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A favor da ditadura

Contrariando a Nobel da Paz: veja 7 vezes em que Lula ficou ao lado do chavismo 

Enquanto María Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz, Lula reforça laços com o ditador Maduro (Foto: EPA/EFE/ André Coelho)

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A escolha de María Corina Machado como vencedora do Prêmio Nobel da Paz enaltece a a oposição venezuelana e escancara para o mundo o papel vergonhoso dos governos petistas, aliados históricos das ditaduras de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.  

As gestões de Lula e Dilma agora ficarão marcadas por não terem apoiado a causa nobre e meritória que rendeu à líder oposicionista venezuelana o reconhecimento da Academia Sueca. Corina Machado venceu até Donald Trump, que nutria esperanças de conquistar o prêmio por seu papel de intermediador do conflito entre Israel e o Hamas. 

Veja sete vezes em que governos petistas ficaram ao lado do chavismo, contra a oposição democrática da Venezuela. 

1. Defesa da entrada da Venezuela no Mercosul (2009) 

Durante o segundo mandato, Lula foi o principal articulador da entrada da Venezuela no Mercosul. A adesão, contestada por setores empresariais e diplomáticos, foi politicamente costurada por Brasília para consolidar a influência chavista no bloco. 

Com o apoio do Brasil e da Argentina de Cristina Kirchner, o regime de Chávez ganhou um assento no principal fórum econômico da região, mesmo sem cumprir os requisitos de democracia e respeito às instituições exigidos dos demais membros. 

Na prática, Lula transformou o Mercosul em uma plataforma de legitimidade internacional para o chavismo, contrariando as críticas de opositores venezuelanos e de chanceleres que alertavam para a natureza autoritária do regime. 

2. O acordo da refinaria Abreu e Lima (2009) 

O nome da Refinaria Abreu e Lima, construída em Pernambuco, foi escolhido para homenagear um militar pernambucano que lutou ao lado de Simón Bolívar, o herói da independência venezuelana. 

Mas o projeto, nascido de um acordo entre Lula e Chávez, se tornou um dos maiores emblemas da cooperação entre Brasil e Venezuela sob a batuta do socialismo bolivariano. O pacto previa uma sociedade entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA. 

A parceria nunca se concretizou integralmente, mas gerou um escândalo bilionário e acabou citada nas investigações da Operação Lava Jato, por superfaturamento e desvios. 
Mais do que um negócio mal-sucedido, o episódio evidencia como as relações entre os governos socialistas continuam a gerar prejuízos para o Brasil, em vista da recente retomada dos investimentos da estatal na refinaria em 2024. 

3. Apoio eleitoral explícito a Hugo Chávez (2012) 

Em 2012, quando Hugo Chávez buscava a reeleição em meio a denúncias internacionais de censura, perseguição política e aparelhamento do Judiciário, o então ex-presidente Lula gravou um vídeo pedindo votos para o ditador venezuelano. “Chávez, conta comigo, conta com o PT. A tua vitória será a nossa vitória”, disse Lula, olhando para a câmera, em mensagem transmitida na televisão estatal venezuelana.

Após a vitória, Dilma, a então presidente do Brasil, elogiou a eleição de Chávez e endossou o regime famoso por sufocar a imprensa livre e perseguir opositores.  

4. A homenagem e a exaltação de Chávez após sua morte (2013)

Quando Hugo Chávez morreu, em março de 2013, Lula e Dilma foram pessoalmente a Caracas prestar as homenagens ao ditador. O atual presidente do Brasil, à época, estava elogioso ao falecido. “Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com Chávez pela integração da América Latina e por um mundo mais justo”, afirmou Lula. 

Em vez de reconhecer o legado autoritário do regime, que já deixara centenas de presos políticos e uma economia arruinada, Lula preferiu elevar o ditador à condição de herói popular.

Chávez abraça Lula em 2010, anos antes do falecimento do ditador venezuelano (Foto: EFE/ FERNANDO BIZERRA JR)

Até o ex-ministro José Dirceu, que estava preso pelo envolvimento no mensalão, chegou a pedir ao STF autorização para deixar o país e participar do enterro do ditador. O gesto de lealdade política e ideológica reafirma que o chavismo, para o petismo, nunca foi um desvio antidemocrático, mas uma “inspiração latino-americana”.

5. “Democracia é um conceito relativo”, diz Lula sobre a Venezuela (2023) 

Já de volta ao poder, em 2023, Lula relativizou as numerosas violações à democracia, aos direitos humanos e às liberdades individuais em curso na Venezuela, governada pelo ditador Nicolás Maduro, aliado do petista.  

Ao ser entrevistado na Rádio Gaúcha sobre por que o atual governo evita considerar a Venezuela uma ditadura, Lula disse que o país tem mais eleições do que o Brasil, ao passo em que foi interrompido pelo jornalista Rodrigo Lopes: “Mas eleições não garantem a democracia, né?”. O petista, então, respondeu: 

“Deixa eu lhe falar uma coisa, o conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à presidência da República pela terceira vez”, disse o presidente. Em maio daquele ano, Lula promoveu uma calorosa recepção ao ditador venezuelano, o que lhe rendeu uma série de críticas por personagens políticos e veículos de imprensa nacionais e internacionais.

Assim que foi eleito, Lula também autorizou que o novo embaixador da Venezuela no Brasil fosse o indicado pelo ditador Nicolás Maduro. A relação entre os países estava suspensa durante o governo de Jair Bolsonaro.

Ao se negar a chamar de ditadura um governo que prendeu líderes opositores, cassou partidos e expulsou jornalistas, Lula foi acusado de relativizar violações de direitos humanos e de prestar um serviço diplomático ao regime bolivariano.  

6. Comparação entre María Corina Machado e sua própria inelegibilidade (2024) 

No início de 2024, após a Justiça venezuelana tornar inelegível María Corina Machado — líder da oposição e principal nome para derrotar Maduro—, Lula reagiu de forma ambígua. Em vez de condenar o regime, comparou a situação à sua própria inelegibilidade, dizendo que ao ser "impedido" de concorrer nas eleições presidenciais de 2018, não ficou “chorando” e indicou outro candidato. O atual presidente brasileiro não pôde concorrer em 2018 porque havia sido condenado naquela época por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

María Corina respondeu publicamente: “Chorando, presidente Lula? Está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas Primárias [da oposição] e os milhões que têm o direito de fazê-lo em eleições presidenciais livres, onde derrotarei Maduro”, escreveu Corina em sua conta oficial no X (antigo Twitter). 

7. A postura ambígua nas eleições venezuelanas de 2024 

Quando a eleição presidencial de 2024 na Venezuela foi marcada por denúncias de fraude e repressão, Lula preferiu a neutralidade. Disse que o Brasil “respeitaria o resultado das urnas” e pediu que “os dois lados” mantivessem a calma, embora o “outro lado” estivesse preso, cassado ou exilado. 

Enquanto isso, democracias ocidentais cobravam auditoria e transparência, o Itamaraty manteve silêncio prudente, alinhado ao discurso chavista. Mais uma vez, o petista se colocou no lado errado da história. 

O legado de cumplicidade 

Somados, esses episódios mostram uma linha de continuidade: do entusiasmo pessoal de Lula por Hugo Chávez à complacência diplomática com Nicolás Maduro. 
Ao longo de duas décadas, o petismo ajudou a blindar o regime venezuelano em fóruns internacionais, garantiu-lhe legitimidade política e desprezou a oposição democrática.

Hoje, a escolha de María Corina Machado para o Prêmio Nobel da Paz reforça essa contradição. Enquanto o mundo reconhece o valor moral de uma mulher que enfrenta a tirania bolivariana, o governo brasileiro, e a própria esquerda latino-americana, ainda hesitam em admitir o fracasso ético e humanitário do chavismo. 

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