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Desde a pandemia da COVID-19, que forçou as escolas a adotarem o ensino remoto, muitas instituições de ensino se tornaram dependentes de dispositivos digitais.
Tarefas escolares passaram a ser realizadas em computadores e tablets fornecidos aos alunos para auxiliar nos estudos. Mas ao observarem os filhos mais irritados, menos sociáveis e com desempenho escolar reduzido, os pais se perguntam: onde estão os professores?
“Por que estamos deixando um iPad o dia todo, oito horas por dia, nas mãos dos nossos filhos?”, questiona Patricia McCoy, mãe de quatro filhos em Wyoming. “Eles recebem folhas de exercícios no iPad, mas não há nenhum pensamento crítico se desenvolvendo, porque os aplicativos estão substituindo os professores.”
Mesmo quando crianças enfrentam dificuldades, a solução de algumas escolas é cada vez mais tecnológica. “Se seu filho tem dificuldade em matemática, em vez de oferecer aulas de reforço, indicam um aplicativo no iPad”, continua McCoy.
“Mas esse aplicativo não ensina a resolver problemas. Ele apenas fornece a resposta pronta. Com o ChatGPT e outros aplicativos similares, todo o trabalho de raciocínio é feito pela tecnologia. O aluno só precisa digitar a questão e receber a solução pronta. Depois passa para a próxima tarefa para ganhar a nota", diz.
Prejuízo na memorização
Segundo Mike Maldonado, pai de cinco filhos na Califórnia, a pandemia facilitou que professores simplesmente deixassem os alunos na frente de uma tela: “Isso ajuda os que não querem ensinar. Eles estão ali apenas pelo emprego”.
Jaime Brennan, membro do Conselho de Educação do Condado de Frederick, acrescenta: “Quando um professor pode usar a internet e criar tarefas com inteligência artificial, ele não precisa usar sua capacidade intelectual. Isso cria um efeito cascata. Introduzimos telas e tecnologia em níveis que não somos naturalmente adaptados a usar, e isso afeta o aprendizado”.
Brennan alerta que a dependência de IA impede os alunos de desenvolverem habilidades básicas, como automatização e memorização de cálculos simples, competências essenciais para o aprendizado e a vida adulta.
Patricia McCoy conta que o filho mais novo, submetido ao ensino digital, ficou “dois a três anos atrasado” em relação aos irmãos. “Ele faz apenas o necessário para passar, mas está intelectualmente atrasado. É triste e doloroso como mãe saber que provavelmente falhei ao confiar no que a escola prometeu ajudá-lo a alcançar.”
Mesmo atrasado, o garoto segue no caminho para concluir o ensino médio dentro do prazo previsto. E Brennan reforça: “Estamos formando alunos que precisam de reforço em faculdades comunitárias. Eles não estão preparados para o mundo real.”
Um tipo de droga
O tempo excessivo diante de telas também alterou o comportamento do filho de McCoy. “Uma vez, tentei tirar o celular dele, e parecia que estava encarando um demônio. Seus olhos estavam frios, negros. Parecia um viciado em drogas, e eu estava tirando a droga dele. Ele tinha 15 anos”, diz.
Sem o celular, porém, o menino se transformou: “Interagiu com a família, brincou com nossos cachorros, não estava mais sonolento o dia todo.”
Maldonado atribui parte dos problemas à falta de interação humana nas “salas de aula digitais”. “As crianças perderam a comunicação entre pessoas de verdade. Sem isso, elas se isolam, não apenas na escola, mas em casa e na sociedade”, explica.
Brennan ainda alerta que estudantes de hoje têm dificuldades até para contato visual e relacionamentos, adiando até mesmo decisões sobre casamento.
Dispositivos caros
O aumento do uso de IA expõe crianças a conteúdos inadequados, prejudica o desenvolvimento do pensamento crítico e, em casos extremos, já levou jovens ao suicídio.
Estudos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostram que o engajamento cerebral diminui significativamente em crianças que usam inteligências artificial em comparação com métodos tradicionais, e a memória de tarefas completadas com essas ferramentas é prejudicada.
Curiosamente, escolas com dificuldades orçamentárias ainda encontram recursos para comprar dispositivos novos, mesmo com equipamentos antigos funcionando.
Grande parte do dinheiro vai para administração, taxas e dispositivos caros que nem deveriam estar nas salas. E depois dizem que precisam de mais verbas”, afirma McCoy. “O problema não é dinheiro, é como se ensina. Parem de gastar em iPads e invista nos professores”, acrescenta.
Pais ainda têm poder
Tina Descovich, cofundadora do grupo de defesa parental Moms for Liberty, acredita que a tecnologia pode ser útil, mas de forma responsável. “Há professores que querem usar IA para melhorar suas habilidades e ensinar melhor”, diz.
Em setembro, a organização firmou um compromisso com a Casa Branca para fomentar a inovação e o interesse de jovens americanos em IA.
Brennan comenta: “Estamos ensinando nossos filhos a serem consumidores de tecnologia, não desenvolvedores. Para formar criadores de tecnologia, é preciso aprender a pensar fora das telas e desenvolver habilidades que não dependam apenas de dispositivos”.
Descovich orienta que, além de ajudar em casa, os pais se unam e eduquem a comunidade sobre os riscos da tecnologia em excesso. “Quando pais participam de reuniões do conselho escolar e falam sobre um problema, é possível causar impacto. Eles vão ouvir”, afirma.
©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: No Critical Thinking: Parents Sound Alarm as Tech Begins to ‘Replace the Teacher
Conteúdo editado por: Omar Godoy



