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A nomeação da maestrina italiana Beatrice Venezi, de 35 anos, como diretora musical do histórico Teatro La Fenice, em Veneza, tornou-se o mais recente campo de batalha da guerra cultural na Itália.
O motivo? Segundo a imprensa europeia e italiana, ela é de direita e próxima da primeira-ministra Giorgia Meloni, que a nomeou conselheira musical no Ministério da Cultura logo que assumiu o poder.
O caso não sai do noticiário italiano e tem revoltado músicos, sindicatos e parte do público artístico. Assim como no Brasil, o meio é dominado pela esquerda na Itália.
Greve à vista
O nome de Beatrice Venezi foi anunciado em 22 de setembro pelo superintendente do teatro, Nicola Colabianchi.
Na última quarta-feira, 7, os funcionários e músicos do La Fenice votaram por uma greve em protesto à nomeação. Eles pedem que a nomeação de Beatrice Venezi como diretora musical seja revogada, alegando que ela não tem experiência suficiente para o papel de alto nível e foi escolhida apenas por causa de suas conexões com o governo.
A greve foi marcada para 17 de outubro, data da estreia da temporada 2024-2025 com a ópera Wozzeck, de Alban Berg. Os protestos vêm acompanhados de um abaixo-assinado de 140 frequentadores habituais, denunciando a “falta de transparência” no processo de seleção e questionando as qualificações da maestrina. Na carta, os espectadores chegaram a afirmar que não renovariam seus ingressos caso Venezi assuma a direção musical.
Intriga da oposição
O maestro Nicola Colabianchi, superintendente do Teatro La Fenice de Veneza e responsável pela escolha de Venezi, explicou que o nome de Beatrice nome foi aprovado amplamente tanto pelo Conselho de Administração, como pelo prefeito e pelos vereadores.
“Escolhi-a porque além de boa, representa a imagem de renovação, de futuro, de atenção aos jovens. Porque é mulher e porque no passado pude avaliar a sua capacidade de regência, pois a contratei para realizar vários títulos e ela sempre se saiu muito bem. Ela também é carismática e sabe se comunicar”, justificou Colabianchi, em entrevista dada no começo do mês ao jornalista Antonello Picci.
O superintendente julgou como “incompreensível” a postura tomada pelos músicos de La Fenice, “já que muitos nunca conheceram ou trabalharam com a maestrina Venezi”. Segundo ele, os músicos têm uma visão ligada apenas à música, “sem considerar aspectos importantes do ponto de vista da gestão”.
Colabianchi reduziu o impacto da objeção à nova maestrina. “É completamente infundado que tenha havido um cancelamento massivo do público”, afirmou, citando que que os 140 membros do teatro que se opuseram ao nome de Beatrice são uma minoria em um universo de 2.300 pessoas. E acrescentou: "Não estamos engajados em atividade comercial, mas sim prestando um serviço cultural”.
Venezi, que já foi regente convidada do Teatro Colón de Buenos Aires, agradeceu a nomeação nas redes sociais, afirmando sentir-se “honrada” e desejosa de iniciar “um diálogo artístico e humano com o teatro e seu público”.
Jovem, bonita e politicamente incorreta
O problema, na verdade, parece ser o pai da moça. A maestrina é filha de um ex-membro do partido neofascista Forza Nuova criado em 1997. Embora Beatrice Venezi tenha reconhecido publicamente o passado político do pai, ela declarou em entrevistas que não é fascista, e que os ataques que recebe por esse vínculo são injustos e baseados em heranças familiares, não em suas próprias ideias.
A polêmica já foi até alvo de manifestações de rua. Em 2023, ativistas gritaram “Não aos fascistas na ópera” durante um concerto seu em Nice, na França. Mas, apesar das críticas, o ministro da Cultura, Alessandro Giuli, também saiu em defesa da regente, afirmando que Venezi é “uma excelente artista e maestrina”.
Na língua italiana, a palavra “maestro” não possui feminino. Venezi, portanto, nunca se permitiu chamar de qualquer outro termo politicamente correto.
Inclusive, em 2021, Giorgia Meloni, antes de ser eleita primeira-ministra, elogiou a postura da maestrina que não se dobrou às pressões progressistas para adotar um novo vocábulo de gênero feminino para sua profissão. “Um dos muitos limites do politicamente correto é justamente colocar em primeiro plano as definições e categorias, em detrimento do mérito e da competência”, elogiou Meloni sobre a postura de Venezi à época.
Características que constrangem ou, no mínimo, distraem o público
Pode ser que Venezi seja realmente uma excelente maestrina de orquestra. Mas o maior furor que ela causa no palco está relacionado com sua aparência. Com vestidos justos e decote profundo, Venezi se apresenta de costas para o público. E, de fato, possui um belo corpo atlético. Se o currículo dela não se destaca entre os grandes regentes italianos, outros atributos se encarregam de destacá-la.
Enquanto isso, Venezi se prepara para assumir o cargo em 30 de outubro de 2026, no qual deve permanecer até março de 2030. Sua estreia será uma das mais observadas do mundo da música clássica, e não apenas por seu talento ou repertório, mas pelo que simboliza: uma mulher jovem, conservadora e de sucesso ingressa em um dos maiores redutos culturais dominados pela esquerda europeia.
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