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O temor de que postos de trabalho serão engolidos pela eficiência da automação não é infundado – pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, concluiu que quase metade dos empregos pode desaparecer devido à substituição por robôs e computadores nos Estados Unidos. Há atividades que terão de ser remodeladas, enquanto outras já estão fadadas ao sumiço.

O aperfeiçoamento da coleta de lixo tende a eliminar as vagas ocupadas por coletores, por exemplo. Cidades do Brasil e do exterior – incluindo Caxias do Sul, na Serra – implantaram sistemas de recolhimento mecanizado operados por uma única pessoa. O motorista do caminhão aciona um braço robótico que se movimenta para pegar a lata ou o contêiner, despeja os detritos na caçamba e devolve o recipiente vazio à calçada.

À medida que esse modo de operação se difundir, coletores de lixo “à moda antiga” não serão mais necessários. Mas essa transformação no setor também tem vantagens: o novo profissional será mais qualificado, pois terá de operar um manipulador robótico. Antes em contato direto com o entulho, esse funcionário passará a trabalhar com mais conforto, resguardado do perigo de sofrer ferimentos e contaminação, e com a chance de ser melhor remunerado. A diminuição do número de empregos, aspecto negativo imediato, deverá ser amenizada por vantagens mais adiante.

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“A médio e longo prazo, isso forçará que uma parcela maior da população se qualifique e se credencie para assumir postos menos insalubres e arriscados e, ao mesmo tempo, mais rentáveis e prazerosos. Essas mudanças contribuem positivamente para o desenvolvimento e a evolução da sociedade”, diz Guilherme Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Expoente mundial da pesquisa científica, o físico britânico Stephen Hawking, que morreu em março de 2018, manifestou uma visão pessimista em 2014 quanto às implicações de uma eventual superevolução no campo da inteligência artificial – e se as máquinas atingirem um nível equivalente ou superior ao do homem? “O desenvolvimento da inteligência artificial total poderia significar o fim da raça humana”, disse Hawking em entrevista à BBC. “Os humanos, limitados pela lenta evolução biológica, não conseguiriam competir e seriam suplantados.”

Sem censura, o exercício de imaginar o futuro sempre foi um incentivo à criatividade de escritores e roteiristas de tevê e cinema, que inventam cenários onde a vida cotidiana é repleta de objetos que parecem dispor de superpoderes. Cientistas também se nutrem desse encantamento pelo que há de vir, investindo em projetos que, dentro de um período intenso de anos ou décadas de pesquisas e testes, tornarão viáveis os devaneios tecnológicos que recheiam as obras de ficção.

A utilização de robôs no ambiente de trabalho, possibilidade vista com certo temor pelos leigos, torna-se cada vez mais comum, com o objetivo de melhorar a qualidade de produtos e serviços, aumentar a produtividade e reduzir custos. Dispondo de diferentes níveis de autonomia, os robôs podem assumir funções insalubres, desgastantes e perigosas, poupando os humanos e liberando-os para priorizar o esforço intelectual – utilidade que dá feição menos ameaçadora à área da robótica.

Professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Edson Prestes compara esse receio ao da época em que os computadores começaram a ser comercializados para uso pessoal. Eram máquinas desconhecidas, com um quê de assustadoras, antes de tomarem escritórios, escolas e casas. Para o doutor em Ciência da Computação, a tecnologia robótica também promoverá uma mudança positiva e drástica.

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“A maioria pensa nos robôs no sentido negativo, tipo ‘O Exterminador do Futuro’ [ciborgue assassino interpretado por Arnold Schwarzenegger], que vão tirar postos de trabalho ou até exterminar a raça humana. Há cerca de 20 anos, todo mundo tinha medo dos computadores, e hoje todos têm computador e acesso à internet. Você consegue fazer uma série de coisas que não fazia: cuidar da sua casa à distância, operar aparelhos remotamente. Eu estou em Paris e você no Brasil, e estamos falando pela internet”, exemplifica Prestes durante entrevista concedida pelo serviço de áudio do Facebook. “O mesmo acontece com os robôs. Eles vieram para ficar e estarão no nosso cotidiano de diferentes formas. O nível a que eles estão chegando é inimaginável. Teremos até maridos e esposas robôs, conforme já cogitado por especialistas.”

Os cônjuges a que Prestes se refere são os impressionantes humanoides da série Geminoid, produzidos no Japão, que, sob constante aprimoramento, em algum momento serão cogitados como substitutos de homens ou mulheres em um relacionamento.

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Antes que se alcance essa realidade mais “cinematográfica”, pode-se observar que já existem, na atualidade, diversas aplicações com as quais já convivemos: aspiradores de pó e vassouras robóticas, sistemas de estacionamento autônomos em carros de passeio, pilotos automáticos de aviões, robôs que auxiliam na execução de cirurgias, sensores inteligentes que permitem a detecção da presença de pessoas no ambiente, exoesqueletos para auxiliar o homem a erguer peso. Nas indústrias, a tendência é a da convivência.

“Teremos humanos e robôs trabalhando lado a lado, cada vez mais próximos, cooperando na realização de uma tarefa. A evolução, nos próximos anos, passa por tirar os robôs das grades de proteção e aproximá-los das pessoas”, afirma Guilherme Augusto Silva Pereira, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Os robôs estão chegando a praticamente todos os ramos da indústria. Na maioria das vezes, para tornar as profissões mais eficientes, e não para substituir os humanos.”

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