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Jimmy Lai vai preso em Hong Kong após o julgamento, em 09 de fevereiro de 2021
Jimmy Lai vai preso em Hong Kong após o julgamento, em 09 de fevereiro de 2021| Foto: EFE/JEROME FAVRE

“Não estabeleça nenhuma conexão com a política.”

Estas foram as palavras do juiz do Tribunal Distrital de Hong Kong, Stanley Chan, no mês passado, ao condenar Jimmy Lai, ativista pró-democracia e empresário da mídia, a uma pena de prisão de quase seis anos. A sentença foi proferida depois que Lai e um de seus associados do Apple Daily, o popular tabloide fechado pelo governo chinês em 2021, foram considerados culpados de fraude em outubro.

Claro, para qualquer pessoa familiarizada com a perseguição de Lai pelo Partido Comunista Chinês nos últimos dois anos, evitar fazer qualquer conexão com os motivos políticos por trás da acusação de Lai seria um exercício de cegueira deliberada. Lai já havia cumprido 20 meses atrás das grades por participar de protestos pró-democracia “não autorizados” em Hong Kong em 2019.

O PCC (Partido Comunista Chinês) também alega que Lai conspirou com países estrangeiros e a comunidade internacional para impor sanções a Hong Kong, violando as leis de segurança nacional promulgadas em resposta aos protestos. O julgamento dessa acusação, punível com pena máxima de prisão perpétua, foi adiado para setembro de 2023, pois o PCC pretende desqualificar o advogado britânico de Lai de ser autorizado por lei a representá-lo.

Por que o PCC está perseguindo Lai, de 75 anos, por meio dessa enxurrada de acusações legais? Pela mesma razão que mais de 200 policiais de Hong Kong arrombaram as portas do jornal de Lai em um dia fatídico de agosto de 2020: o PCC teme Lai e a maneira como ele desafia o status quo do partido. Mas a verdade é difícil de extinguir e, dois anos depois, a chama acesa pelo grupo Next Media, de Lai, ainda arde fortemente pela liberdade de expressão e autonomia, contra a pressão de Pequim — mesmo de dentro de uma cela de prisão.

Trinta e três anos atrás, Lai assistiu aos protestos pró-democracia chineses culminarem no massacre da Praça da Paz Celestial. Ele sabia que tinha que agir. Não apenas porque ele tinha os meios para fazer a diferença, tendo acumulado uma fortuna como fundador da empresa de roupas e rede de varejo Giordano após sua fuga para Hong Kong quando criança. Em vez disso, ele entendeu por sua experiência pessoal crescendo na China continental dos anos 1950 que os regimes comunistas privam seu povo de necessidades básicas e liberdades fundamentais. Para promover os ideais democráticos diante do zelo de Pequim em controlar a vida dos habitantes de Hong Kong, e apesar de seu afastamento da abordagem laissez-fare garantida durante a transferência da cidade, Lai fundou o Next Media e o Apple Daily.

Antes de ser fechado pelo governo, o Apple Daily criticou corajosamente o PCC e sua liderança nomeada por Pequim, jogando luz sobre as restrições impostas a um povo ao qual antes foi prometido autonomia por meio da garantia de “um país, dois sistemas” da China. Os esforços de Lai ajudaram a iniciar um movimento, quando milhões começaram a se organizar em nome da liberdade de expressão e do livre mercado. As manifestações antigovernamentais de 2019 foram grandes demais para serem ignoradas pelo PCC e ele voltou sua atenção para todos aqueles que contribuíram para o levante, incluindo Lai e o Apple Daily.

Apesar da prisão de Lai, ele continua a servir como um farol de esperança para aqueles em Hong Kong e em todo o mundo que lutam contra a tirania. Um bilionário com recursos infinitos à sua disposição, Lai poderia facilmente ter se afastado dessa responsabilidade, trocando seus princípios pela liberdade, como o PCC pode ter esperado que ele fizesse. No entanto, Lai escolheu um caminho diferente. “Este é um momento muito precioso para mim”, disse ele em uma entrevista gravada após sua prisão. “Se uma pessoa é capaz de saber que está fazendo a coisa certa, de entender que não importa quão grandes sejam as dificuldades, quanto sofrimento ela tenha que passar — ela sente isso em seu coração.”

O exemplo inspirador de Lai em nome da liberdade de imprensa e dos princípios democráticos é o motivo pelo qual minha organização, o Fund for American Studies (Fundo para Estudos Americanos, TFAS na sigla em inglês), recentemente concedeu a ele o Kenneth Y. Tomlinson Award for Courageous Journalism (Prêmio Kenneth Y. Tomlinson de Jornalismo Corajoso). Para continuar honrando Lai, devemos garantir que seus sacrifícios não sejam em vão. Devemos pressionar nosso próprio governo a defender fortemente a justiça no caso dele. Também devemos olhar para dentro e refletir sobre seu compromisso inabalável com a liberdade de imprensa, sem a qual uma nação democrática não pode funcionar. Devemos continuar a carregar a tocha que Jimmy Lai acendeu na luta pela democracia e pela liberdade de expressão onde quer que estejam sob ameaça.

Roger Ream é presidente do Fund for American Studies (TFAS), uma organização educacional sem fins lucrativos que trabalha com alunos do ensino médio e universitários para promover os princípios da economia de livre mercado, governo limitado e liderança honrada. Ele também é o apresentador do podcast LIBERTY + LEADERSHIP.

©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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