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"Dia da Libertação": foi assim que o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descreveu a quarta-feira, 2 de abril, data em que anunciou a imposição de pesadas tarifas sobre importações provenientes de diversos países. Apesar do nome, estava longe de ser um dia de libertação. Ao encarecer os produtos importados para os Estados Unidos, o governo aumentava, na prática, o custo de vida para os consumidores americanos.
O governo Trump caiu em um dos equívocos mais comuns sobre o comércio internacional: a crença de que ele só beneficia um país quando este é o exportador. Nada poderia estar mais distante da realidade. Um dos maiores benefícios do livre-comércio recai justamente sobre o país importador, cujos consumidores passam a ter acesso a uma ampla variedade de produtos — e, crucialmente, a preços mais baixos.
Sejam roupas, alimentos, suprimentos médicos ou aparelhos celulares, o acesso ao mercado global reduz o custo de vida e amplia as opções disponíveis aos consumidores, contribuindo, muitas vezes, para o alívio da pobreza.
Tudo se resume a um princípio muito simples: nenhuma pessoa pode produzir tudo o que consome. Nenhuma família ou domicílio conseguiria fazê-lo, tampouco uma cidade, vila ou província. Da mesma forma, nenhum país é capaz — nem deveria tentar — produzir tudo o que consome. Tentativas de alcançar a autossuficiência absoluta são formas de automutilação econômica. A liberdade de comércio entre fronteiras beneficia a todos, pois permite que os consumidores tenham acesso a uma infinidade de bens e serviços, elevando o bem-estar geral.
A teoria econômica que sustenta esses benefícios foi magistralmente desenvolvida por pensadores como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill.
Em "A Riqueza das Nações" (1776), Adam Smith destacou as vantagens da especialização por meio da divisão do trabalho. Segundo ele, o comércio internacional promove o bem-estar ao permitir que cada agente econômico se concentre no que faz melhor — o que, por sua vez, aumenta a eficiência e a produtividade. Smith ilustrou sua tese com o exemplo de uma fábrica de alfinetes, onde cada trabalhador se especializa em uma etapa específica da produção.
David Ricardo aprofundou as ideias de Smith ao demonstrar que nem é preciso que um país tenha uma vantagem absoluta para se beneficiar do livre-comércio. Basta que cada nação se concentre no que faz melhor em comparação com outras atividades econômicas internas — conceito conhecido como "vantagem comparativa".
John Stuart Mill, por sua vez, avançou ainda mais ao argumentar que a maior abertura ao comércio exterior eleva a produtividade geral, ao permitir, por exemplo, a importação de equipamentos superiores, a disseminação de conhecimento e o aumento da concorrência.
Barreiras comerciais — como tarifas, cotas e outras restrições — impõem custos artificiais sobre bens e serviços transacionados internacionalmente. Durante seu primeiro mandato, as tarifas impostas por Trump sobre produtos chineses custaram, em média, mais de 800 dólares por domicílio americano. Essas tarifas criam uma situação de prejuízo generalizado, na qual os consumidores são forçados a pagar preços mais altos.
Além disso, as tarifas reduzem a produção. No agregado, dados internacionais demonstram que elas exercem um impacto adverso significativo sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
Um estudo publicado em 2020, que analisou cinco décadas de dados de 151 países, revelou os efeitos prejudiciais das tarifas sobre o crescimento econômico:
"As evidências sugerem que as tarifas têm um impacto negativo sobre a produção, sendo esse efeito tanto maior quanto mais elevadas forem as tarifas, e persistindo ao longo do tempo, por pelo menos quatro anos ou mais. O crescimento econômico, descontados outros fatores, tende a permanecer negativo durante todo o período de quatro anos após o aumento do protecionismo. Por exemplo, no segundo ano após o aumento das tarifas, a queda do crescimento varia de 0,4 a 0,8 ponto percentual, dependendo da magnitude do aumento. Após quatro anos, elevações tarifárias muito significativas estão associadas a uma queda anual de até 1,5 ponto percentual no crescimento da produção."
Todas as evidências apontam na mesma direção: barreiras comerciais são prejudiciais tanto para a economia quanto para os consumidores. Os efeitos de longo prazo das tarifas recentemente implementadas pelos Estados Unidos ainda estão por se revelar, mas uma coisa é certa: governos que responderem com tarifas retaliatórias acabarão apenas prejudicando a si próprios.
Reem Ibrahim é diretora interina de Comunicação e pesquisadora Linda Whetstone no Institute of Economic Affairs, entidade britânica dedicada ao estudo de políticas públicas e economia de mercado.
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©2025 FEE - Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Tariffs Aren’t Liberating






