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O prefeito Daniel Lurie afastou a cidade de seu desastroso modelo de "redução de danos". Por mais de duas décadas, a "redução de danos" foi a política oficial em San Francisco. Como um ex-viciado em heroína e fentanil em recuperação, vi em primeira mão como essa política, que tentava tornar o uso de drogas ilegais "mais seguro", devastou a cidade. Nos meus seis meses nas ruas em 2018, vi grupos de redução de danos distribuindo apetrechos de drogas gratuitamente; nos anos seguintes, presenciei funcionários do governo entregando cachimbos para crack e metanfetamina, sem sequer orientar os usuários sobre tratamento.
O prefeito recém-eleito Daniel Lurie decidiu afastar a cidade desse modelo fracassado. Agora, San Francisco tem a chance de fazer a coisa certa: expandir o acesso ao tratamento.
Anteriormente, o departamento de saúde pública de San Francisco exigia que as entidades de assistência a dependentes desenvolvessem diretrizes baseadas na "redução de danos", incluindo campanhas que encorajavam usuários a consumir drogas em grupo, supostamente para maior segurança. A cidade até fez uma campanha publicitária encorajando os usuários de drogas a "consumir com amigos" e sugerindo que os viciados "[usassem] com pessoas e se revezassem".
O resultado foi catastrófico: em 2021, San Francisco registrou 720 mortes por overdose e contava com mais de 8.000 moradores de rua. Em 2024, a cidade tinha cerca de 1.000 traficantes atuando abertamente, enquanto as autoridades apreenderam 132 quilos de fentanil em apenas 12 meses.
O caos levou os eleitores da cidade a eleger Lurie em novembro passado. Herdeiro da fortuna da marca Levi Strauss, ele fez campanha com abordagens pragmáticas para a falta de moradia e as crises das drogas. Ele prometeu, nos primeiros seis meses de sua administração, criar 1.500 leitos de abrigo. E em seu primeiro dia no cargo, ele assinou uma "Portaria de Estado de Emergência do Fentanil", que o recém-moderado Conselho de Supervisores aprovou por uma margem de dez para um em fevereiro.
No início deste mês, Lurie apresentou uma diretiva executiva para reformar as políticas de moradores de rua de San Francisco. A medida mais significativa encerra a distribuição de cachimbos, papel alumínio e canudos da cidade, usados para fumar fentanil e metanfetamina. A diretriz também unificou programas sobrepostos de assistência social e reorganizou as iniciativas que fornecem passagens de ônibus e avião para pessoas em situação de rua que desejam retornar às suas cidades de origem. Além disso, o plano financiará um projeto piloto de moradia assistida, que exige dos beneficiários abstinência de drogas e álcool.
O afastamento de Lurie da redução de danos é uma boa notícia. Essa abordagem não apenas facilitou o uso ilegal de drogas, mas também desviou recursos do tratamento eficaz. Por exemplo, o Departamento de Saúde Pública do Estado da Califórnia concedeu a uma organização sem fins lucrativos de San Francisco US$ 12 milhões (R$ 68 milhões na cotação atual), alguns dos quais financiaram "locais de acesso a seringas" — em outras palavras, a distribuição de apetrechos para drogas. Esse dinheiro teria sido melhor gasto expandindo o sistema de desintoxicação de drogas da cidade, que atualmente oferece apenas 58 leitos para cerca de 25.000 usuários.
Lurie também promoveu mudanças na liderança da saúde pública. O diretor anterior de Saúde Pública, Grant Colfax, renunciou e foi substituído pelo mais pragmático Daniel Tsai. Lurie prometeu que, sob Tsai, a recuperação do vício se tornaria central para a estratégia de saúde comportamental da cidade.
Agora que San Francisco recuou de seu compromisso total com a redução de danos, Lurie e outros líderes devem buscar soluções reais para a crise das drogas. Isso inclui estabelecer centros de estabilização para doentes e viciados; abrigos que ofereçam encaminhamentos para tratamento; e moradias transitórias livres de drogas, combinadas com treinamento profissional e apoio à reabilitação. Essas estratégias, que priorizam a recuperação em vez da permissividade, são fundamentais para romper o ciclo de dependência que domina as ruas da cidade
Uma coalizão crescente de pessoas em recuperação apoia o prefeito nessa nova direção. Por quê? Porque já enfrentamos nossos próprios demônios e sobrevivemos às dificuldades da vida nas ruas, à prisão e ao vício. Sabemos o que é necessário para nos recuperar. Agora, lutamos para salvar San Francisco.
Tom Wolf é Diretor de Iniciativas da Costa Oeste na The Foundation for Drug Policy Solutions. Ex-morador em situação de rua no bairro de Tenderloin, em San Francisco, está há quase sete anos limpo e sóbrio.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: San Francisco’s Promising Drug Policy Shift





