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Vacina AstraZeneca/Oxford
Posto de saúde de São Paulo oferece vacina AstraZeneca/Oxford para a população em julho de 2021. Três meses antes, Reino Unido havia descontinuado a vacina para menores de 30 anos devido ao risco de coágulos sanguíneos. Nova análise concluiu que ela aumenta risco de morte por ataque cardíaco em mulheres jovens.| Foto: EFE/ Sebastiao Moreira

Mulheres jovens, dos 12 aos 29 anos, tiveram risco maior de morrer por problemas no coração em até 12 semanas após tomar a vacina AstraZeneca/Oxford contra a Covid-19, concluiu um novo estudo publicado na revista Nature Communications esta semana (27). Já se sabia que a vacina britânica apresentava risco de produzir coágulos sanguíneos, o que motivou a interrupção de sua prescrição pelo governo do Reino Unido para pessoas menores de 30 anos em abril de 2021.

Para ambos os sexos, nessas idades, a chance de morte por ataque cardíaco foi 75% maior entre os vacinados com a primeira dose da AstraZeneca. Entre as mulheres, o aumento do risco foi de 252% após a primeira dose. Nenhum aumento semelhante foi observado após qualquer número de doses da vacina da Pfizer, que usa outra tecnologia (mRNA). Entre os homens, contudo, as vacinas de mRNA mostraram uma elevação do risco de morte por ataque cardíaco de 70% após duas doses, mas esse resultado não foi estatisticamente significativo. A inflamação do coração e seu revestimento, no entanto, é um efeito colateral bem conhecido das vacinas de mRNA em jovens do sexo masculino.

Os números comparativos são dramáticos e mudam a percepção a respeito da vacina AstraZeneca. Porém, é importante lembrar que a comparação é de números pequenos com números pequenos. As elevações de risco podem ser entendidas como uma morte a mais a cada grupo de centenas de milhares de pessoas.

Comparando riscos

Os autores esclarecem que o risco absoluto de complicações severas após tomar qualquer uma das vacinas contra Covid é “baixo e precisa ser avaliado contra os riscos associados à infecção dos não-vacinados com [o vírus] SARS-CoV-2”. Eles descobriram que, entre os não vacinados, a Covid aumenta o risco de morte por ataque cardíaco em 135% em até 12 semanas. Quando se considera somente a primeira semana, a elevação de risco é de 1.056% (mais de dez vezes). Para os que pegaram Covid após se vacinarem, a elevação de risco é menor: 94%, mas esse risco se refere às mortes em geral, não às mortes associadas a ataque cardíaco, que por falta de dados não puderam ser comparadas diretamente ao grupo dos não-vacinados.

O estudo considerou 3.807 mortes de pessoas dessa faixa etária na Inglaterra no período de 8 de dezembro de 2020 a 25 de maio de 2022. Dessas mortes, 444 foram por causa de problemas cardíacos e 1512 aconteceram após vacinação. Os cientistas também analisaram o número total de vítimas da Covid em um período mais curto (até 31 de dezembro de 2021), 3219 pessoas, que teve um subconjunto similar de mortes por problemas cardíacos (369).

Para afastar fatores de confusão, os participantes do estudo foram comparados a si próprios antes e até 12 semanas após a inoculação, em vez de haver um grupo vacinado e outro não-vacinado. Porém, como explicado acima, vacinados e não-vacinados ainda foram comparados quanto ao impacto da infecção. O principal resultado é que o caso geral após a inoculação com as vacinas contra Covid é que há uma redução de mortalidade, consistente com algum efeito protetivo delas. Mulheres jovens, contudo, devem evitar a vacina da AstraZeneca.

AstraZeneca é alvo de processo

A revista médica britânica BMJ noticiou na terça (28) que dezenas de pacientes e famílias estão processando a farmacêutica AstraZeneca por causa de efeitos colaterais raros de sua vacina. São 75 reclamantes ao todo, alguns perderam parentes, outros vivem com sequelas de lesões deixadas pelos coágulos sanguíneos. O governo estabeleceu um esquema de indenização por danos de vacina com um teto de £120 mil (R$ 758 mil) por pessoa, mas é necessário provar deficiência severa provocada pelo imunizante.

Falando à BMJ, Vahé Nafilyan, líder do estudo e especialista em estatística do ONS (Gabinete de Estatísticas Nacionais do Reino Unido), esclareceu que, por causa da pausa na administração da AstraZeneca para jovens em abril de 2021, a maioria dos jovens que a receberam eram pessoas vulneráveis ou que trabalhavam no serviço de saúde, que tinham prioridade na inoculação. Por isso, “esses resultados não podem ser generalizados para a população como um todo”, explicou. Adam Finn, professor de pediatria da Universidade de Bristol, comentou que o estudo leva “a tantas perguntas quanto respostas”.

Mensagens de WhatsApp obtidas por vazamento de uma biógrafa revelaram que Matt Hancock, ministro da saúde do Reino Unido na parte mais crítica da pandemia, fez pressão para que a vacina AstraZeneca fosse produzida rápido e para que houvesse uma política única de vacinação de toda a população, independentemente de sexo, idade ou comorbidades. O ex-diretor da Força-Tarefa da Vacina do governo Boris Johnson, Clive Dix, disse no mês passado em coluna no jornal The Telegraph que Hancock era “o mais difícil de todos os ministros”, que não dedicava tempo a entender coisa nenhuma, e que parecia perdido, “uma galinha sem cabeça”, chegando ao pânico quando houve atrasos por problemas na produção do imunizante.

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