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Estudo americano

Projeções oficiais sobre demência podem superestimar casos futuros

MADRI, 14/02/2023.- Jesús e Mari Luz estão juntos a vida toda, e nem mesmo o estado avançado de Alzheimer dela os separou: quando a doença tornou inevitável a mudança para um asilo, ele decidiu entrar com a esposa voluntariamente, apesar de não sofrer de nenhuma patologia e ser totalmente independente e capaz, e continuam compartilhando o dia a dia.
MADRI, 14/02/2023.- Jesús e Mari Luz estão juntos a vida toda, e nem mesmo o estado avançado de Alzheimer dela os separou: quando a doença tornou inevitável a mudança para um asilo, ele decidiu entrar com a esposa voluntariamente, apesar de não sofrer de nenhuma patologia e ser totalmente independente e capaz, e continuam compartilhando o dia a dia. (Foto: EFE/ Chema Moya)

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A demência pode não ser uma ameaça tão assustadora quanto se acredita nos anos que virão. Recente reportagem do jornal The New York Times destaca que especialistas veem nas tendências de saúde um possível equívoco das projeções mais sombrias para o seu crescimento e identificam redução da incidência ou prevalência ajustada por idade nas novas gerações.

Relatórios com os números de demência projetam casos totais em aumento significativo, relacionado ao envelhecimento da população, considerando a velocidade atual de diagnóstico dos novos casos. Examinadas com cuidado, estas projeções para o futuro – o dobro de casos nos Estados Unidos até 2060 e o triplo para o Brasil até 2050 – podem estar superestimadas.

“A noção de que o número de pessoas com demência duplicará nos próximos 25, 30 ou 35 anos devido ao envelhecimento de baby boomers é muito difundida, generalizada — mas está errada”, declarou ao jornal um dos estatísticos que dirige o departamento de Biodemografia da Universidade Duke, Eric Stallard.

Stallard afirma que tais números analisam com competência o risco individual, mas presumem um crescimento da doença na população ao mesmo ritmo de hoje pelos próximos 40 anos, mesmo com maior acesso à saúde e medidas preventivas, embora o aumento do diagnóstico possa, num primeiro momento, elevar os números detectados.

Por exemplo, é cada vez menor a prática do tabagismo, amplamente considerada um fator de risco. “Não acredito em um crescimento estável (da demência)”, declarou.

Risco menor entre os mais jovens

O que aconteceu historicamente foi justamente o contrário do aumento da prevalência, segundo estudo da universidade. A incidência por idade tem diminuído entre os mais jovens.

Analisando questionários com mais de 21 mil indivíduos em 1984 e outros 16 mil em 2004, descobriu-se que quem nasceu por volta do ano de 1905 teve uma taxa de demência de 23%, mas baixou para 18% entre aqueles nascidos ao redor de 1915, considerando prevalência ajustada por idade.

Ou seja, embora os números absolutos da doença cresçam com toda a certeza por causa do envelhecimento galopante da população — fator de risco mais importante conhecido – as taxas por idade podem se manter entre 10% e 25%, dependendo da região e de fatores de risco, e não necessariamente duplicar ou triplicar como algumas projeções mais pessimistas sugerem.

“Se nossos riscos forem menores do que os riscos de nossos pais e esta tendência continuar, não haverá a duplicação ou triplicação da demência que foi projetada”, declarou o diretor do Programa de Distúrbios Neurocognitivos da universidade Duke, Dr. Murali Doraiswamy.

Além disso, medidas simples de redução de danos e cuidados podem representar uma amenização considerável de novos diagnósticos.

A Comissão Lancet sobre demência, intervenção e cuidados identificou uma lista de 14 fatores de risco que podem reduzir significativamente o risco da condição.

Doença de Alzheimer

A demência não é uma doença específica, mas sim um termo geral que descreve um conjunto de sintomas resultantes de diferentes condições médicas, que pode afetar a memória, o pensamento, o comportamento e a capacidade de se expressar, de aprendizado e de julgar.

No Brasil, o Relatório Anual Sobre Demência estimou que atualmente 2,7 milhões de pessoas convivem com demência no Brasil, o que corresponde a cerca de 8,5% da população acima dos 60 anos de idade. As variações regionais na prevalência da doença no Brasil oscilaram de 7,3% no Sul a 10,4% no Nordeste.

A maior parte dos casos está relacionada à Doença de Alzheimer. Estima-se que em torno de 45% dos casos poderiam ser prevenidos ou retardados pela abordagem de fatores modificáveis como baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social.

O acesso à educação, cada vez maior para as gerações mais novas, também deve contribuir para uma desaceleração dos novos diagnósticos, embora a universalização do acesso à saúde possa identificar casos que permanecem subnotificados. Estimativas apontam que 80% das pessoas portadoras de demência não sabem da própria doença.

VEJA TAMBÉM:

Esta reportagem compilou dados do estudo utilizando a ferramenta Google NotebookLM.

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