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Por que os progressistas apoiam cada vez mais a violência

Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, posa perto da residência do mandatário em Mar-a-Lago, em West Palm Beach, Flórida, EUA, em 15 de setembro de 2024: violência política em alta entre os progressistas
Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, posa perto da residência do mandatário em Mar-a-Lago, em West Palm Beach, Flórida, EUA, em 15 de setembro de 2024: violência política em alta entre os progressistas (Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH)

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A violência política nos Estados Unidos deixou de ser apenas uma lembrança do passado. Tentativas de assassinato contra o ex-presidente Donald Trump, o homicídio do executivo-chefe (CEO) da UnitedHealthcare, Brian Thompson, e até mesmo a queima de veículos da Tesla em protestos contra Elon Musk são episódios que ilustram uma realidade inquietante. Neste ano, mais de nove mil ameaças foram registradas contra parlamentares do Congresso americano — um aumento considerado “enorme” pelas autoridades.

Esses eventos seriam casos isolados ou indicam um problema mais profundo na sociedade americana? Estariam interligados? E, sobretudo: a população os aprova?

Um novo relatório do Network Contagion Research Institute (NCRI), instituto de pesquisa norte-americano voltado à análise de ameaças digitais e discursos de ódio, busca responder a essas perguntas. A partir de uma combinação de pesquisas de opinião e análise de comportamento em redes sociais, os pesquisadores identificaram o surgimento de subculturas que justificam a eliminação de figuras públicas, como Trump e Musk. Essa chamada “cultura do assassinato”, antes restrita a nichos radicais da internet, parece ter ganhado espaço no debate público.

De acordo com o levantamento, quase um terço dos entrevistados — e aproximadamente metade dos que se identificam com a centro-esquerda — acredita que o assassinato de certas figuras públicas seria, ao menos em parte, justificável. Os dados impressionam: 38% dos participantes e 55% dos simpatizantes da centro-esquerda afirmaram que matar o ex-presidente Trump poderia ser justificável. Em relação a Elon Musk, 31% dos entrevistados e 48% dos progressistas disseram o mesmo. Além disso, 40% do total e 58% dos alinhados à centro-esquerda consideram aceitável “destruir uma concessionária da Tesla” em ato de protesto.

O estudo também mapeou o surgimento de uma cultura violenta em ambientes virtuais predominantemente à esquerda, como as plataformas Reddit e Bluesky — esta última uma rede social descentralizada criada como alternativa ao X (antigo Twitter). Nessas comunidades, há discursos que não apenas justificam, mas glorificam a violência política.

Um exemplo emblemático: diversos usuários passaram a utilizar o nome “Luigi” — ou o personagem homônimo dos jogos da Nintendo — como referência codificada ao suposto assassino de Brian Thompson, identificado como Luigi Mangione. Com frequência, esses conteúdos circulam em formato de memes estilizados, disfarçando apelos à violência sob camadas de ironia.

Para compreender os fatores associados a essas atitudes, os pesquisadores analisaram correlações entre o apoio à violência e determinadas características psicológicas e comportamentais. Três fatores se destacaram: o chamado autoritarismo de esquerda (tendência a empregar coerção em nome de objetivos progressistas), um locus de controle externo (sensação de impotência diante da própria vida) e o uso frequente de plataformas digitais de viés progressista, como a Bluesky.

Veículos incendiados em uma concessionária Tesla vandalizada, onde 17 carros estacionados foram destruídos por um incêndio, nos arredores de Roma, Itália, em 31 de março de 2025Veículos incendiados em uma concessionária Tesla vandalizada, onde 17 carros estacionados foram destruídos por um incêndio, nos arredores de Roma, Itália, em 31 de março de 2025 (Foto: EFE/EPA/MASSIMO PERCOSSI)

Esses achados revelam um dado preocupante: muitos indivíduos alinhados ao campo progressista parecem ter adotado uma visão ideológica coesa que justifica a violência como forma de ação política. Embora o extremismo de direita siga representando uma ameaça real — e amplamente documentada —, seu contraponto à esquerda tem recebido menos atenção acadêmica e jornalística, apesar de indícios de crescimento.

A ascensão dessa mentalidade beligerante acende alertas sobre o futuro da democracia americana. Assassinatos políticos frequentemente ocorrem quando seus autores acreditam que parte significativa da população não apenas tolerará, mas também apoiará seus atos.

Diante do aumento expressivo de ameaças contra autoridades e da ampliação do apoio popular a ações violentas, os autores do estudo recomendam o reforço de medidas de segurança em todas as esferas de governo.

Mais do que um problema conjuntural, essas atitudes apontam para uma patologia mais profunda da cultura política atual: redes sociais têm amplificado sentimentos de impotência e canalizado frustrações individuais para formas de extremismo.

Enfrentar esse “contágio” exige clareza moral e um compromisso renovado com os princípios democráticos. A discordância civilizada precisa substituir a hostilidade virtual, e lideranças políticas, de todos os espectros, devem repudiar a violência — sem ambiguidades — como incompatível com a convivência democrática.

Se essa linha divisória não for respeitada, o futuro poderá resgatar os capítulos mais sombrios da história política americana.

Zack Dulberg e Max Horder são pesquisadores seniores do Network Contagion Research Institute.

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©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Why Progressives Increasingly Support Violence

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