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No livro “Os Cinco Tipos de Riqueza” (editora Intrínseca), o empresário e economista americano Sahil Bloom apresenta um conceito mais amplo e profundo de prosperidade, que inclui um conjunto de dimensões fundamentais: temporal, social, mental, física e financeira.
Famoso por sua newsletter The Curiosity Chronicle (“A Crônica da Curiosidade”), seguida por cinco milhões de leitores, Bloom oferece exemplos teóricos e práticos para mostrar como essas dimensões se entrelaçam ao longo da vida — e podem orientar escolhas mais conscientes, fortalecer vínculos e ajudar a construir uma vida com mais equilíbrio e significado.
No trecho a seguir, Bloom lista seis verdades que questionam percepções comuns sobre família, amizades, trabalho e solidão. São reflexões simples, mas inspiradoras, capazes de mudar a maneira como enxergamos nossas relações e prioridades.
A Pesquisa Americana de Uso de Tempo é um levantamento nacional anual que ocorre desde 2003, realizada pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos.
Seu objetivo é fornecer informações sobre como as pessoas alocam seu tempo em uma variedade de atividades, incluindo trabalho remunerado, trabalho doméstico, cuidados a terceiros, lazer ativo e passivo, cuidados pessoais e muito mais.
É algo único, pois registra respostas em tempo real dos participantes ao longo do dia, o que é o mais próximo possível de um registro de como as pessoas gastam seu tempo — e com quem o gastam — em um dia comum.
Em novembro de 2022, descobri esse conjunto de dados e fui tomado por uma avalanche de emoções. A descoberta veio no momento certo: meu filho tinha seis meses, e ser pai provocou grandes mudanças em minha vida. Minha relação com o tempo — para ser mais específico, minha consciência da passagem do tempo — havia se transformado de maneira fundamental e passou de uma ignorância ingênua para uma compreensão cheia de ansiedade.
Como pai, você aprende a controlar e mensurar o tempo nas semanas e meses da vida dos filhos. Você fica tão acostumado a recitar a idade deles nesses termos que isso se torna algo natural.
Esses marcadores criam uma consciência nítida do tempo perdido — dos momentos que você nunca mais vai ter de volta. Para mim, os dados iluminaram ainda mais a dura realidade do caráter efêmero e passageiro do tempo — que a passagem de cada semana e mês nos aproximava do fim de um capítulo da vida ao qual não seríamos capazes de voltar.
Janelas que se fecham
Existem janelas específicas — muito mais curtas do que você imagina ou admite — durante as quais certas pessoas e certos relacionamentos ocuparão sua vida.
Você pode ter apenas mais um verão com todos os seus irmãos, mais duas viagens com aquele antigo grupo de amigos, mais alguns anos com sua velha e sábia tia, alguns encontros com aquele colega de trabalho a quem ama, ou mais uma longa caminhada com seus pais.
Se você não conseguir apreciar ou reconhecer essas janelas, elas logo vão desaparecer. Aqui estão seis verdades dos dados que todos precisam conhecer:
1. O tempo gasto com seu pai e sua mãe, assim como seus irmãos e suas irmãs, atinge o pico na infância e diminui em níveis drásticos depois que você chega aos 20 anos. Ao sair de casa e construir a própria vida, muitas vezes você não consegue reconhecer que o tempo que resta com sua família é muito limitado. Valorize esses relacionamentos enquanto pode.
2. O tempo gasto com seus filhos/suas filhas atinge o pico nos primeiros anos de vida e diminui de maneira acentuada depois disso. Há um período devastadoramente curto no qual você é o mundo inteiro da criança. Não pisque, ou você pode perder esse momento.
3. O tempo gasto com seus amigos atinge o pico quando você tem 18 anos e depois diminui de maneira acentuada, mudando muito pouco ao longo da vida. Na sua juventude, você passa bastante tempo com muitos mais. Ao chegar na idade adulta, passa um pouco de tempo com alguns mais íntimos. Abrace a variedade das amizades que acompanham a juventude e priorize a profundidade das amizades que devem vir com a idade,
4. O tempo gasto com o seu parceiro ou sua parceira tende a aumentar até o fim da vida. A pessoa com quem você escolhe enfrentar os altos e baixos da vida terá maior impacto na sua felicidade e realização. Escolha com sabedoria.
5. O tempo gasto com colegas de trabalho permanece estável durante os anos que se costuma trabalhar, dos 20 aos 60 anos, e diminui de maneira acentuada a partir de então. O trabalho vai afastá-lo de sua família e entes queridos ao longo de sua vida. Se você tiver o luxo de escolher, certifique-se de escolher um trabalho — assim como os colegas — que você considere significativo e importante. Procure ter colegas que o energizem.
6. O tempo gasto sozinho aumenta numa constante ao longo de sua vida. Quando você é jovem, tende a encarar o tempo sozinho como um sinal de que não se encaixa no mundo. Você passa a temer o tempo na própria companhia, a temer o tédio. No entanto, você precisa aprender a valorizá-lo. Encontre felicidade e alegria no tempo que você tem consigo mesmo — haverá mais dele à medida que você envelhece.
Aqui estão seis lições importantes para a vida:
1. o tempo com a família é finito — valorize-o
2. o tempo com filhos/filhas é precioso — esteja presente
3. o tempo com amigos é limitado — priorize amizades verdadeiras
4. o tempo com um parceiro/uma parceira é significativo — nunca se acomode
5. o tempo com colegas de trabalho é grande — encontre energia
6. o tempo sozinho é abundante — ame a si mesmo.
Controle sobre o tempo
Não importa sua origem, quantos anos tenha, ou se é rico ou pobre — o tempo é uma verdade universal e um desafio.
Em 2015, o escritor e palestrante Tim Urban fez uma publicação em seu blog intitulada “The tail end” [“A parte final”, em tradução livre], na qual enquadrou o tempo no contexto do número limitado de oportunidades que você terá para ver alguém outra vez.
Sua conclusão, que é refletida pelas lições da Pesquisa Americana de Uso de Tempo: “Apesar de não estar no fim da vida, você pode muito bem estar chegando ao fim do seu tempo com algumas das pessoas que considera mais importantes”.
Já o filósofo Sam Harris disse certa vez: “Não importa quantas vezes você faça alguma coisa, vai chegar um dia em que vai fazer pela última vez.”
Haverá a última vez que seus fi hos ou suas filhas vão querer que você leia uma história antes de dormir, a última vez que você vai fazer uma longa caminhada com seu irmão ou sua irmã, a última vez que vai abraçar seu pai e sua mãe em uma reunião de família, a última vez que seu amigo vai ligar em busca de apoio.
Quantos momentos você de fato tem com seus entes queridos? É provável que não tantos quanto gostaria.
Todos os pequenos instantes, as relações e experiências que tomamos como certas, acabarão sendo o que vamos desejar terem durado mais. Depois de abraçar essa dura realidade, investir em sua riqueza de tempo significa se valer da consciência da impermanência do tempo para desencadear ações.
É construir o poder de direcionar sua atenção para as coisas que de fato importam (e ignorar o restante). É ter controle sobre o seu tempo — como, onde e com quem o gasta.
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Conteúdo editado por: Omar Godoy






