
Nunca foi um espaço grande, mas existia: até a década de 90, ao construir prédios de apartamentos para famílias, as incorporadoras incluíam a dependência de empregada rotineiramente nos projetos. Em pouco mais de dez anos, tudo mudou. O quarto e o banheiro para uso da doméstica que costumava dormir no local do trabalho estão desaparecendo junto com a própria categoria de emprego.
A dependência de empregada está restrita a empreendimentos de luxo ou alto padrão são apartamentos com preços acima de R$ 900 mil e mais de 170 metros quadrados privados.
Valorização
Além das mudanças no mercado de trabalho brasileiro, reconhecidas pela recente PEC das Domésticas, outra razão fez o "quartinho" sair de cena: o preço. Com valores médios entre R$ 4 mil a R$ 6 mil pelo metro quadrado privado de apartamentos novos em Curitiba, qualquer espaço a mais pesa no bolso do comprador.
Não à toa, a metragem média dos apartamentos vêm diminuindo na última década. O mercado de Curitiba, atualmente, tem oferta maior de unidades com dois dormitórios do que o tradicional formato com três quartos.
Escritório
Quem mora em apartamentos mais antigos aproveita o espaço da melhor forma possível. Moradora de um prédio na Rua Gonçalves Dias, no Batel, há dez anos, Mirna Caliri conta que o local destinado à empregada nunca foi usado para esse fim.
"Transformei o quartinho em escritório desde que comprei o apartamento", diz a empresária. "Eu e meus filhos usamos bastante, é um espaço bom e agradável".
Mirna personifica a mudança de hábitos das famílias brasileiras. Ela já teve empregada doméstica, mas hoje contrata somente uma faxineira. "No meu prédio todo mundo reformou a dependência de empregada. As coisas mudam mesmo, agora já tem até apartamento sem área de serviço, como em outros países."
Para poucos
Diretor geral da Brasil Brokers Galvão, Gerson Carlos da Silva acompanhou a mudança. Atuando no mercado imobiliário há quase trinta anos, o corretor confirma: só famílias abastadas mantém empregada doméstica e fazem questão de ter um ambiente para elas no imóvel.
"A classe média brasileira mudou de perfil e hábitos, por isso o mercado imobiliário está estratificado. Há nichos específicos de imóveis e projetos para determinadas faixas de renda", explica. De acordo com ele, cerca de 20% dos lançamentos em Curitiba são empreendimentos de luxo e alto padrão.
Banheiro
O percentual de trabalhadoras que dormem no emprego se reduz, mas há famílias que não abrem mão do espaço destinado a elas no apartamento. "As pessoas mantém o hábito de oferecer um local privado para a doméstica deixar suas coisas e trocar de roupa", aponta Gerson Carlos. Por isso, em imóveis de alto padrão sem dependência de empregada, o banheiro de serviço é item indispensável nos projetos.




