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Lula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro, candidatos à presidência no segundo turno, no debate da Band em 16 de outubro de 2022.| Foto: EFE / Sebastião Moreira

A Nature, uma das revistas científicas mais influentes do mundo, publicou na última terça-feira (25) um editorial em que expressa favoritismo por Lula e oposição à reeleição de Bolsonaro. O artigo, com título “Há somente uma escolha na eleição do Brasil — para o país e o mundo”, alerta que um segundo mandato para Bolsonaro representaria uma “ameaça à ciência, democracia e ao meio ambiente”. Para a revista, a votação no próximo domingo (30) é a mais importante desde o fim da ditadura militar em 1985. Ela compara Bolsonaro a Trump pela postura durante a pandemia, e o chama de “populista”.

A revista dá mais foco a listar o que ela vê como erros de Bolsonaro do que a elogiar Lula, mas lista como méritos dos governos do Partido dos Trabalhadores “grandes investimentos na ciência e na inovação”, fortes proteções ambientais e expansão de oportunidades educacionais, além do programa Bolsa Família e da redução do desmatamento da Amazônia em 80% entre 2004 e 2012. Também menciona os 19 meses de Lula na prisão por corrupção, condenação anulada pelo Supremo Tribunal Federal.

“Nenhum líder político chega perto de ser perfeito”, comenta a Nature, “mas os últimos quatro anos são um lembrete do que acontece quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições feitas para reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, estimular a ciência e o conhecimento, guardar a justiça e a integridade das evidências”. Se Bolsonaro ganhar mais quatro anos, conclui a publicação, “os danos poderiam ser irreparáveis”.

Politização de publicações acadêmicas

A revista científica não é a primeira publicação acadêmica a utilizar suas páginas para tentar persuadir os brasileiros a votar em Lula. A revista médica The Lancet fez o mesmo em setembro passado, indo além da Nature ao elogiar outros líderes de esquerda da América latina como Gustavo Petro, ex-guerrilheiro presidente da Colômbia, e Gabriel Boric, presidente do Chile, a quem chamou conjuntamente de “esperança renovada de mudança social progressista”.

Além da politização nos editoriais, a própria revista Nature está politizando também diretrizes de publicação, como foi o caso de novas regras publicadas pela sua subsidiária Nature Human Behaviour. Não só as diretrizes usam vocabulário nascido no ativismo progressista identitário, como têm o potencial de serem abusadas de forma a só aprovar trabalhos sobre a natureza humana que reafirmem os dogmas políticos do progressismo, como comentaram cientistas preocupados com a notícia.

Pessoas inteligentes podem diferir radicalmente em suas opiniões políticas. Na opinião do filósofo Thomas Sowell, a raiz dessa diferença está fundamentalmente na forma como grupos políticos enxergam a natureza humana. Pela forma como a ciência se profissionalizou e se institucionalizou, uma determinada visão política é mais atraente para cientistas que outras, tanto por crenças pré-científicas sobre o que é possível fazer a respeito da natureza humana, quanto por considerações mais mundanas sobre qual visão política entregar-lhes-á mais dinheiro de impostos, com menos cobranças. O que parece uma avaliação neutra de candidatos, portanto, pode ser apenas um reflexo do modo em geral pouco científico como crenças políticas se espalham pelas cabeças.

Em 2020, antes das eleições presidenciais americanas, a Nature fez uma pesquisa com 900 de seus leitores. Uma grande maioria de 86% apoiava o progressista Joe Biden. Uma pesquisa sobre opiniões políticas do Pew Research Center, em 2009, apontou que dois terços dos cientistas se consideram progressistas ou muito progressistas.

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