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Segundo o relatório, a Ford já demitiu um funcionário que expressou opinião sobre a política identitária da empresa
Segundo o relatório, a Ford já demitiu um funcionário que expressou opinião sobre a política identitária da empresa| Foto: Divulgação/Ford

Desde que as empresas passaram a concentrar esforços na militância politicamente correta em detrimento do lucro, o cancelamento de clientes (e até de funcionários) por suas opiniões conservadoras se tornou cada vez mais comum no mundo corporativo. Diante da crescente dificuldade de pessoas físicas, pequenas empresas e organizações sem fins lucrativos fazerem bons negócios sem abrir mão de suas crenças, foi lançada nos Estados Unidos uma ferramenta com a classificação de viés corporativo de mais de mil marcas, enquadrando-as em alto, médio ou baixo risco de “cancelar um contrato ou cliente, boicotar, alienar ou negar serviços com base em opiniões ou crenças”. Na plataforma, é possível selecionar empresas por segmento ou nível de risco, e visualizar ou baixar relatórios em PDF, com os critérios e situações que levaram a determinada classificação.

O “Relatório Spotlight” foi desenvolvido pela 1792 Exchange, uma organização sem fins lucrativos, que busca proteger pequenos negócios e instituições filantrópicas do capitalismo “woke” [o que equivaleria a lacrador, em português], preservando a liberdade de religião, expressão e empreendimento. O grupo é formado por líderes empresariais, em parceria com “organizações vulneráveis ​​a corporações que usam seu tamanho e influência para abafar o discurso ou negar serviços”, com o intuito de “educar o Congresso e as organizações interessadas sobre o perigos das políticas ESG (ambientais, sociais e de governança) e para ajudar a orientar as empresas públicas nos Estados Unidos de volta à neutralidade em questões ideológicas, para que possam atender melhor seus acionistas e clientes com excelência e integridade”.

O resultado aponta que 50% das empresas examinadas têm baixo risco de lacração, enquanto 30% apresentam médio risco e 12% alto risco. Entre as de risco mais alto estão marcas que operam no Brasil, como Adobe, Airbnb, Coca Cola, Ford, General Motors, HP, Johnson & Johnson, Mattel, Microsoft, Nike, PayPal, YouTube, Starbucks e Amazon. Já entre as de baixo risco de lacração, aparecem Acer, Volkswagen, AstraZeneca, Signal, Spotify, Telegram e Puma.

De acordo com a 1792 Exchange, trata-se da maior análise até o momento do potencial woke das corporações americanas. O trabalho consiste no cruzamento (revisado e atualizado regularmente) de dados públicos sobre as empresas, que recebem pontuações em seis critérios determinados. Entre os fatores examinados estão a negação de serviços a clientes ou boicotes a fornecedores com base em crenças religiosas ou políticas; promoção de políticas ou práticas de doação que discriminam organizações de caridade em decorrência de pontos de vista; além de uso de reputação ou de fundos corporativos para apoiar causas ideológicas. Dois pontos ou mais configuram alto risco, um ponto equivale a médio risco, e as companhias que não pontuam são consideradas de baixo risco.

Recurso é bem-vindo 

“Queremos que os americanos usem as classificações de viés corporativo. Procure seu banco, empresa de hospedagem na web, processador de pagamentos, provedor de seguros… e se você não gostar do que leu, imprima uma cópia e leve com você para a agência local e peça educadamente para alterar a política”, sugere o presidente da 1792 Exchange, Paul Fitzpatrick. Outras formas de apoiar o trabalho é fazendo doações financeiras ou enviando relatos de cancelamento sofrido, para que a plataforma atualize as informações.

“As classificações de viés corporativo contêm informações vitais para acionistas, organizações sem fins lucrativos e pequenos negócios sobre empresas que podem cancelá-los por causa de suas opiniões. Os conservadores não podem se dar ao luxo de ignorar essas classificações importantes”, avalia Eric Korsvall, diretor de operações da Heritage Foundation.

A editora chefe do jornal conservador Daily Signal, Katrina Trinko, concorda que, em um contexto de guerras culturais travadas cada vez mais em salas de reunião, o recurso é bastante bem-vindo para orientar negócios e investimentos. Ela se diz surpresa, no entanto, com as marcas classificadas como de alto risco. “Eu esperava que empresas de tecnologia como Meta (controladora do Facebook e Instagram) e Alphabet (controladora do Google) fossem progressistas. E eu sabia que, por mais delicioso que fosse seu sorvete, Ben & Jerry's ainda não havia se afastado de suas raízes esquerdistas. Mas fiquei surpresa ao ver outras empresas, como [a rede de loja de roupas] Kohl's, Ford, Kroger [que opera supermercados e lojas de departamento] e [a seguradora] Allstate, serem esbofeteadas com o rótulo de ‘alto risco’ do 1792 Exchange. De fabricantes de brinquedos a companhias aéreas, de farmácias a supermercados, muitas empresas estão lutando ativamente por causas esquerdistas”, afirma.

Embora não tenha encerrado relações comerciais em decorrência de crenças religiosas ou opiniões políticas, segundo o relatório, a Ford “se comprometeu a vetar fornecedores com base nas políticas LGBTQ”. Além disso, um funcionário demitido pela montadora em 2015 alega que a motivação foram alguns comentários que ele fez sobre a política LGBT da empresa (a companhia apoia legislações como a Lei da Igualdade e a defesa de uma proteção especial a esse público na lei de direitos civis de Michigan, por exemplo).

Em 2021, em um post de lançamento da Ranger Raptor Special Edition, uma pessoa comentou no Twitter que a nova picape era “muito gay”, sugerindo que a empresa pintasse o carro de preto e dourado. A resposta da montadora foi um tweet apresentando o “Muito Gay Raptor”, nas cores sugeridas pelo internauta, com um arco-íris na lateral: “Muito gay foi um elogio, certo?”, postou a empresa. O veículo fez a estreia no Christopher Street Day, um desfile gay em Colônia, na Alemanha.

Demissões por opinião 

Terry Pell, presidente do Centro de Direitos Individuais, um escritório de advocacia de interesse público, sem fins lucrativos, dedicado à defesa das liberdades individuais, explica que o “terrorismo político tomou conta do local de trabalho”. Em uma participação no Daily Signal Podcast, ele cita uma pesquisa que aponta que 84% dos adultos americanos afirmam não poder falar livremente em situações cotidianas, sendo que 58% dos entrevistados tinham ficado em silêncio em algum momento do ano anterior, por medo de cancelamento.

Pell acrescenta que essas punições têm acontecido “em locais de trabalho públicos, governamentais e também no setor privado”. “O que está acontecendo é que ativistas externos deixaram claro que os funcionários podem ser demitidos por expressar qualquer coisa que um ativista político considere controversa. E, infelizmente, os empregadores não estão dispostos a enfrentar essa tática de pressão de ativistas externos. O resultado é que uma agenda de discursos muito unilateral e altamente politizada está tomando conta do local de trabalho privado”, lamenta.

Em 2021, o escritório defendeu quatro pessoas punidas com demissão por expressar um ponto de vista político fora do trabalho. Antes disso, Pell conta que o mais comum era um caso assim a cada quatro anos.

No ano passado, trouxemos quatro casos defendendo pessoas que foram punidas apenas por causa de um ponto de vista político que expressaram fora do trabalho e alguém fez um problema e eles foram demitidos. “E não está parando. Recebemos telefonemas a cada duas semanas sobre alguém que foi punido”, conta.

Um desses processos envolve o vice-presidente de uma corporação privada em Maryland, que tinha autorização do empregador para ter um podcast com um amigo fora do trabalho, falando sobre cervejas artesanais e intercalando algum comentário político. Um dos colegas de empresa pesquisou cerca de 200 episódios do podcast e achou algumas críticas a esforços de diversidade corporativa e a leis de crime de ódio. “O funcionário insatisfeito enviou um e-mail para toda a empresa exigindo que esse indivíduo fosse demitido. E quando isso não funcionou, o funcionário organizou uma paralisação com cerca de 15 outros funcionários, e o empregador imediatamente cedeu, apesar do fato de que a política da empresa era que os funcionários pudessem ter podcasts fora do trabalho. E apesar do fato de ele ter recebido permissão explícita para seu podcast, eles o demitiram em quatro horas”, explica.

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