
Ouça este conteúdo
A escolha de María Corina Machado como vencedora do Prêmio Nobel da Paz enaltece a a oposição venezuelana e escancara para o mundo o papel vergonhoso dos governos petistas, aliados históricos das ditaduras de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
As gestões de Lula e Dilma agora ficarão marcadas por não terem apoiado a causa nobre e meritória que rendeu à líder oposicionista venezuelana o reconhecimento da Academia Sueca. Corina Machado venceu até Donald Trump, que nutria esperanças de conquistar o prêmio por seu papel de intermediador do conflito entre Israel e o Hamas.
Veja sete vezes em que governos petistas ficaram ao lado do chavismo, contra a oposição democrática da Venezuela.
1. Defesa da entrada da Venezuela no Mercosul (2009)
Durante o segundo mandato, Lula foi o principal articulador da entrada da Venezuela no Mercosul. A adesão, contestada por setores empresariais e diplomáticos, foi politicamente costurada por Brasília para consolidar a influência chavista no bloco.
Com o apoio do Brasil e da Argentina de Cristina Kirchner, o regime de Chávez ganhou um assento no principal fórum econômico da região, mesmo sem cumprir os requisitos de democracia e respeito às instituições exigidos dos demais membros.
Na prática, Lula transformou o Mercosul em uma plataforma de legitimidade internacional para o chavismo, contrariando as críticas de opositores venezuelanos e de chanceleres que alertavam para a natureza autoritária do regime.
2. O acordo da refinaria Abreu e Lima (2009)
O nome da Refinaria Abreu e Lima, construída em Pernambuco, foi escolhido para homenagear um militar pernambucano que lutou ao lado de Simón Bolívar, o herói da independência venezuelana.
Mas o projeto, nascido de um acordo entre Lula e Chávez, se tornou um dos maiores emblemas da cooperação entre Brasil e Venezuela sob a batuta do socialismo bolivariano. O pacto previa uma sociedade entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA.
A parceria nunca se concretizou integralmente, mas gerou um escândalo bilionário e acabou citada nas investigações da Operação Lava Jato, por superfaturamento e desvios.
Mais do que um negócio mal-sucedido, o episódio evidencia como as relações entre os governos socialistas continuam a gerar prejuízos para o Brasil, em vista da recente retomada dos investimentos da estatal na refinaria em 2024.
3. Apoio eleitoral explícito a Hugo Chávez (2012)
Em 2012, quando Hugo Chávez buscava a reeleição em meio a denúncias internacionais de censura, perseguição política e aparelhamento do Judiciário, o então ex-presidente Lula gravou um vídeo pedindo votos para o ditador venezuelano. “Chávez, conta comigo, conta com o PT. A tua vitória será a nossa vitória”, disse Lula, olhando para a câmera, em mensagem transmitida na televisão estatal venezuelana.
Após a vitória, Dilma, a então presidente do Brasil, elogiou a eleição de Chávez e endossou o regime famoso por sufocar a imprensa livre e perseguir opositores.
4. A homenagem e a exaltação de Chávez após sua morte (2013)
Quando Hugo Chávez morreu, em março de 2013, Lula e Dilma foram pessoalmente a Caracas prestar as homenagens ao ditador. O atual presidente do Brasil, à época, estava elogioso ao falecido. “Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com Chávez pela integração da América Latina e por um mundo mais justo”, afirmou Lula.
Em vez de reconhecer o legado autoritário do regime, que já deixara centenas de presos políticos e uma economia arruinada, Lula preferiu elevar o ditador à condição de herói popular.

Até o ex-ministro José Dirceu, que estava preso pelo envolvimento no mensalão, chegou a pedir ao STF autorização para deixar o país e participar do enterro do ditador. O gesto de lealdade política e ideológica reafirma que o chavismo, para o petismo, nunca foi um desvio antidemocrático, mas uma “inspiração latino-americana”.
5. “Democracia é um conceito relativo”, diz Lula sobre a Venezuela (2023)
Já de volta ao poder, em 2023, Lula relativizou as numerosas violações à democracia, aos direitos humanos e às liberdades individuais em curso na Venezuela, governada pelo ditador Nicolás Maduro, aliado do petista.
Ao ser entrevistado na Rádio Gaúcha sobre por que o atual governo evita considerar a Venezuela uma ditadura, Lula disse que o país tem mais eleições do que o Brasil, ao passo em que foi interrompido pelo jornalista Rodrigo Lopes: “Mas eleições não garantem a democracia, né?”. O petista, então, respondeu:
“Deixa eu lhe falar uma coisa, o conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à presidência da República pela terceira vez”, disse o presidente. Em maio daquele ano, Lula promoveu uma calorosa recepção ao ditador venezuelano, o que lhe rendeu uma série de críticas por personagens políticos e veículos de imprensa nacionais e internacionais.
Assim que foi eleito, Lula também autorizou que o novo embaixador da Venezuela no Brasil fosse o indicado pelo ditador Nicolás Maduro. A relação entre os países estava suspensa durante o governo de Jair Bolsonaro.
Ao se negar a chamar de ditadura um governo que prendeu líderes opositores, cassou partidos e expulsou jornalistas, Lula foi acusado de relativizar violações de direitos humanos e de prestar um serviço diplomático ao regime bolivariano.
6. Comparação entre María Corina Machado e sua própria inelegibilidade (2024)
No início de 2024, após a Justiça venezuelana tornar inelegível María Corina Machado — líder da oposição e principal nome para derrotar Maduro—, Lula reagiu de forma ambígua. Em vez de condenar o regime, comparou a situação à sua própria inelegibilidade, dizendo que ao ser "impedido" de concorrer nas eleições presidenciais de 2018, não ficou “chorando” e indicou outro candidato. O atual presidente brasileiro não pôde concorrer em 2018 porque havia sido condenado naquela época por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
María Corina respondeu publicamente: “Chorando, presidente Lula? Está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas Primárias [da oposição] e os milhões que têm o direito de fazê-lo em eleições presidenciais livres, onde derrotarei Maduro”, escreveu Corina em sua conta oficial no X (antigo Twitter).
7. A postura ambígua nas eleições venezuelanas de 2024
Quando a eleição presidencial de 2024 na Venezuela foi marcada por denúncias de fraude e repressão, Lula preferiu a neutralidade. Disse que o Brasil “respeitaria o resultado das urnas” e pediu que “os dois lados” mantivessem a calma, embora o “outro lado” estivesse preso, cassado ou exilado.
Enquanto isso, democracias ocidentais cobravam auditoria e transparência, o Itamaraty manteve silêncio prudente, alinhado ao discurso chavista. Mais uma vez, o petista se colocou no lado errado da história.
O legado de cumplicidade
Somados, esses episódios mostram uma linha de continuidade: do entusiasmo pessoal de Lula por Hugo Chávez à complacência diplomática com Nicolás Maduro.
Ao longo de duas décadas, o petismo ajudou a blindar o regime venezuelano em fóruns internacionais, garantiu-lhe legitimidade política e desprezou a oposição democrática.
Hoje, a escolha de María Corina Machado para o Prêmio Nobel da Paz reforça essa contradição. Enquanto o mundo reconhece o valor moral de uma mulher que enfrenta a tirania bolivariana, o governo brasileiro, e a própria esquerda latino-americana, ainda hesitam em admitir o fracasso ético e humanitário do chavismo.






