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Um tanque de guerra israelense manobra em Sderot, sul de Israel
Um tanque de guerra israelense manobra em Sderot, sul de Israel| Foto: EFE/EPA/MANUEL DE ALMEIDA

Harvard se encontra em um dilema ideológico. Após o horrível ataque terrorista do Hamas contra Israel, o Comitê de Solidariedade com a Palestina da Universidade de Harvard emitiu um comunicado, coassinado por outros 33 grupos estudantis, culpando o Estado judeu pelo assassinato, estupro e mutilação de seus próprios cidadãos pelo Hamas. O comunicado dizia: "Os eventos de hoje não ocorreram no vazio. O regime de apartheid é o único culpado".

A reação foi imediata. A mídia, o público e figuras políticas proeminentes condenaram os estudantes por justificar atrocidades contra pessoas inocentes, incluindo mulheres, crianças e idosos. A administração de Harvard, há muito acostumada a seguir a linha radical, hesitou por dias antes de emitir um comunicado genérico de condenação, afirmando que "nenhum grupo estudantil, nem mesmo 30 grupos estudantis, fala pela Universidade Harvard ou sua liderança".

Enquanto isso, o ex-presidente de Harvard, Lawrence Summers, expressou surpresa, questionando nas redes sociais por que a universidade não conseguiu "encontrar algo que se aproximasse da clareza moral das declarações de Harvard após a morte de George Floyd ou a invasão da Ucrânia pela Rússia".

É difícil acreditar que Summers esteja sendo sincero. Como qualquer pessoa no ambiente de Harvard saberia - especialmente um professor de longa data e ex-presidente da universidade - a política de descolonização, teoria crítica da raça e agitação anti-Israel são há décadas uma parte fundamental da vida pública no campus. E não é uma causa impulsionada apenas por estudantes equivocados: administradores, líderes de departamento e professores proeminentes todos a desenvolveram, institucionalizaram ou pelo menos publicamente cederam aos radicais que o fizeram.

Basta dar uma olhada no catálogo de cursos atual de Harvard para ver o quão profundamente a retórica da "descolonização" foi incorporada. Um curso, "Rebelião Global: Raça, Solidariedade e Descolonização", baseia-se em estudos étnicos críticos, uma subárea da teoria crítica da raça, e promete promover o "radicalismo negro, asiático, latinx e indígena" - ou seja, etnopolítica de esquerda para todos, exceto brancos e judeus. O objetivo, de acordo com a descrição do curso, é "discutir como comunidades BIPOC [abreviatura em inglês para negros, indígenas e 'pessoas de cor'] forjaram solidariedades internacionalistas inter-raciais para se rebelar contra a supremacia branca global".

Outro curso, "Colonialismo e suas vidas posteriores pós-coloniais/descoloniais", apresenta leituras de Lenin e Frantz Fanon. Este último argumentou que "a violência é uma força purificadora" que "liberta o nativo de seu complexo de inferioridade" e "restaura seu autorrespeito". O restante da descrição do curso é uma repetição de slogans das antigas frentes revolucionárias do Terceiro Mundo, prometendo "explorar a relação entre o império e o surgimento do capitalismo industrial, a importância da raça, classe e gênero na extração colonial e os modos de violência sobre os quais foi fundado". A solução? As metáforas usuais: "recusa", "resistência", "pós-colonialidade" e "descolonialidade".

O que esses termos podem significar? Para responder a essa pergunta, podemos recorrer a um programa financiado por Harvard chamado "Descolonize Harvard". Em 2021, o Derek Bok Center de Harvard contratou Marcelo Garzo Montalvo, professor assistente visitante de Estudos Latinx que usa pseudo-pronomes "ele/eles", para liderar uma iniciativa sobre "descolonizar" a universidade. A premissa era simples: administradores, professores e estudantes, disse Montalvo em suas palestras gravadas, devem "entender e enquadrar Harvard como uma instituição colonizadora, genocida e eurocêntrica" construída sobre a "violência fundacional" dos europeus brancos.

A solução, segundo Montalvo, era se envolver em um "processo de descolonização" que incorporasse teoria crítica, luta etnopolítica e pedagogia de esquerda em toda a universidade. Após a conclusão desse processo, especulou Montalvo, "Harvard e a universidade colonizadora [podem] deixar de ser reconhecíveis como Harvard como tal". O objetivo poderia ser, ontologicamente e epistemologicamente falando, "abolir a universidade" por completo.

Israel também se encaixa nessa dialética. Em seu programa para "descolonizar Harvard", Montalvo promoveu materiais que destacavam o ativismo estudantil e docente de Harvard contra o suposto "regime de apartheid" de Israel e "empreendimento de assentamentos". Os grupos estudantis acusaram Israel de "formas estruturais e culturais de violência" e pediram tanto por "ação acadêmica" quanto por "resistência coletiva" contra o Estado judeu. Cinco professores de Harvard também emitiram um comunicado ligando o trabalho da "libertação palestina" ao trabalho de descolonizar Harvard, defendendo "um compromisso mais robusto em ensinar sobre a Palestina, incorporar trabalhos de palestinos em nossos programas, convidar estudiosos e membros da comunidade palestina para falar em eventos universitários e apoiar o ativismo no campus pela libertação palestina".

Montalvo e seus seguidores deixam claro que "Descolonização Não é Uma Metáfora", como o título de um artigo acadêmico afirma. Enquanto militantes palestinos descolonizam Israel, seguindo a lógica, acadêmicos domésticos deveriam descolonizar instituições como Harvard.

Como vimos nesta semana, o resultado da "descolonização" é a barbárie. Para o Hamas, significa assassinar mulheres, crianças e idosos, executar pessoas inocentes na rua e mutilar bebês em suas casas. Para os acadêmicos radicais, o processo é menos brutal, mas ainda assim bárbaro: significa destruir nossas melhores instituições, obliterar padrões acadêmicos e elevar bruxaria, vodu e pseudociência a posições de prestígio. O filósofo Leo Strauss uma vez definiu o niilismo como oposição à civilização como tal - e é precisamente isso que os acadêmicos descolonizadores fizeram, realizando as suas fantasias vingativas de "abolir" Harvard, que já foi um símbolo máximo da civilização ocidental.

Os americanos precisam entender que o massacre em Gaza não é apenas uma indignação estrangeira. Os mesmos etnorradicais que aplaudem a destruição da civilização pelo Hamas no exterior também querem cometer suicídio civilizacional aqui em casa.

© 2023 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Civilizational Suicide

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