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Um dos intelectuais mais respeitados dos EUA, Thomas Sowell está de volta às livrarias brasileiras com o primeiro volume de uma série que compila ensaios, artigos acadêmicos, colunas para jornais e cartas escritas nos últimos 50 anos.
Intitulado “Thomas Sowell Essencial — Vol. 1: Sociedade, Economia e Política” (selo Avis Rara), o livro é marcado por reflexões ao mesmo tempo concisas e profundas sobre temas como a tributação dos mais ricos, o papel dos juízes na sociedade e o desenvolvimento das crianças no mundo contemporâneo, entre outros.
No recorte que você vai ler a seguir, Sowell se baseia em dados e estatísticas oficiais para confrontar uma das “profecias apocalípticas” mais persistentes: a de que a família está em vias de extinção.
Para a intelligentsia, a família — ou “a família tradicional”, como dizem hoje em dia — é apenas um estilo de vida entre muitos. Além disso, proclamam periodicamente seu declínio, sem nenhum sinal de remorso. Às vezes, até com um leve ar de superioridade.
Os dados mais recentes do censo revelam que a família tradicional — um casal casado e seus filhos — constitui pouco menos de um quarto de todos os domicílios. Por outro lado, uma década atrás, tais famílias constituíam apenas um pouco mais de um quarto de todas as famílias. Qualquer relato a respeito do desaparecimento da família tradicional é bastante exagerado.
As estatísticas de momento podem ser muito enganosas quando percebemos que as pessoas passam por diferentes estágios em suas vidas. Mesmo as famílias mais tradicionais nunca consistiram permanentemente de casais casados e seus filhos.
Os filhos crescem e saem de casa. As pessoas que se casam não começam a ter filhos imediatamente. Se cada indivíduo no país se casasse e tivesse filhos, as famílias de casais casados com filhos ainda não constituiriam 100% dos domicílios em nenhum momento dado.
Com o aumento da renda per capita, mais indivíduos podem se dar ao luxo de serem donos de seus próprios domicílios.
Entre eles, incluem-se jovens adultos não casados, viúvos e viúvas, e outros que costumavam viver com parentes antigamente. Quando mais desses domicílios são criados, os domicílios familiares tradicionais se tornam automaticamente uma porcentagem menor de todos os domicílios.
Aliás, o crescimento dos domicílios com um único morador — cerca de 25% dos domicílios hoje — é a razão pela qual a renda média familiar vem subindo muito pouco, mesmo que a renda per capita tenha aumentado consideravelmente.
Os profetas do apocalipse gostam de citar as estatísticas de renda familiar para alegar que a renda dos norte-americanos está estagnada, quando na verdade houve um aumento sem precedentes e sustentado na prosperidade, entre mulheres e homens, negros e brancos, e praticamente todos os outros.
Pistas reveladoras
Hoje em dia, o casamento ocorre mais tarde do que no passado e mais pessoas não chegam a se casar. Porém, 53% de todos os domicílios ainda são ocupados por casais casados, com ou sem filhos vivendo atualmente com eles, ao passo que alguns dos outros domicílios contêm viúvos cujos casamentos chegaram ao fim apenas por causa da morte de um dos cônjuges.
Apesar das tentativas de equiparar casais casados com pessoas que vivem juntas como “parceiros domésticos”, os casais casados estão, na realidade, em melhor situação do que os casais não casados, por quase qualquer padrão imaginável. Os casais casados apresentam rendas maiores, vidas mais longas, saúde melhor, menos violência, menos consumo de álcool e menos pobreza.
Como o jogador de beisebol Casey Stengel costumava dizer: “Você pode conferir”. Um lugar onde é possível verificar isso é o livro “The Case for Marriage” [“O Caso do Casamento”], de Linda Waite e Maggie Gallagher.
Porém, esse é apenas um entre muitos lugares. Em geral, você não toma conhecimento desses fatos porque eles não são considerados “politicamente corretos”, já que a mídia, os políticos, a academia e os tribunais estão ocupados tentando fazer com que todos os tipos de condições de vida pareçam iguais.
O último relatório do censo “America’s families and living arrangements” [“Famílias e condições de vida nos Estados Unidos”] contém toda sorte de estatísticas, mas evita mostrar as estatísticas mais básicas sobre a renda média de famílias de casais casados em comparação com “outros agregados familiares” ou com “agregados não familiares”. Ao que tudo indica, o Departamento do Censo não quer ser politicamente incorreto.
No entanto, se você analisar os números do censo, descobrirá algumas pistas reveladoras. Embora tanto “parceiros não casados” como “cônjuges casados” estejam distribuídos ao longo da escala de renda, a faixa com o maior número de homens que são parceiros não casados possui uma renda entre US$ 30 mil e US$ 40 mil por ano.
A faixa com o maior número de maridos apresenta uma renda entre US$ 50 mil e US$ 75 mil. Entre os lares de casais casados, a faixa com o maior número de domicílios dispõe de uma renda igual ou superior a US$ 75 mil. Entre “outros grupos familiares”, a faixa com o maior número de domicílios apresenta uma renda abaixo de US$ 10 mil.
As mulheres que moram juntas possuem quatro vezes mais chances de se tornarem vítimas de violência do que as mulheres casadas, e seus filhos têm 40 vezes mais chances de serem abusados por namorados que moram com elas do que por seus próprios pais.
Apesar de tudo isso, continua sendo um dogma entre aqueles que ditam as modas ideológicas que o casamento é apenas mais um estilo de vida, nem melhor nem pior do que qualquer outro. Até mesmo o Departamento do Censo parece relutante em publicar dados estatísticos que contrariem essa visão e irritem os ungidos.
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Conteúdo editado por: Omar Godoy






