por ser ambígua, referindo-se, em alguns materiais, a crianças “dispostas”.

A chamada “terapia afirmativa para MAPs” incentiva os indivíduos a integrar sua atração por menores ao seu senso de identidade. O grupo sustenta que “a atração por menores é frequentemente uma parte importante da identidade de um MAP, sendo, em alguns casos, o aspecto mais importante de sua identidade sexual”.

A proposta se inspira na psicoterapia afirmativa voltada à população LGBT, que parte do princípio de que sentimentos sexuais são inatos, imutáveis e dignos de aceitação. O B4U-ACT também cita, como base, diretrizes da Associação Americana de Psicologia (APA) sobre minorias sexuais, adaptando o conceito à chamada “idade de atração”.

Ao longo de seus materiais, o B4U-ACT traça paralelos entre pedofilia e homossexualidade, sugerindo que os pedófilos sofrem opressão semelhante à que pessoas LGBT enfrentaram no passado.

Trata-se, contudo, de uma comparação falaciosa: ao contrário de adultos em relações homoafetivas consensuais, crianças jamais podem consentir legal ou moralmente em se relacionar sexualmente com adultos. Equiparar essas duas realidades apaga uma distinção fundamental — ética e legal — entre vínculos afetivos legítimos e vitimização infantil.

Tentar normalizar ou afirmar a atração sexual por crianças pode comprometer a segurança pública e enfraquecer as barreiras que inibem o abuso

Apesar de afirmar que não promove o abuso, o B4U-ACT apresenta a pedofilia sob uma ótica positiva. Seus textos descrevem os sentimentos pedófilos como expressões de “afeição romântica” e “desejo de amizade”, e afirmam que pedófilos frequentemente buscam “proteger as crianças e fazê-las felizes”. Retratam essas pessoas como parte de uma comunidade “marginalizada”, sujeita a estigma e discriminação em múltiplos níveis.

Em um dos documentos divulgados pelo grupo, que elenca supostas “injustiças” enfrentadas por pedófilos, cita-se o caso de um professor do ensino médio demitido após ser identificado como usuário ativo de um fórum online voltado a pedófilos. O próprio docente relata: “Fui demitido porque a direção da escola descobriu que eu postava no BoyChat. Fui incluído em uma lista de observação. Levei minhas credenciais para outros distritos e continuei minha carreira docente”.

O B4U-ACT interpreta o caso como discriminação profissional. Mas é inadmissível que alguém com atração sexual por crianças exerça função com autoridade e proximidade sobre menores. A segurança das crianças deve prevalecer sobre as reivindicações de emprego de adultos.

Embora seja fundamental incentivar pedófilos a buscar ajuda terapêutica, os esforços para desestigmatizar a condição podem causar mais danos do que benefícios. Certos estigmas cumprem uma função social indispensável: reforçam limites morais e protegem os mais vulneráveis. Tentar normalizar ou afirmar a atração sexual por crianças pode comprometer a segurança pública e enfraquecer as barreiras que inibem o abuso.

A agenda da próxima conferência do B4U-ACT ilustra como esse movimento se apresenta com a linguagem típica do progressismo. O evento prevê sessões com títulos como “Promoção da Justiça Social e Defesa para PMAs” (Pessoas Atraídas por Menores), “Interseccionalidade, Neurodivergência e Disforia Etária” e várias outras sobre “Autoaceitação”.

Haverá subsídios para participantes com “identidades minorizadas” e desconto de 10% para o público “BIPOC” — sigla em inglês que designa negros, indígenas e pessoas de cor.

O site da organização destaca as credenciais de justiça social dos palestrantes. Um deles, Nadav Antebi-Gruszka (que adota os pronomes “eles/elas”), é descrito como terapeuta que “orgulhosamente atende e celebra pessoas com diversidade sexual e de gênero, especialmente os MAPs”.

Já a assistente social Kristin Spooner (pronomes “ela/eles”), doutora em serviço social com foco em antirracismo, justiça social, antiestigma e saúde sexual, declara ser “apaixonada por oferecer tratamento positivo e sem julgamentos a indivíduos com atração por menores”. Sua dissertação e os projetos de conclusão abordam o estigma entre assistentes sociais em relação a pedófilos, propondo, por exemplo, a criação de currículos antiestigma para cursos de mestrado. Tais iniciativas podem contribuir para difundir essas ideias em instituições de formação profissional.

É essencial manter a distinção entre pessoas com atração por crianças e demais grupos que reivindicam reconhecimento como minorias. A pedofilia é uma aberração grave. Aqueles que sofrem com esse impulso, mas não o praticam, devem ser tratados com compaixão e responsabilidade. No entanto, seus desejos nunca devem ser validados como parte legítima de sua identidade.

Na medida em que parafilias podem ser tratadas, o foco clínico deve estar no controle dos impulsos. Analogias com outras condições psiquiátricas ajudam a entender esse ponto: em casos de transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo, a repetição de comportamentos compulsivos tende a agravá-los. Em quadros de estresse pós-traumático, revisitar memórias dolorosas de forma inadequada pode intensificar o sofrimento.

Parafilias operam de maneira semelhante: alimentar fantasias desviantes tende a fortalecer os impulsos. Daí o risco central de se incentivar alguém a incorporar tais desejos — especialmente quando dirigidos a crianças — em sua autoconcepção. A supressão, e não a afirmação, oferece o caminho mais seguro para reduzir atrações patológicas ao longo do tempo.

A terapia não deve validar todos os sentimentos, nem afirmar toda identidade reivindicada. Seu propósito é ajudar os indivíduos a lidar com impulsos prejudiciais, não integrá-los à sua identidade.

Contudo, sob influência de determinadas correntes ativistas, grupos como o B4U-ACT têm procurado redefinir a atração por crianças como algo a ser aceito, não contido. Com isso, correm o risco de erodir distinções morais fundamentais e desviar a atenção da prioridade incontestável: proteger as crianças, a parcela mais vulnerável da sociedade.

Christina Buttons é repórter investigativa do Manhattan Institute, um centro de estudos norte-americano dedicado a políticas públicas.

VEJA TAMBÉM:

©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: This Group Wants to “Affirm” Pedophilia

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.