
Montar e não mais construir. Esta foi a lição do 1º Encontro Regional sobre Fachadas da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do Paraná (Asbea-PR), realizado este mês, em Curitiba. Durante o evento, diversos profissionais da arquitetura e engenharia de todo o país discutiram o que há de mais novo em tecnologia de construção de fachadas. As estruturas industrializadas feitas em fábrica e transportadas até as obras tiveram lugar de destaque na discussão.
Para o presidente da Asbea-PR, Gustavo Pinto, os sistemas industrializados permearam as discussões por responderem com mais eficiência às necessidades atuais do mercado. "Hoje temos uma situação de escassez da mão-de-obra e, em contrapartida, o setor da construção está em franco crescimento. O debate é como continuar crescendo, mesmo com falta de trabalhadores", diz. "A solução para isso é buscar estes novos sistemas, que oferecem muita qualidade, levam menos tempo para serem finalizados e exigem menos mão-de-obra."
De forma geral, estas estruturas são painéis, feitos de praticamente qualquer material de cimento a acabamentos mais nobres, como vidro e granito , que são construídos em fábricas e transportados até o local da obra. No canteiro, estas placas são encaixadas em perfis de aço ou alumínio, que fazem o papel da sustentação das paredes. O sistema funciona como uma espécie de montagem e é uma substituição à forma tradicional (aquela que estamos acostumados) de se construir as fachadas: com tijolos e alvenaria e depois revestidas (geralmente com materiais cerâmicos).
Um dos defensores destes sistemas é o arquiteto e urbanista Clóvis Bohrer Filho. No evento, o profissional apresentou uma palestra sobre custo-benefício dos modelos construtivos existentes. Ele considera que as estruturas industrializadas trazem vantagens tanto para construtores quanto para consumidores. Segundo Bohrer Filho, elas resolvem os problemas de espaço e geração de resíduos nos canteiros de obra. "A produção é transferida para uma indústria. A obra fica mais limpa e não precisa de um local espaçoso", diz.
Outra vantagem destacada pelo profissional é a rapidez na conclusão da obra. "O processo de montagem das estruturas pré-fabricadas é bem mais rápido do que a construção tradicional. Permite adiantar as obras em meses." E tudo isso com qualidade que o profissional considera superior. "Quando uma parede é feita do jeito comum, podem aparecer rachaduras após a conclusão da obra. Usando uma placa industrializada, esse risco é eliminado." O arquiteto avalia que isso reflete diretamente na qualidade do produto que chega ao consumidor.
Sistemas
Um destaque do encontro foi o sistema de fachadas unitizadas, apresentado pelo escritório Aflalo e Gasperini, de São Paulo. Embora não seja exatamente novo já é popular na Europa e Estados Unidos , só agora o modelo chegou com força ao Brasil. As fachadas unitizadas são formadas por quadros fabricados já com revestimento (granito e vidro) e esquadrias, e transportados até o local da obra. "Eles são pregados à estrutura do prédio por ganchos existentes em cada pavimento", explica o arquiteto Eduardo Martins Ferreira, um dos profissionais do escritório paulista.
No Paraná, os sistemas industrializados são ainda incomuns. Um dos poucos profissionais que já está utilizando a técnica é o arquiteto Waldeny Fiuza, da Dória Lopes Fiuza Arquitetura. Para a construção de um supermercado em Curitiba, ele optou por industrializar 80% da obra. Nos subsolos e área de serviço, blocos de concreto. No salão de vendas e cobertura, estruturas metalizadas. Já na fachada, a opção foi pelos painéis de polipropileno material transparente que é um isolante térmico e acústico. Tudo industrializado e montado diretamente no canteiro de obras.
Obras residenciais ainda terão de se adaptar
Embora apresentem vantagens em relação ao sistema tradicional de construção de fachadas, os sistemas industrializados ainda estão restritos a empreendimentos comerciais. Isso porque os custos, que ainda são bastante elevados para essa tecnologia, compensam apenas quando há necessidade de se terminar a obra rapidamente. "Os proprietários dos estabelecimentos precisam dessa rapidez porque querem começar a operar. Este tempo que eles têm de esperar significa perda de dinheiro", explica o arquiteto Waldeny Fiuza.
Em pouco tempo, porém, a expectativa é que esta tecnologia chegue também aos empreendimentos residenciais. Isso porque as estruturas industrializadas têm se tornado sinônimo de qualidade. "A tendência é que, aos poucos, estes processos passem a fazer parte também do mercado residencial. Os painéis industrializados são mais livres de imperfeições que a alvenaria comum", diz o arquiteto Clóvis Bohrer Filho.




