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Mudança de postura

O que mudou? Veja seis vezes em que a esquerda banalizou a sexualização das crianças

Youtuber Felca denunciou exploração e exposição precoce de crianças nas redes sociais (Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE/@FELCASEITA)

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O assunto “adultização de crianças” finalmente recebeu a atenção que merece, mas com ele veio mais uma tentativa de controle das redes sociais.

Em 6 de agosto, o youtuber Felca, até então desconhecido pelo público conservador, lançou um vídeo que expôs a erotização infantil na internet. A denúncia foi recebida como novidade e mobilizou o Legislativo e o Executivo.

Mas, embora o tema ficasse em segundo plano até agora, artistas, políticos e influenciadores conservadores já vinham denunciando casos graves há muitos anos. A esquerda até então tratava essas denúncias com indiferença, geralmente em nome da "arte", da "liberdade de expressão" ou da luta contra o "punitivismo".

Agora, a narrativa mudou: subitamente, o governo federal e os parlamentares de esquerda parecem empenhados em controlar a exposição de crianças na internet.

A seguir, relembramos sete episódios em que a esquerda ignorou a bandeira que hoje tenta reivindicar como sua. 

1) Castração química de pedófilos (2013 a 2024) 

A proposta de castração química para pedófilos ganhou destaque no Brasil a partir de 2013, quando Jair Bolsonaro, então deputado federal, apresentou o Projeto de Lei nº 5.398/2013. O texto previa que a castração química fosse uma condição para a progressão de pena de estupradores e pedófilos reincidentes, por meio de substâncias que inibem a libido, como acetato de medroxiprogesterona e leuprorrelina, aplicadas sob supervisão médica. O projeto acabou arquivado em 2019. 

No ano passado, o Congresso aprovou um projeto que inclui a castração química como pena adicional para condenados por pedofilia, além da criação de um cadastro nacional de pedófilos. A emenda foi proposta pelo deputado Ricardo Salles (Novo-SP) e aprovada com 267 votos favoráveis, 85 contrários e 14 abstenções.  

A bancada do PT foi orientada a votar contra ou se abster e a bancada do PCdoB, que integra a federação com o PT e o PV, votou de forma unânime contra o projeto. 

O ex-presidente Jair Bolsonaro celebrou a aprovação, enquanto parlamentares de esquerda, como Chico Alencar (PSOL-RJ), se opuseram à medida, argumentando que a castração química não resolveria o problema da violência sexual e que o foco deveria ser na educação sexual e prevenção.  

Embora a lei tenha sido aprovada pela Câmara, até hoje não foi votada pelo Senado federal.

2) Caso Santander (2017) - A exposição “Queermuseu” 

Patrocinada pelo Santander Cultural em Porto Alegre, em 2017 a exposição Queermuseu pegou pesado: obras com nudez, cenas com erotização de crianças e até desrespeito à fé cristã. Pior: a organização da mostra não impediu o acesso do público infantil.

As críticas geraram tanta repercussão que o banco cancelou a mostra, mas não sem antes virar alvo de protestos por apologia à pedofilia e à blasfêmia, enquanto artistas e movimentos ligados à esquerda defenderam-na como “liberdade artística”. Centenas de manifestantes se reuniram para protestar contra o cancelamento da exposição

3) Caso MAM – La Bête (2017)  

No mesmo ano, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAAM-SP) sediou a performance La Bête (“O Bicho” ou “A Besta”, em tradução do francês). A cena expunha um homem nu interagindo com as pessoas que visitavam a exposição. Quem passou por lá levou um susto, e a foto de uma menininha tocando a perna do homem pelado diante de uma plateia viralizou. A cena não foi suficiente para que artistas e setores ligados à esquerda saíssem em defesa da performance. 

Quatro dias depois do evento, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar as denúncias de suposto incentivo à pedofilia feitas sobre a apresentação. O Movimento Brasil Livre classificou o episódio como "repugnante", "inaceitável", "erotização infantil", "afronta", "crime", alegando que a criança teria sido constrangida. 

Esse mesmo episódio causou um embate público no programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo. Uma atriz defendeu a performance enquanto uma senhora da plateia chamada Regina se opôs, contrariando a opinião da atriz e dos demais convidados. A emissora foi criticada sob a alegação de que a senhora teria sofrido intolerância por parte da atriz e convidados, e Dona Regina ficou famosa nas redes sociais ao defender a pureza das crianças. “Eu sou contra essa mãe que levou a criança lá”, disse Dona Regina. 

4) O jogo “Casa, Mata ou Trepa” no livro de Felipe Neto (2020) 

Antônia Fontenelle, atriz e influenciadora, apresentou uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) contra o livro “Felipe Neto: A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil”. A acusação se baseou em um trecho intitulado “Casa, Mata ou Trepa”, no qual o leitor escolhia brasileiros famosos — entre eles uma jovem então menor de idade, Viih Tube — com quem “casaria”, “mataria” ou “’treparia’”. O livro não continha classificação indicativa e aparentava ser voltado ao público infantil ou infanto-juvenil.

Nikolas Ferreira (PL-MG), era ainda vereador quando fez no seu canal do Youtube um vídeo intitulado “Dossiê Felipe Neto - Tudo que você precisa saber [+18]”, por meio do qual revelou, além do jogo denunciado por Fontenelle, uma série de vídeos do youtuber que promoviam a sexualização precoce de crianças.

No mesmo ano, um colunista da revista de esquerda Carta Capital elogiou Felipe Neto dizendo que ele é um “representante do jovem progressista”. Em 2022, ao encontrar a ex-presidente Dilma Rousseff, Felipe Neto lhe pediu perdão por promover posicionamentos antipetistas no passado, demonstrando apoio à petista. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) compartilhou a imagem do encontro e celebrou a atitude, enquanto a ministra Anielle Franco (irmã de Marielle Franco) chamou o gesto de "ato de coragem". 

5) Caso Ilha de Marajó (2022) 

A então ministra Damares Alves (Republicanos-DF) denunciou, em um culto evangélico, casos de exploração sexual infantil, tráfico e mutilação de crianças na Ilha de Marajó (PA), afirmando que esses crimes eram abafados por interesses políticos. O Ministério Público Federal (MPF) contestou as alegações, alegando falta de provas e ajuizou uma ação civil pública pedindo indenização de R$ 5 milhões por danos sociais e morais coletivos, a serem revertidos em projetos sociais destinados à região do arquipélago.  

A denúncia gerou reações políticas intensas. Parlamentares de esquerda, como deputados do PT e PSOL, resistiram à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta por deputados do PL, alegando que as acusações careciam de fundamentação e poderiam ser usadas para fins eleitorais. Além disso, influenciadores e celebridades, como a apresentadora Xuxa, apoiaram um abaixo-assinado pedindo a cassação do mandato de Damares, embora essa mobilização não tenha resultado em um processo formal no Senado.  

6) A denúncia de Antônia Fontenelle que foi censurada (2024) 

Em outubro de 2024, Antônia Fontenelle fez uma nova denúncia contra a sexualização das crianças. Ela publicou em seu canal um vídeo intitulado “Chegamos ao fundo do poço! O que está acontecendo?”, no qual denunciava o influenciador digital Hytalo Santos por suposta sexualização de crianças em seu conteúdo. Ela afirmava que pretendia acionar o Ministério Público e criticava a postura dos pais dos adolescentes que participavam dos vídeos. 

Contudo, em dezembro daquele ano, a Justiça da Paraíba determinou a remoção imediata do vídeo, além de estabelecer uma multa diária de até R$ 20 mil em caso de descumprimento, sob a justificativa de que o conteúdo violava a honra e a imagem do influenciador Hytalo Santos. 

A decisão, porém, foi revertida em março de 2025. O juiz Adhemar de Paula Leite Ferreira Neto suspendeu o cumprimento da liminar, apontando falhas técnicas na petição, fazendo com que a obrigação de retirar o vídeo fosse anulada. 

Desde então, o caso segue em andamento no 1º Juizado Especial Cível de João Pessoa como ação de indenização por dano moral ou direito de imagem. Fontenelle optou por não remover o vídeo mesmo durante a vigência da liminar, o que a deixou exposta à possibilidade de multa judicial de até R$ 20 mil. 

Em reação à repercussão, Fontenelle ressaltou que havia denunciado o mesmo tipo de situação contra Hytalo Santos antes do influenciador Felca — cujas denúncias geraram mais visibilidade pública e ação judicial — e lamentou a diferença de tratamento: segundo ela, seu alerta não recebeu o mesmo apoio público ou de autoridades. 

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