
Enquanto para alguns o ar-condicionado é sinônimo de frescor e conforto, para outros representa uma espécie de “vilão gelado” nos espaços corporativos. É grande o número de pessoas – principalmente de mulheres – que reclamam das temperaturas baixas e têm sempre à mão um casaco companheiro para não passar frio no ambiente de trabalho.
A polêmica sobre a temperatura ideal para a regulagem do aparelho é antiga e voltou à cena no início deste mês quando dois cientistas publicaram um estudo que se propõe a solucionar o mistério do “escritório ártico”. Segundo eles, boa parte dos edifícios corporativos seguem um modelo de controle de temperatura antigo, dos anos 1960, que considera entre suas variáveis a taxa metabólica em repouso (velocidade de produção de calor pelo corpo) dos homens, que é mais alta do que a das mulheres.
Além de não atender ao crescimento da presença feminina nos ambientes de trabalho, tais parâmetros também não acompanharam a evolução física dos espaços em aspectos como a substituição das lâmpadas incandescentes (que geram mais calor) por modelos LED, por exemplo.
O aspecto cultural é outro fator que estimularia as baixas temperaturas nos escritórios. De acordo com Richard de Dear, diretor do laboratório de Qualidade Ambiental Interna da Universidade de Sydney, em matéria recente do The New York Times, fazer as pessoas sentirem frio no verão seria um sinal de demonstrar poder e prestígio. Não se pode esquecer, ainda, da crença equivocada de que o frio estimula a produtividade dos funcionários (leia mais abaixo).
Temperatura ideal
No Brasil, a NBR 16.401 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece em 24°C, com variação de 2°C para mais ou para menos, a temperatura ideal para garantir conforto térmico aos trabalhadores, explica Hamilton Trentin Junior, engenheiro mecânico e diretor da VRF Engenharia de Climatização. A resolução RE nº 9, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e norma NR 17, do Ministério do Trabalho, também tratam deste tema.
Para dimensionar o sistema e adequá-lo a esta temperatura – uma vez que, geralmente, ele é regulado para responder ao pico de calor –, as empresas especializadas utilizam softwares específicos que relacionam inúmeras variáveis, tais como o tipo de iluminação e de equipamentos que serão utilizados no espaço, suas características construtivas e, até mesmo, a predominância de homens ou de mulheres entre os trabalhadores que farão uso do ambiente. “Os projetos novos, realizados de seis a sete anos para cá, já contemplam este tipo de cálculo, desde que realizados por profissionais habilitados que disponham desta ferramenta”, explica Trentin Junior.
Adriano Dorigo, arquiteto e sócio da Logi Arquitetura, acrescenta que o sistema deve ser dimensionado levando-se em conta, também, o posicionamento dos móveis e o layout do ambiente, para que o fluxo de ar seja distribuído de forma uniforme e não atinga sempre as mesmas pessoas enquanto outras ficam desassistidas . “O ideal é posicionar os dutos sobre áreas onde não há pessoas trabalhando, como espaços de circulação. Instalado em áreas neutras ele vai chegar às pessoas, mas não diretamente, o que se tornaria incômodo”, acrescenta.



