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O Imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.) observou em suas ‘Meditações’ que aprendeu com seu bisavô “a evitar as escolas públicas, contratar bons professores particulares e aceitar os custos resultantes como dinheiro bem gasto”
O Imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.) observou em suas ‘Meditações’ que aprendeu com seu bisavô “a evitar as escolas públicas, contratar bons professores particulares e aceitar os custos resultantes como dinheiro bem gasto”| Foto: Wikipedia

A grande estudiosa clássica Edith Hamilton observou que os antigos gregos desaprovavam seus equivalentes romanos em relação à educação. Os primeiros adotaram a educação pública (governamental), enquanto os romanos deixaram a educação a cargo da família, no ambiente doméstico. Os gregos esnobes achavam os romanos atrasados e sem sofisticação. Os romanos, é claro, conquistaram os gregos.

Durante a maior parte dos cinco séculos da República, os romanos eram educados em casa, onde as virtudes de honra, caráter e cidadania eram enfatizadas. Somente nos últimos séculos da República é que algo semelhante à educação governamental surgiu. Além disso, nunca foi tão centralizado, universal e obrigatório como é em nossa sociedade hoje. A acadêmica e clériga inglesa Teresa Morgan, em um artigo de 2020 intitulado "Avaliação na Educação Romana", escreve: "Em nenhuma fase de sua história, Roma exigiu legalmente que seu povo fosse educado em qualquer nível".

No século II d.C., durante a ditadura do Império, pelo menos um líder sábio já reconhecia falhas na educação governamental.

Nada menos que o Imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.) observou em suas 'Meditações' que aprendeu com seu bisavô "a evitar as escolas públicas, contratar bons professores particulares e aceitar os custos resultantes como dinheiro bem gasto".

É uma aposta segura que se Aurélio estivesse conosco hoje, ele seria um defensor da escolha da escola [N.t. nos EUA, a possibilidade de que os pais escolham alternativas à escola pública - o que inclui outros tipos de instituição ou educação domiciliar - para seus filhos é tema de debate acirrado nas legislaturas estaduais]. Ele era um homem inteligente que acreditava, apesar de ser um governante, que não era mais inteligente do que os pais que queriam o melhor para seus filhos. Imagine só! Na questão importante da educação, um imperador romano de quase 2.000 anos atrás era mais inteligente do que Joe Biden ou Gavin Newsom [governador da Califórnia] ou Randy Weingarten [presidente da Fundação Americana de Professores].

Aurélio não era apenas inteligente, mas talvez fosse tão bom quanto se poderia esperar de um imperador. Historiadores o consideram o quinto dos Cinco Bons Imperadores que reinaram consecutivamente de 96 a 180 d.C. Especialmente quando comparados à maioria dos outros governantes - que geralmente eram lunáticos cruéis, belicosos implacáveis ou palhaços incompetentes - esses cinco seguidos tendiam a ser justos e eficazes. Nenhum homem está apto para governar outros com o tipo de poder arbitrário que os imperadores romanos podiam exercer, mas pelo menos "os cinco" o fizeram com leveza na maioria das vezes.

Isso não deve ser surpresa no caso de Aurélio, que assumiu o trono relutantemente. Ele teria preferido a vida de um filósofo estoico. Aqueles dessa escola de pensamento abraçam a coragem, a temperança, a justiça e a sabedoria como os elementos centrais de sua crença.

A introspecção, humildade e gratidão não estão comumente presentes em pessoas cujas vidas são consumidas por uma sede de poder, mas são traços que Aurélio possuía em abundância. Ele mantinha anotações privadas cheias de reflexões sobre filosofia estoica e autoaperfeiçoamento.

"Ele não esperava que mais ninguém além dele lesse seus aforismos", escreve Barry Brownstein. "Ele escreveu para si mesmo um guia para viver uma vida consistente com seus valores mais elevados." A coleção dessas notas privadas é conhecida como 'Meditações', e estudiosos como Brownstein e Ryan Holiday consideram a tradução de Gregory Hays como a melhor.

No Livro Um das Meditações, intitulado 'Dívidas e Lições', Aurélio identifica as qualidades positivas de amigos e parentes que o influenciaram profundamente. Isso é um testemunho de um traço de caráter importante, ou seja, a gratidão. Este é um líder que nunca permitiu que sua posição elevada subisse à cabeça; ele reconheceu o fato de que muitas coisas boas em sua vida não eram de sua própria autoria. Ele era simultaneamente grato e humilde.

Aurélio dedica mais espaço ao que aprendeu e admirou sobre seu pai adotivo (o Imperador Antonino Pio) do que qualquer outra pessoa. É uma lista notável. Quando li pela primeira vez, pensei comigo mesmo: "Mesmo que Aurélio tenha exagerado aqui e ali, Antonino Pio deve ter sido um indivíduo verdadeiramente notável." Com isso em mente, aqui está uma amostra do que Aurélio, em suas próprias palavras, acreditava serem as qualidades exemplares de seu pai. O que uma pessoa valoriza nos outros diz muito sobre ela mesma.

Indiferença às honras superficiais. Trabalho árduo. Persistência.

Sua determinação obstinada em tratar as pessoas como elas mereciam.

Não esperar que seus amigos o entretivessem durante o jantar ou viajassem com ele (a menos que quisessem). E qualquer pessoa que tivesse que ficar para trás para cuidar de algo sempre o encontrava da mesma forma quando voltava.

Suas perguntas incisivas em reuniões. Uma espécie de obstinação, quase nunca contente com as primeiras impressões ou interrompendo a discussão prematuramente.

Sua constância com os amigos - nunca se cansando deles ou tendo favoritos.

Autossuficiência, sempre. E alegria.

Suas restrições às aclamações - e todas as tentativas de bajulá-lo.

Sua dedicação constante às necessidades do império. Sua administração do tesouro. Sua disposição em assumir responsabilidade - e a culpa - por ambos.

Sua atitude em relação aos homens: sem demagogia, sem bajulação. Sempre sóbrio, sempre firme e nunca vulgar ou vítima de modismos.

Sua capacidade de se sentir à vontade com as pessoas - e deixá-las à vontade, sem ser insistente.

Sua disposição em ceder a palavra a especialistas - em oratória, direito, psicologia, seja o que for - e apoiá-los energeticamente, para que cada um deles pudesse cumprir seu potencial.

A maneira como ele poderia ter uma de suas enxaquecas e depois voltar imediatamente ao que estava fazendo - novo em folha e dando o melhor.

A maneira como ele manteve as ações públicas dentro de limites razoáveis - jogos, projetos de construção, distribuições de dinheiro e assim por diante - porque ele olhava para o que precisava ser feito e não para o crédito a ser obtido ao fazê-lo.

Ele nunca exibiu grosseria, perdeu o controle de si mesmo ou ficou violento. Ninguém nunca o viu suar. Tudo deveria ser abordado logicamente e com devida consideração, de maneira calma e ordenada, mas decisiva e sem pontas soltas.

Força, perseverança, autocontrole em todas as áreas: a marca de uma alma pronta - indomável.

Os quatro primeiros dos Cinco Bons Imperadores escolheram um herdeiro adotado para sucedê-los, ao contrário de passar o trono para um filho. Aurélio quebrou com essa tradição e nomeou seu filho Cômodo como sucessor. Foi um dos maiores erros de Aurélio. Cômodo provou ser muito mais parecido com os piores de Roma (Nero, Calígula e Heliogábalo) do que com os melhores.

Não tenho o desejo de ser súdito de qualquer potentado, mas se tivesse que viver sob apenas um dos quase 100 imperadores da Roma antiga, acredito que escolheria Marco Aurélio.

© 2023 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Why Rome’s Best Emperor Shunned Government Schools

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