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Depois de cutucar a História do Brasil e colecionar inimigos entre acadêmicos e militantes, o jornalista e escritor Leandro Narloch ataca agora outro tema sagrado: a pauta ecológica. Em “Guia Politicamente Incorreto do Meio Ambiente” (selo Avis Rara), cuja tiragem disponível em pré-venda já esgotou, ele questiona dogmas verdes, denuncia exageros propagados pela ONU e por ONGs e lembra avanços que muitas vezes são esquecidos nas aulas e nos debates públicos.
Narloch argumenta que é possível admirar a civilização ocidental e ainda assim se preocupar com a natureza — sem cair na armadilha de transformar cada invenção humana em pecado. O autor aponta que até mesmo vilões recorrentes, como o plástico ou a mineração, podem ter aspectos positivos ignorados pelo discurso dominante.
A seguir, você lê com exclusividade um trecho do livro em que Narloch narra como percebeu esse viés ao acompanhar, durante a pandemia, as aulas online do filho. Em vez de fascínio e curiosidade, o que surgia era uma pedagogia da culpa, em que progresso, cidades e ciência apareciam sempre associados a catástrofe e destruição.
Na quarentena de 2020, meu filho mais velho, como milhões de crianças, teve que estudar de casa, pelo computador. E eu, como milhões de pais, acabei escutando as aulas enquanto trabalhava por perto.
Descobri assim que boa parte do conteúdo não transmitia conhecimento — transmitia culpa.
Quando o tema da aula de geografia era a mineração, a professora falava da poluição, do desmatamento e do gasto de energia causados pela exploração da bauxita. O livro didático dizia que essa atividade “está associada à geração de divisas para o país e à instalação de polos industriais voltados à exportação, muitas vezes sem benefícios para a população local”.
Não havia nada sobre como a leveza e resistência à corrosão do alumínio transformaram setores inteiros, como a fabricação de aviões. Hoje usado até para embalar sanduíches, o alumínio já custou mais que ouro — o imperador Napoleão III reservava talheres de alumínio para seus convidados mais importantes, deixando os de ouro e prata para os menos prestigiados.
Isso mudou quando dois jovens, um francês de 23 anos e um americano de 22, descobriram, cada um a sua maneira, um método para purificar alumínio usando eletricidade. Ao ouvir essas histórias, meu filho pareceu surpreso por existir alguma coisa interessante no meio de um assunto tão tedioso.
Tudo parecia um pecado
Quando a aula online passou para agricultura, o foco eram os impactos ambientais causados por máquinas, agrotóxicos e fertilizantes químicos, como a contaminação do solo e dos lençóis freáticos, o empobrecimento da biodiversidade e o avanço do desmatamento. Era como se tudo o que os seres humanos fazem fosse errado.
A mecanização do campo, a química, a produção em massa, tudo parecia um pecado, algo que tínhamos que lamentar e que exigia mudanças — nesse caso, para uma “agroecologia baseada em orgânicos, a rotação de culturas e a agricultura familiar”.
Na mesma época, eu lia “O Triunfo da Cidade”, livro do economista Edward Glaeser sobre como as cidades são uma das grandes invenções humanas. Diminuem distâncias e o custo do transporte, facilitam a especialização, o comércio, a troca de ideias e a inovação.
Difícil haver maior contraste com uma lição de casa que meu filho era obrigado a fazer. Não me esqueço disso: uma folha de papel trazia a “urbanização” escrita grande no centro. A tarefa consistia em ligar essa palavra a diversos problemas das cidades: falta de planejamento, poluição, favelização.
O que mais me incomodava (e o que nos fez mudar meu filho de escola no fim daquele ano, para seu alívio) era o desperdício de oportunidades de encantamento. Tanta chance perdida de fascinar as crianças!
O foco nos aspectos negativos — alguns reais, outros exagerados ou puramente falsos — não formava cidadãos conscientes. Formava desinteressados.
Aposto que você viveu algo parecido na escola. Boa parte da educação atual tira dos alunos qualquer interesse por geografia, economia ou história do mundo. Tenta colocar nos jovens um par de óculos problematizadores para fazê-los enxergar tudo de forma cinzenta, melancólica e culpada.
O objetivo deste livro é mostrar um outro mundo. Nossa relação com o meio ambiente tem problemas, sim — mas também aprendizados, criatividade, superações e avanços que no passado as pessoas mal conseguiam imaginar.
É possível admirar a civilização ocidental e ainda assim ligar para o meio ambiente. Dá para defender a natureza sem odiar o progresso. Dá para tratar de problemas ambientais sem culpar as crianças pelo crime de existir.
Nas próximas páginas, vamos sacudir alguns vespeiros — as crenças transformadas em dogmas pelos ambientalistas de fé, tabus que ninguém questiona sem ser acusado de herege, vendido ou negacionista. E vamos tentar entender como o ambientalista típico pensa — as falácias e os vieses nos quais ele tropeça.
Com frequência, como veremos no capítulo sobre a Amazônia, essa visão de mundo empobrece as pessoas e o meio ambiente. Não é uma tarefa fácil mexer nesses temas, porque não é só a escola que está contaminada com aquelas lentes problematizadoras.
Elas também turvam a visão de boa parte da imprensa, de políticos, burocratas, de ONGs e representantes da Organização das Nações Unidas (ONU). Criam um mundo de falsos problemas, falsas soluções e ilusões coletivas — um filtro tão persistente que às vezes nem percebemos que estamos olhando através dele.
Teste do fim do mundo
Será que você também foi afetado por esse filtro? Vamos descobrir. A seguir, há um teste de conhecimentos sobre clima e meio ambiente. Peço que o leitor pegue papel e caneta — ou anote no celular — a resposta para estas sete questões:
1. Entre 1850 e 2020, a temperatura média do planeta:
• A) Aumentou
• B) Diminuiu
• C) Nem aumentou nem diminuiu
2. Na média global, o nível do mar está:
• A) Aumentando
• B) Diminuindo
• C) Não há uma tendência clara de aumento ou diminuição
3. A frequência de tempestades, furacões e nevascas em todo o mundo está:
• A) Aumentando
• B) Diminuindo
• C) Não há uma tendência clara de aumento ou diminuição
4. Já a frequência de inundações em rios ou regiões litorâneas em todo o mundo está:
• A) Aumentando
• B) Diminuindo
• C) Não há uma tendência clara de aumento ou diminuição
5. No último século, o total de mortes causadas por eventos climáticos:
• A) Aumentou mais de 100%
• B) Aumentou até 100%
• C) Permaneceu estável
• D) Diminuiu até 50%
• E) Diminuiu mais de 50%
6. Entre 1965 e 2021, acidentes em usinas de energia elétrica causaram a morte de pelo menos 176 mil pessoas. Em que tipo de usina foram esses acidentes?
• A) Solar
• B) Nuclear
• C) Eólica
• D) Hidrelétrica
7. Em qual das regiões marítimas abaixo há mais presença de lixo plástico?
• A) Na região conhecida como A Grande Ilha de Plástico do Pacífico
• B) Na costa francesa do Mar Mediterrâneo
• C) Na Antártida
• D) No meio do Atlântico Sul, entre o Brasil e a África
As duas primeiras perguntas são fáceis: sim, o planeta está esquentando e o nível do mar está subindo — levou quem marcou letra A. Um dos registros mais comprovados e repetidos na ciência é que a temperatura do planeta sobe desde os anos 1970 — de modo que já está mais alta que a de 1850. É o que mostram medições das mais diversas – tanto as de satélite quanto de flutuadores nos oceanos e estações em terra.
Da mesma forma, o nível do mar está subindo em média 3 milímetros por ano. Mas se o leitor assinalou a opção A para as perguntas 3, 4 e 5, sinto lhe dizer que errou.
Apesar da incessante repetição da imprensa e de ativistas, a verdade é que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não verificou tendências mundiais em tempestades, furacões, nevascas, tempestades de gelo, inundações, secas ou de clima propício a queimadas, além de outros fenômenos climáticos, como veremos no capítulo 6. Já as mortes causadas pelo clima despencaram 98% enquanto a população se multiplicou (assunto do capítulo 1).
Na pergunta 7, quem já ouviu falar da Grande Ilha de Lixo do Pacífico deve ter cravado A. Mas a resposta correta são as deliciosas águas do Mediterrâneo francês (capítulo 8). Ah, e daquelas quatro fontes de energia da questão 6, a que mais matou foi a hidrelétrica — dezenas de vezes mais que a nuclear, como veremos brevemente no capítulo 9.
Se o leitor errou algumas das questões acima, bem-vindo: esta obra foi feita sob medida para você. Se acertou tudo — parabéns, gênio do meio ambiente! Mas não feche o livro ainda: prometo uma leitura divertida e bons argumentos para os próximos debates em família.
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Conteúdo editado por: Omar Godoy






