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Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos de todos os tempos, tem por hábito escrever cartas aos acionistas da Berkshire Hathaway — holding multinacional liderada por ele. Nesses comunicados, emitidos desde 1978, ele compartilha sua visão sobre investimentos, gestão e estratégia empresarial com clareza e bom humor.
No livro “As Cartas de Warren Buffet” (editora Sextante), o advogado e professor Lawrence Cunningham reúne esses textos e os transforma em um verdadeiro manual sobre finanças e cultura corporativa. O trecho a seguir reproduz uma missiva de 2010, em que Buffet (hoje com 94 anos) recomenda que seus colavoradores evitem atalhos duvidosos e encararem as más notícias de frente.
Esta é minha carta para enfatizar mais uma vez que a Berkshire tem como principal prioridade que todos nós continuemos a proteger com zelo a reputação da empresa. Não conseguimos ser perfeitos, mas podemos tentar.
Como venho afirmando nesses memorandos ao longo de mais de 25 anos: “Podemos nos dar ao luxo de perder dinheiro — inclusive muito dinheiro. Mas não ao luxo de perder a nossa reputação — nem sequer um pingo dela”.
Devemos continuar a avaliar cada ato não apenas pelo que é legal, mas também pensando no que gostaríamos de ver na primeira página de um jornal de circulação nacional, na matéria escrita por um repórter pouco amigável, porém inteligente.
Em certas ocasiões, seus colaboradores dirão: “Mas todo mundo faz isso” Quase sempre essa linha de raciocínio é ruim como principal justificativa para uma ação de negócios. Ela é totalmente inaceitável na hora de avaliar uma decisão moral.
Sempre que alguém apresenta tal argumento como fundamento lógico, na verdade está dizendo que não consegue encontrar um bom motivo. Se uma pessoa vier com esse discurso, diga para tentar usá-lo com um repórter ou um juiz e ver até onde conseguirá chegar com isso.
Caso você encontre algo cuja propriedade ou legalidade lhe cause qualquer dúvida, não deixe de me ligar. No entanto, se determinada linha de conduta leva a essa hesitação, provavelmente ela já está bastante próxima do limite da regra e deve ser abandonada.
Podemos ganhar muito dinheiro sem marcar falta no jogo. Caso você sinta que alguma ação está esbarrando no limite, assuma de uma vez que ela não é válida e a esqueça.
Nessas circunstâncias, avise-me de imediato se houver uma má notícia relevante. Sei lidar com elas, mas não gosto de ter que fazer isso quando já chegaram ao estado de putrefação.
Por causa da relutância em enfrentar más notícias de imediato, um problema na Salomon que poderia ter sido resolvido com facilidade quase causou a falência de uma empresa com 8 mil funcionários.
Neste momento, alguém está fazendo algo na Berkshire que não agradaria nem a mim nem a você se soubéssemos. É inevitável: hoje empregamos mais de 250 mil pessoas, e são nulas as chances de essa gente toda encerrar o dia sem que tenha ocorrido algum tipo de mau comportamento.
Mas podemos minimizar tais atividades, obtendo um impacto enorme, se agirmos com prontidão ao menor sinal de impropriedade.
Sua atitude em relação a esses assuntos, expressa tanto pelo comportamento quanto pelas palavras, será o fator mais importante na forma como a cultura da sua empresa vai se desenvolver. Mais do que os guias de conduta, a cultura determina como uma organização se comporta
Em relação a outros aspectos, você pode me contar muito ou pouco, como bem entender. Cada um de vocês faz um trabalho de primeira ao administrar suas operações com estilo próprio sem precisar da minha ajuda.
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Conteúdo editado por: Omar Godoy






