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Quem é o pai de santo da Anitta que apoia Bolsonaro e pode ser candidato pela direita

Sérgio Pina foi apresentado por Michelle Bolsonaro como representante das religiões de matriz africana no ato pró-Anistia da Avenida Paulista.
Sérgio Pina foi apresentado por Michelle Bolsonaro como representante das religiões de matriz africana no ato pró-Anistia da Avenida Paulista. (Foto: Reprodução/YouTube)

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Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é conhecida pelos praticantes das religiões afro-brasileiras como a cidade com a maior concentração de terreiros no estado do Rio de Janeiro. Entre os pais de santo mais respeitados da região está o candomblecista Sérgio Pina, que ganhou certa notoriedade nos últimos anos por orientar espiritualmente a cantora Anitta. 

Em 2024, ele voltou a furar a bolha da religião ao aparecer em um videoclipe da artista, marcado por referências ao candomblé — e com isso conseguiu milhares de seguidores nas redes sociais. No último domingo (6), porém, Pina entrou de vez na pauta nacional após declarar apoio a outra figura proeminente: Jair Bolsonaro. 

O pai de santo foi um dos líderes religiosos que subiram no trio elétrico com o ex-presidente durante o ato pró-anistia realizado na Avenida Paulista, em São Paulo. Apresentado por Michelle Bolsonaro como representante das religiões de matriz africana, Sérgio Pina participou do evento ao lado de diversos pastores, de um rabino e do Padre Kelmon (ligado à Igreja Ortodoxa do Peru, sem conexão com a Igreja Católica Apostólica Romana).

Pina já havia declarado seu apreço por Jair Bolsonaro em outras ocasiões, incluindo as últimas eleições e a manifestação da direita em Copacabana, em março. No entanto, a exposição que recebeu no domingo não tem precedentes em seus 50 anos como guia espiritual — comemorados em julho do ano passado, com uma festa prestigiada por sacerdotes candomblecistas de vários lugares do país. 

Tanto que sua presença no ato em São Paulo surpreendeu a própria comunidade da qual faz parte, tradicionalmente mais afinada com a esquerda. Mas não foi uma surpresa positiva. Nas redes sociais, Pina vem sendo duramente criticado por outros seguidores de religiões afro-brasileiras, que não aceitam seu alinhamento a um projeto político conservador. 

Fogo amigo 

Expressões como “vergonha” e acusações de “espiritualidade a serviço da opressão” pipocaram no campo de comentários das postagens de Pina — até então saudado por seu trabalho de preservação e promoção das tradições espirituais herdadas dos povos africanos.

Em outra frente, influenciadores ligados à umbanda e ao candomblé condenaram o pai de santo por defender um ex-presidente, segundo eles, homofóbico e negacionista. 

No meio cristão, entretanto, a presença de Sérgio Pina no trio de Bolsonaro foi relativamente bem recebida. Alguns fiéis consideraram a parceria entre os dois uma “pactuação com o demônio” — mas, no geral, houve um reconhecimento da capacidade de liderança de Michelle Bolsonaro, responsável por unir personalidades de diferentes expressões religiosas. 

“Estou sendo atacado pela minha classe, pelos meus. É o tal do ‘fogo amigo’”, diz Pina em uma entrevista concedida ao colunista de celebridades Matheus Baldi, da revista IstoÉ Gente. Aliás, o fato de ter conversado primeiro com um “jornalista de fofoca”, antes de voltar ao Rio de Janeiro após o ato, também lhe rendeu insinuações de oportunismo. 

“Chamo o Bolsonaro de ‘presidente’ porque votei nele. Mas não sou bolsonarista, sou conservador. Sempre fui de direita. Quem fala a minha língua, quem vai comigo, com esse eu estou junto”, afirma.

Pina ainda conta que costumam enviar para ele matérias com falas controversas do ex-presidente. “Mas sempre digo: me manda a íntegra [da entrevista], não quero recorte. Para eu dizer onde ele acertou e errou. Não adianta colocar alguém no poder e não poder cobrar.” 

Candidatura à vista 

“Alguns falam por nós sem nos representar”, diz Sérgio Pina, referindo-se às lideranças das religiões afro-brasileiras que historicamente sempre estiveram ao lado da esquerda.  

Questionado se há espaço para a sua comunidade no ambiente do conservadorismo, ele garante que sim. “Nós do candomblé somos mais liberais. Tomamos uma cervejinha, dançamos na rua, falamos mais alto. Mas também podemos ser conservadores.” 

O pai de santo também revela que pretende articular e estruturar esse grupo — sugerindo uma possível candidatura em 2026. “Já recebi convite. Mas quero estudar primeiro, porque não gosto de tentar. Gosto de mirar e acertar.” 

O ingresso na política, no entanto, depende de uma consulta às bases. Ou melhor: aos guias espirituais. “Terei de perguntar aos meus mentores, a quem me governa. Se disserem que não, espero mais um pouco.”

Pina e Anitta mantêm uma "ligação muito fechada" há mais de 10 anos.Pina e Anitta mantêm uma "ligação muito fechada" há mais de 10 anos. (Foto: Reproduçãp/Instagram @anitta)

Suposto distanciamento

Anitta começou a frequentar o terreiro de Sérgio Pina em 2013, após estourar com o hit “Show das Poderosas”. Ela foi levada pelo pai e o irmão, que já frequentavam o local.

Desde então, a cantora mantém uma relação próxima com o pai de santo e participa ativamente de suas atividades religiosas — apesar de também experimentar sessões de Kundalini (prática ligada à ioga), retiros espirituais com xamãs e consultorias astrológicas. 

Nem um suposto distanciamento, ocorrido durante a pandemia, estremeceu a ligação entre mentor e orientanda. 

De acordo com a colunista Fábia Oliveira, do jornal O Dia, Pina ficou magoado pelo fato de Anitta não o procurar após ele sofrer um pré-infarto, logo no início da crise sanitária — e, ainda por cima, visitar outros terreiros enquanto ele estava doente. 

A assessoria da popstar desmentiu a jornalista e, em seguida, o próprio religioso fez o mesmo. “Estamos em harmonia. Já disse e repito: o sagrado só pertence a nós”, afirmou. 

Anitta e Larissa 

Hoje alinhada com o governo Lula, Anitta quase foi cancelada pelos próprios fãs por seguir um perfil de apoio a Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018. 

A cantora ainda tentou se manter neutra, afirmando que não declararia voto em nenhum candidato. Mas não aguentou a pressão, vinda também de outros famosos, e acabou aderindo ao movimento #EleNão (mobilização anti-Bolsonaro iniciada por mulheres de esquerda). 

Instado a comentar suas diferenças políticas com a filha espiritual, Sérgio Pina dá a entender que há uma grande diferença entre as personas pública e privada da popstar

“Convivo com a Anitta uma vez por ano, quando subo no trio elétrico dela [durante o Carnaval]. Mas tenho uma ligação muito fechada com a Larissa [nome de batismo da cantora], com quem falo às vezes cinco, seis vezes ao dia”, afirma o pai de santo à IstoÉ

Pina conta que foi à festa de aniversário da cantora, no final de março, e os dois conversaram sobre a repercussão negativa, dentro da comunidade do candomblé, de sua presença no ato pró-anistia em Copacabana, realizado semanas antes. 

"Ela brincou comigo: ‘Pai, o senhor está apanhando muito, hein?’. Eu concordei, demos risada e seguimos. Vivemos numa democracia, cada um tem seu direito de escolha.”

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