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Mestre do engano: o que a Bíblia revela sobre a existência do diabo

"A Tentação de Santo Antônio" (c. 1650), pintura do artista flamengo Joos van Craesbeeck que retrata a luta espiritual do religioso diante das forças do diabo
"A Tentação de Santo Antônio" (c. 1650), pintura do artista flamengo Joos van Craesbeeck que retrata a luta espiritual do religioso diante das forças do diabo (Foto: Wikimedia Commons)

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O mal existe, mas não deve ser o centro da nossa atenção. É a partir dessa premissa que o teólogo, pastor e empresário Eduardo Reis constrói “Mapeando o Diabo: A Verdade Sobre a Batalha Espiritual” (editora Vida).

No livro, ele conduz o leitor por uma jornada de entendimento sobre a atuação do demônio ao longo da História, sempre ressaltando a supremacia de Cristo sobre qualquer poder das trevas. Reis revisita pensadores como Santo Agostinho, examina passagens do Antigo e do Novo Testamento e mostra como Satanás aparece nas Escrituras.

O trecho a seguir, extraído da obra, mostra como essa reflexão se desenrola: da perplexidade de um teólogo diante do mistério do mal até a clareza bíblica de que o Diabo existe e opera no mundo — mas não pode apagar a esperança que brota da vitória de Cristo na Cruz.

Um teólogo cansado e perplexo, após anos de estudo intensivo, refletiu sobre a complexidade do mal no mundo. Durante uma de suas leituras, encontrou-se com a obra de Santo Agostinho, que abordava a natureza do mal e a realidade da luta espiritual.

Agostinho, em suas “Confissões”, descreve o mal como a ausência de bem, um desvio da ordem criada por Deus. No entanto, o teólogo questionava: se o mal é apenas uma privação do bem, como explicar sua força e presença tão avassaladora em nossa realidade?

O fato é que Agostinho, em “A Cidade de Deus”, assevera que a salvação e a felicidade são possíveis:

A felicidade segue o mesmo caminho que a salvação, o da esperança. E como a salvação não a temos já, nós esperamos a futura, assim se passa com a felicidade [...] A salvação da outra vida será, por conseguinte, a felicidade final. E os filósofos, que não querem crer porque não veem, forjam a seu talante, fundados em virtude tanto mais enganosa quanto mais soberba, o fantasma da felicidade terrena.

É intrigante pensar que algumas pessoas questionem a realidade do Diabo. Se o Diabo não é real, então outro alguém com seu poder está nos atacando continuamente.

Como podemos explicar a extensão do mal no mundo de outra maneira? Não nos enganemos: o Diabo é real.

Pode ser que raramente seja reconhecido e que sua existência seja frequentemente negada, mas ele é real. A Bíblia está cheia de referências a um inimigo específico, e a Palavra de Deus é nossa única fonte confiável de informações sobre Satanás, os demônios e a guerra espiritual.

A revelação bíblica confirma a existência de um ser maligno chamado Satanás. A Bíblia refere-se a ele por diversos nomes e títulos. Ele é mencionado em sete dos 39 livros do Antigo Testamento: Gênesis, Crônicas, Jó, Salmos, Isaías, Ezequiel e Zacarias.

Um ser real

O trecho mais detalhado sobre o Diabo no Antigo Testamento é Jó 1–2, possivelmente o texto inspirado mais antigo, caso a hipótese de Jó ter sido o primeiro livro da Bíblia a ser escrito seja verdadeira. Nessa passagem, Satanás se apresenta diante de Deus com os outros anjos e fala diretamente com Ele.

Gênesis também apresenta o Diabo como um ser real. [O teólogo] C. Fred Dickason analisa as evidências contidas apenas em Gênesis e Jó para sustentar a existência do Diabo, indicando que o Antigo Testamento assume sua existência, assim como o faz com a existência de Deus. Nenhum dos dois é formalmente provado, mas ambos são apresentados como axiomas essenciais para o desenvolvimento das narrativas.

Toda a trama do livro de Gênesis depende da realidade de Satanás operando através da serpente para causar a queda da humanidade no pecado. Os eventos da Criação e da Queda estabelecem as bases para a batalha entre o bem e o mal ao longo da Bíblia e da história, bem como para todo o plano redentor de Deus, centrado no Deus-homem que vence o Diabo.

Por sua vez, toda a história da tragédia e do triunfo de Jó se baseia nos primeiros dois capítulos, que apresentam a “aposta” entre Deus e o Diabo acerca da fidelidade do patriarca. Dessa forma, concluímos que há alguns livros no Antigo Testamento que fariam pouco sentido histórico e exegético sem a realidade da existência e influência do Diabo como pessoa.

Voltando ao Novo Testamento, todos os escritores do Novo Testamento reconhecem a existência do Diabo, embora nem todos os livros o mencionem. O Diabo é mencionado em 19 dos 27 livros do Novo Testamento, incluindo 29 vezes nos Evangelhos — sendo 25 dessas menções vindas diretamente dos lábios de Cristo.

O grande "eu não sou"

Está claro nas páginas das Escrituras, desde Gênesis até Apocalipse, que o Diabo existe. No entanto, uma de suas táticas mais sutis, porém poderosas, é convencer as pessoas de que ele não existe

Deus deseja, acima de tudo, ser plenamente crido e adorado, mas Satanás, o mestre do engano, trabalha melhor quando é subestimado, ignorado ou negado. Deus é o grande “EU SOU". Satanás é o grande “eu não sou” — e nunca está mais satisfeito do que quando convence as pessoas de que não existe.

O Diabo adora minimizar sua própria existência para que possa realizar seus feitos sem ser percebido, sem obstáculos ou controle. Aqueles que não acreditam em sua existência estão, de fato, jogando seu jogo.

As Escrituras nos informam que o Diabo é um ser real, não apenas uma força impessoal, como a gravidade ou a eletricidade. Ele não é um poder sombrio nebuloso, mas um demônio malvado. Nas Escrituras, Satanás possui traços essenciais da personalidade: intelecto, emoção e vontade.

O Diabo intriga, maquina e engana (cf. Coríntios 2.11, Pedro 5.8, Apocalipse 20.3). Ele conhecia as forças de Jó (cf. Jó 1.6, 2.1) e as fraquezas de Pedro (cf. Lucas 22.31).

Demonstra emoções como orgulho (cf. Isaías 14.12, Timóteo 3.6) e ira (cf. Apocalipse 12.12). Ele pode se comunicar com outros (cf. Zacarias 3.1), inclusive com Jesus (cf. Lucas 4.1), o que reforça a ideia de que ele possui personalidade.

Ao longo das Escrituras, os pronomes pessoais são repetidamente usados para se referir ao Diabo, que está decidido a fazer tudo ao seu alcance para destruir e derrotar Deus e Seu povo.

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Conteúdo editado por: Omar Godoy

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